Depois de uma luta inglória contra o câncer, morreu nesta quarta-feira, dia 17 de abril, no Hospital Santa Helena, em Goiânia, o ator, diretor de teatro, produtor cultural, psicólogo e artista plástico Marcos Fayad. O corpo foi transladado para Catalão, terra do artista, onde foi sepultado.
Diretor da Cia. Teatral Martim Cererê, criada por ele há mais de 30 anos, Marcos Fayad era um
profissional respeitado e ídolo para vários atores que atuaram ao seu lado em dezenas de
peças e musicais. Intenso, às vezes polêmico, Marcos Fayad não media esforços para
conseguir o máximo de seu elenco. Mergulhava de cabeça em tudo o que fazia.
Fayad fixou residência em Goiânia, vindo do Rio de Janeiro, onde estudou Psicologia e estreou
no teatro nos anos 1980. Veio a convite do então secretário de Estado da Cultura Kleber
Adorno, que preparava a inauguração de dois centros culturais na capital. Inspirado no livro
Martim Cererê, de Cassiano Ricardo, Marcos Fayad batizou o Centro Cultural Martim Cererê.
Foi seu primeiro diretor, e durante cinco anos apresentou no Teatro Pyguá o espetáculo
Cabaré Goiano, um teatro de revista alegre, colorido e descontraído. Descobriu muitos
talentos e investiu neles.
Travou duras batalhas, brigou muito e driblou a falta de recursos e patrocínios para levar ao
palco espetáculos inesquecíveis como Martim Cererê, considerado um marco em sua carreira,
e pavimentou o caminho para muitas outras, como o consagrado musical Puro Brasileiro, que
ficou 20 anos em cartaz, com elencos diferentes. Seus mais recentes trabalhos foram Cara de
Bronze, baseado na obra de João Guimarães Rosa, e Cerimônia para Personagens, do russo
Daniil Kharnus, de 2017, uma experimentação moderna e diferente de tudo aquilo no qual
vinha apostando.
Levou a instigante obra do dramaturgo francês Antonin Artaud ao palco atuando como ator.
Encenou a peça Doida Varrida em curta temporada na Capelinha São José, construída dentro do Clube do Sesi Antônio Ferreira Pacheco, gentilmente cedida pelo diretor do Teatro Sesi, Teco Faleiro. Com ela, despediu-se de Artaud, por quem tinha enorme admiração, assim como o filósofo Nietzsche, sua leitura de cabeceira.
Não disfarçava o amor à terra. Adorava falar de sertão. Com rara sensibilidade, levou para o
palco a beleza do Cerrado e do homem sertanejo em peças como Voar, baseada na obra do
goiano Gil Perini, e Cerrado Celular, uma ousadia à época da encenação. Marcos apresentou a
peça debaixo de uma enorme tenda no estacionamento do Shopping Flamboyant. Recriou o
ambiente de uma fazenda com cavalos, vacas e peões para falar sobre a chegada da
modernidade do meio rural.
De Guimarães Rosa encenou Cara de Bronze, uma ode ao universo roseano com viola, bois e peões que sabem apreciar a beleza da terra. Nas suas peças, não faltavam rancho, viola, música de raiz e catira.
Exigente, carismático, genioso, vaidoso. Mas, acima de tudo, um profissional de primeira linha.
Formou uma geração inteira de atores que hoje ocupam os palcos. Gostava de música, do
canto dos pássaros, do latido dos cachorros, seus companheiros fiéis, de fazer bonsai, outra
paixão. As paredes forradas de quadros, as estantes repletas de livros. Seu mundo era assim:
com muita arte. “Arte de qualidade!”, diria com muita ênfase, pronunciando bem as palavras.
Marcos Fayad viveu de arte, e só de arte. “Não tenho emprego público nem privado. Vivo de
arte. Quero fazer o melhor”, dizia. Deixou uma obra memorável, e seu nome escrito na história
do teatro brasileiro.
[Texto atualizado no dia 18 de abril de 2019]