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Imagem: Youtube
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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 14 de novembro de 2019

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
14/11/2019 em Florações

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Cinco poemas de Francisco Alvim

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

 

[1]

Sol dos cegos

1.

No cerne do instante

nada nos vê nada vemos

não nos explica o que somos

o que seremos

Matéria sem sonhos – nítida

matéria – nele nos temos

 

2.

Sou astro, não sou estrela

meu calor não irradia –

a chama que me aquece

é fria

 

Sou astro, não sou estrela

minha luz não ilumina –

é lâmina com que me sangro

a retina

• • •

[2]

A roupa do rei

Estamos gastos sim estamos

gastos

O dia já foi pisado como devia

e de longe nosso coração

piscou na lanterna sanguínea dos automóveis

Agora os corredores nos deságuam

neste grande estuário

em que os sapatos esperam

para humildemente conduzir-nos a nossas casas

Em silêncio conversemos

 

Que fazer deste ser

sem prumo

despencado do extremo de um dia e

que o sono ainda não recolheu?

 

Não nos indaguemos

Para que indagar matéria de silêncio

Procurar a nenhuma razão que nos explique

e suavemente nos envolva

em suas turvas paredes protetoras

 

Nada de perguntas

A campânula rompeu-se

O instante nos ofusca

 

A quem sobra olhos resta ver

um ser nu a vida pouca

Só dentes e sapatos

de volta para casa

 

Nenhum passo à frente

ou atrás

De pés firmes

o corpo oscilante

neste suave embalo da mágoa

descansemos

• • •

 

[3]

Briga

Eu vou aguentar

Eu sou mais forte porque

sei que ele é mais fraco

 

Aí ele entrou no banheiro

tomou banho

e saiu de novo pra rua

 

Não se meta na minha vida

enquanto você falar pra eu não fazer

eu faço

 

Quanto mais você fala

mais eu faço

 

Saio daqui todo dia

às onze da noite

 

Não vou bater nele

se eu der um tapa

ele  cai

 

Não é justo a gente viver

eternamente se sacrificando

tem uns três anos que estou nessa

dois empregos

já operei do coração

 

Devia ser um exemplo um estímulo

Já vi que não sou

sou a derrota

 

Um dos dois tem que ficar

Quem vai cuidar dos meninos?

Se ele ficar doente

eu fico boa

 

Deus vai me ajudar

vai me dar coragem

 

O povo já fala

o homem da casa sou eu

 

Não deixa ele saber

Ele vai virar bicho

Eu não falei nada

• • •

 

[4]

Sombra

Chove nos edifícios

e na erma galeria

de esquadrias de vidro

sujo

 

Chove nos edifícios

e também em tua sombra

de bípede que palmilha

esta e mais outra trilha

 

Aquele edifício negro

na sombra amarela, imensa

assombra toda a cidade

 

A ti, não

• • •

 

[5]

Elefante

O ar de tua carne, ar escuro

anoitece pedra e vento.

Corre o enorme dentro de teu corpo

o ar externo

de céus atropelados. O firmamento,

incêndio de pilastras,

não está fora – rui por dentro.

Reverbera no escudo o brilho baço

do túrgido aríete

com que distância e tempo enfureces.

 

Teu pisar macio, dançarino,

enobrece os ventres frios,

femininos.

 

A tua volta tudo canta.

Tudo desconhece.

Perfil

Francisco Soares Alvim Neto nasceu em Araxá (MG) em 1938. Iniciou o curso de Direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mas abandonou-o por ter ingressado no Instituto Rio Branco, onde se formou. Foi nomeado secretário da representação do Brasil junto à Unesco em Paris. De 1995 a 1999, ocupou o cargo de cônsul-geral em Barcelona e, de 1999 a 2003, em Roterdã, na Holanda. Aposentou-se do Ministério das Relações Exteriores em 2008, depois de se tornar embaixador na Costa Rica. Sua carreira literária como poeta teve início em 1974, com o lançamento de Passatempo, pela coleção Frenesi, nome adotado pelo primeiro grupo da Poesia Marginal, que teve projeção na década de 1970 e foi representado por intelectuais como Roberto Schwarz, Cacaso, Chacal e Geraldo Carneiro. Em sua linguagem poética, entre outros traços, encontramos o coloquialismo, a brevidade dos versos, o humor, a espontaneidade e a veneração a Drummond. Em 2011, por ocasião do lançamento de Metro nenhum, afirmou em entrevista à Ilustrada, suplemento cultural da Folha de S. Paulo, o seguinte: “Meus livros acompanham de perto o que vou vivendo. Têm um forte lastro de minha experiência pessoal, o que não significa que se atenham a ela. Partem dela para chegar à do outro, para imaginar, sentir e pensar a do outro. Assim, penso melhor a minha. Cada período de vida marca um tempo da escrita.” Por duas vezes, recebeu o Prêmio Jabuti, em 1982 e 1989, e o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte, em 2011.

Tag's: Francisco Alvim, literatura, literatura brasileira, poesia, poesia brasileira, Poesia Marginal

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1 comentários em “Cinco poemas de Francisco Alvim”

  1. Vera Gomes disse:
    18 de novembro de 2019 às 11:21

    O artigo sobre Flaubert ficou com gosto de quero mais. Parabéns ao autor. Me encantei com a poesia cotidiana de Alvim. Parabéns Luís Araújo Pereira pela esmerada curadoria.

    Responder

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