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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 28 de junho de 2020

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
28/06/2020 em Florações

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Cinco poemas de Cassiano Ricardo

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

 

[1]

Iara, a mulher verde

Neste país de coisas em excesso

o sol me agride, o azul passa da conta.

No entanto, os poucos beijos que te peço

o teu amor futuro me desconta.

 

De tanto céu tenho a cabeça tonta.

O meu jornal é todo em verde impresso.

Só tu, a quem já um pássaro amedronta,

te fechas no mais íntimo recesso.

 

No país do excessivo, és muito pouca.

Vê a borboleta jovem, como esvoaça.

Vê como nos convida a manhã louca!

 

Por que seres assim, se tudo é assombro,

se a própria nuvem branca – e com que graça –

só falta vir pousar em nosso ombro?

Dentro da noite (1915)

⁕ ⁕ ⁕

 

[2]

Elegia para minha mãe

Só me resta agora

esta graça triste

de te haver esperado

adormecer primeiro.

 

Ouço agora o rumor

das raízes na noite,

também o das formigas

imensas, numerosas,

que estão, todas, corroendo

as rosas e as espigas.

 

Sou um ramo seco

onde duas palavras

gorjeiam. Mais nada.

E sei que já não ouves

estas vãs palavras.

Um universo espesso

dói em mim com raízes

de tristeza e alegria.

Mas só lhe vejo a face

da noite e a do  dia.

 

Não te dei o desgosto

de ter partido antes.

Não te gelei o lábio

com o frio do meu rosto.

O destino foi sábio:

entre a dor de quem parte

e a maior – de quem fica –

deu-me a que, por mais longa,

eu não quisera dar-te.

 

Que me importa saber

se por trás das estrelas

haverá outros mundos

ou se cada uma delas

é uma luz ou um charco?

O universo, em arco,

cintila, alto e complexo.

E em meio disso tudo

e de todos os sóis

diurnos, ou noturnos,

só uma coisa existe.

 

É esta graça triste

de te haver esperado

adormecer primeiro.

 

É uma lápide negra

sobre a qual, dia e noite,

brilha uma chama verde.

Um dia depois do outro (1947)

⁕ ⁕ ⁕

 

[3]

O tocador de clarineta

Quando ouvires o pássaro

cantar em frente do teu quarto,

naturalmente em vão,

               não penses

que sou eu que aí vim tocar,

               não.

 

Quando o vento disser,

ao teu ouvido de mulher,

               uma palavra

branca e fria como a cerração,

não penses que o vento fui eu,

                não.

 

Quando receberes

uma carta anônima, trazida

por secreta mão

– quem será que assim me acusa? –

eu é que não serei,

                não.

 

Quando ouvires, porém, no escuro,

a goteira caindo

sobre o triste chão, aí, então,

serei eu que estou batendo

na pedra

do teu coração.

Poemas murais (1950)

⁕ ⁕ ⁕

 

[4]

Canto incivil

Basta estar vivo

pra ser subversivo.

(Ou subservivo).

Basta não figurar

no registro civil

pra ser incivil.

(Ou vil, pra encurtar a palavra).

 

Basta ser incivil

pra não ser ninguém.

Basta não ser ninguém

pra ter o apelido

que a polícia dá

a quem não é ninguém.

 

Tinha eu dois nomes:

Zebedeu,

que a miséria me deu.

E “elemento subversivo”

que a polícia me deu.

 

E apenas uma dor:

a que a vida me deu.

 

E eis-me aqui, incivil,

(ou vil, pra encurtar a palavra).

 

Uma patada de cavalo

em meio do comício

e eis-me aqui, estendido em decúbito

dorsal.

 

(Ou já cortado ao meio,

sem dor, nem sal).

Montanha-russa (1960)

⁕ ⁕ ⁕

 

[5]

Rotação

a esfera

em torno de si mesma

me ensina a espera

a espera me ensina

             a esperança

a esperança me ensina

uma nova espera a nova

espera me ensina

de novo a esperança

            na esfera

 

a esfera

em torno de si mesma

me ensina a espera

a espera me ensina

             a esperança

a esperança me ensina

uma nova espera a nova

espera me ensina

uma nova esperança

            na esfera

 

a esfera

em torno de si mesma

me ensina a espera

a espera me ensina

             a esperança

a esperança me ensina

uma nova espera a nova

espera me ensina

uma nova esperança

            na esfera

Jeremias sem chorar (1964)

Perfil

Cassiano Ricardo Leite nasceu em São José dos Campos-SP em 26 de julho de 1895 e morreu no Rio de Janeiro em 14 de janeiro de 1974. Foi poeta, jornalista e ensaísta. Formou-se em Direito. Como jornalista, foi redator do Correio Paulistano e dirigiu A Manhã. Fundou várias revistas literárias e culturais. Ingressou em 1937 na Academia Brasileira de Letras. Em 1952, foi designado para dirigir o escritório comercial na embaixada brasileira em Paris. Após a Semana de Arte Moderna, liderou um movimento de reforma literária por meio dos grupos Verde-Amarelo e Anta, ambos de caráter nacionalista, e que reuniam intelectuais como Raul Bopp, Menotti Del Pichia e Plínio Salgado. Resumindo um trecho do ensaio de Mário Chamie, em sua Introdução aos Poemas escolhidos (Cultrix, 1965, p. 7-8), os seus primeiros livros podem ser associados ao parnasianismo e ao nacionalismo romântico. Na sua trajetória poética, porém, advirão ainda outras duas fases: uma, que abandona o imaginário cromático e assume o lirismo introspectivo, enquanto outra, mais experimental, que representa a sua vinculação com as linguagens de vanguarda. A sua obra poética compreende os seguintes livros: Dentro da noite (1915), A frauta de Pã (1917), Jardim das Hésperides (1920), A mentirosa de olhos verdes (1924), Vamos caçar papagaios (1926), Borrões de verde e amarelo (1926), Martim Cererê (1931), Deixa estar jacaré (1931), Canções da minha ternura (1930), O sangue das horas (1943), Um dia depois do outro (1947), A face perdida (1950), Poemas murais (1950), 25 sonetos (1952), O arranha-céu de vidro (1956), João torto e a fábula (1956), Poesias completas (1957), Montanha-russa (1960), A difícil manhã (1960), Jeremias sem chorar (1964), Poemas escolhidos (1965). Ao lado de sua produção poética, podem ser destacados trabalhos em prosa, entre os quais Marcha para o Oeste (1959), O homem cordial (1959) e Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda (1964). Os seus poemas foram traduzidos para diversas línguas. Alguns estudos foram dedicados à sua poesia, como Laboratório poético de Cassiano Ricardo, de Oswaldino Marques, Palavra-levantamento na poesia de Cassiano Ricardo, de Mário Chamie, e Estudos sobre a poética de Cassiano Ricardo, de Oswaldo Mariano.

 

Tag's: Cassiano Ricardo, modernismo, parnasianismo, poesia, poesia brasileira, vanguarda

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