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Foto: Sebastião Rocha Reis (Pury)
Foto: Sebastião Rocha Reis (Pury)
Foto: Sebastião Rocha Reis (Pury)

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 19 de dezembro de 2021

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
19/12/2021 em Florações

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Cinco poemas de Maria Lúcia Alvim

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

III

Em sendo mais do que sou

já não alcanço momento

que sobreleve pairou

só no que sou-pensamento;

buscara em mim padecendo

tudo que não me consinto

coisas que nunca sabendo

souberam tudo que sinto;

esbarro tão transparente

neste fundo que ficou

onde tudo passa rente

quando tão alheia estou

que percebi de repente

vida por mim que passou.

XX Sonetos (1959)

• • •


[2]

Improviso de maio

Não deixarei que o desgosto

renegue meu ser inteiro:

na superfície dos corpos

qualquer amor é o primeiro.


Se diligente, que importa

o modo frusto e incompleto:

somente as coisas do corpo

nutrem apetite certo.


Nem seria o sentimento

capaz de cristalizar

toda essa faina de afetos

da dinâmica de amar.


Tampouco sabem os meandros

incoercíveis da mente –

a conspurcar o sentido

daquilo que o corpo sente.


Farei que este amor – suposto

que a premunir-se, desperte –

seja ferido de morte

por um demônio solerte.


Induções, desvalimentos,

isentos do negro humor  

no gosto pelas soberbas

funambulices da dor.


Que a perda de amor consiste

num episódio banal:

não é a forma que imprime

com indelével sinal,


mas a volúpia que elide

rostos e corpos e instiga

à contínua vigilância

o ser que a sustenta e abriga.


De Maio aqui me despeço

– ó singular compulsão! –

as duas mãos segurando

incólume, o coração.

Coração incólume (1968)

• • •


[3]

Tímida confidência de um poema

Em tudo há um sentimento

vigilante

que procura vir à luz do dia –

raro nos é dado

saber quando

devemos acender-lhe a boca fria.

É por isso que vamos ficando

cada vez mais fechados –

covardia

ou surdo magnetismo

palpitando

entre o que fala e o que silencia.

Pose (1968)

• • •


[4]

Partitura

No juízo perfeito, fui fechando

Esta flor que se abriu, inusitada –

Rosa desfeita em brisa na calada

Da noite – quando o dia foi virando


Como um lençol sem brilho, sem que nada

Ferisse a sua fímbria, fora quando

A fúria se rendia, debruada

Entre as pregas da aurora, esvoaçando.


Então se deu a última pancada

Partida ao meio – firme, redundando,

Surda carícia, escala inacabada.


Além de toda fome, sublimada.

Superfície de veias estalando

Como a lenha madura e Consagrada.

A rosa malvada (1980)

• • •


[5]

Era uma tarde frese

Era uma tarde frese, empelicada.

Eu vinha fria e fétida, mas vinha.

Não tinha resto meu, se tudo eu tinha

Não era nome ou rosto, de onde eu vinha.


Ele me viu da branca paliçada

E veio ao meu encontro, já que eu vinha

Na mesma direção, pois que não tinha

Nenhuma outra saída, de onde eu vinha.


Paramos sobre a ponte. Promulgada

Intimava os atalhos, mais não tinha.

Ele cercava o fogo até o cerne.


E fui ganhando brilho, por um nada.

Sem que nunca soubesse de onde vinha

A ressurgir no tempo em minha carne.

Batendo pasto (2020)

Perfil

Maria Lúcia Alvim nasceu em Araxá-MG em 24 de outubro de 1932 e morreu em Juiz de Fora em 3 de fevereiro de 2021 por causa de complicações da covid-19. Na juventude, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Além da poesia, dedicou-se também às artes plásticas – a pintura e a colagem sendo os meios de expressão. Publicou os seguintes livros de poemas: XX sonetos (1959), Coração incólume (1968), Pose (1968), Romanceiro de Dona Beja (1979), A rosa malvada (1980) e Batendo pasto (2020). Em 1989, a Livraria Duas Cidades, na coleção Claro Enigma, dirigida pelo professor e escritor Augusto Massi, publicou Vivenda – 1959-1989, que reúne os seus cinco primeiros livros. Avaliando esse conjunto, Berta Waldman chama atenção para a “habilidade artesanal, apurado senso de musicalidade e plasticidade, além de um impulso de busca incessante, responsável pelos avanços e recuos do projeto poético da autora”. Irmã dos poetas Maria Ângela Alvim e Francisco Alvim (confira uma seleção dos poemas deste último em http://ermiracultura.com.br/2019/11/14/cinco-poemas-de-francisco-alvim/) tem trajetória intelectual surpreendente: deixou inédito, durante  quase 40 anos, o manuscrito Batendo pasto sob a guarda de Paulo Henriques Britto para que fosse publicado somente após a sua morte. Escrito em 1982, o livro foi publicado em 2020 pela Relicário Edições sob os cuidados de Guilherme Gontijo Flores e Ricardo Domeneck. Batendo pasto foi o vencedor do Prêmio Jabuti 2021, na categoria poesia.

Tag's: literatura mineira, Maria Lúcia Alvim, poesia, poesia brasileira, Prêmio Jabuti 2021

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