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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 29 de maio de 2022

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
29/05/2022 em Florações

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Cinco sonetos de Léo Lynce

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

Lagartixa

Do grande sol amiga e pequenina,

– alma de arqueólogo – num velho muro,

ao ver que me aproximo, a um canto escuro

corre, de onde, surpresa, me examina.


O mistério do seu viver obscuro

sondo, atento. A cabeça viperina,

num gesto indagador, ei-la que  empina,

procurando – quem sabe? – o que procuro.


O seu olhar ao meu como que fala…

Não lhe compreendo a irracional cabala;

mas qualquer coisa ao espírito cochicha


que o pequeno réptil é um visionário,

e, presa de pavor extraordinário,

supõe-me o gênio mau da lagartixa…

Ontem (1928)

• • •


[2]

Corações enfermos

Como o pai que conduz um filho doente,

levei para outro clima o coração.

Agoniava-o a febre, o mal ardente

de todo sonhador de uma ilusão.


Chegamos, como estranhos, entre a gente

do país; e, seguindo a multidão,

o pobre enfermo, já convalescente,

sentia-se tranquilo, quase são.


Mas, um dia, por mal dos meus pecados,

os nossos corações foram vizinhos

e deram de bater mais apressados.


Foi-me fatal aquele encontro, pois,

nesta senda de flores e de espinhos,

em vez de um doente, levo agora dois.

Ontem (1928)

• • •


[3]

Minha sombra

Esta sombra, que arrasto pela vida,

como um grilhão na marcha sob a luz,

há de seguir-me sempre, aos pés unida,

carregando comigo a minha cruz.


Ei-la a imitar-me os gestos, constrangida

pelo destino atroz, que nos conduz;

e, assim, vamos vivendo nesta lida

até que venha a morte – catrapuz!


E ao báratro de sombras do jazigo,

tu, minha sombra, descerás comigo,

para o descanso que também é teu.


Humilde companheira de jornada

– imagem desta vida malograda,

tu, minha sombra, foste apenas eu.

Ontem (1928)

• • •


[4]

Almira

A tarde expira.

Por entre os ramos,

a voz suspira

dos gaturamos.


Depressa, Almira!

Vem já, partamos!

De amor delira

minh’alma. Vamos!


É quase noite.

Do vento o açoite

fere o copal.


Amo-te à bessa

e tenho pressa…

etc e tal.

Romagem sentimental (1997)

• • •


[5]

Sonho feliz

Desperto. Ela sonha      

         e abraça a almofada.

Tranquila e risonha,

         no sonho enlevada.


Um beijo na fronha

         depõe apressada.

Depois, de vergonha,

         se torna corada.


Sonhando com quem ?

         eu penso, aterrado…

Meu nome, porém,


– Oh ! sonho feliz ! –

de um beijo cortado

baixinho ela diz…

Romagem sentimental (1997)

Perfil

Léo Lynce, pseudônimo de Cyllenêo Marques de Araújo Valle, nasceu em Piracanjuba-GO no dia 29 de junho de 1884 e morreu em 7 de julho de 1954 na cidade de Goiânia. Além de poeta, foi comerciante, jornalista, deputado estadual, advogado, juiz e professor da antiga Faculdade de Direito de Goiás. Em 1928, publicou Ontem, livro de poemas, considerado pela historiografia literária como o marco inaugural do Modernismo em Goiás. Em longo ensaio crítico, a professora Darcy França Denófrio aborda vários aspectos dessa obra, destacando que “Cabendo-lhe viver um momento de violenta transição, a poética de Léo Lynce se constrói num permanente conflito entre dois discursos: o tradicional e o moderno. Isto é, entre o amálgama de um discurso que é romântico-parnasiano-simbolista estigmatizado, de que no momento precisa se desfazer, e outro já acentuadamente moderno, que conscientemente procura incorporar.” Em outra parte de seu ensaio, observa que “Podemos surpreender, na obra de Léo Lynce, praticamente todas as figurações que assumiu o poeta no curso da história: possesso, gênio, artífice, livre cantor de seu canto. Não faltou nem mesmo a antevisão de nosso momento histórico em que se tenta conciliar ao máximo a razão e a emoção”, acrescentando ainda, como contraste, que  “convive em sua obra a linguagem erudita que se contrapõe à popular”.  Escreveu ainda Romagem sentimental, que deixou inédito, mas que foi publicado em Poesia quase completa [Darcy F. Denófrio (coordenadora). Goiânia: Editora da UFG. 1997]. Os sonetos selecionados para a coluna procuram ilustrar, ainda que modestamente, os contrastes de sua estética. Na sua obra sobressai a forma do soneto, e várias dessas composições ora enaltecem, ora reverenciam, às vezes de modo jocoso e irônico,  cidades e pessoas.

Tag's: Léo Lynce, literatura brasileira, modernismo brasileiro, poesia, poesia goiana

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1 comentários em “Cinco sonetos de Léo Lynce”

  1. Lisa França disse:
    29 de maio de 2022 às 17:04

    Bela seleção Luís, e belo tributo à poeta tão sensível. Obrigada pelo presente no domingo

    Responder

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