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Imagem: Jean-Claude Claeys (A Canção da Magnum)
Imagem: Jean-Claude Claeys (A Canção da Magnum)
Imagem: Jean-Claude Claeys (A Canção da Magnum)

Luís Araujo Pereira em Espirais Professor e escritor | Publicado em 7 de outubro de 2016

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
07/10/2016 em Espirais

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Programa de tevê

Cenário de literatura barata, numa esquina que abrigava uma mansão suntuosa, havia um gordo sem camisa, com uma barriga enorme debruçada sobre um short xadrez, assistindo sozinho a um programa de tevê, sentado num sofá de couro marrom. Ele estava numa sala que era iluminada por janelões e sentia-se como um animal fora da jaula.

O homem bebia cerveja e arrotava de tempo em tempo, mas não tirava os olhos da Glock que repousava ao seu lado, presente de um mafioso descolado no dia em que comemorara 40 anos. Porque respeitava a sua letalidade adormecida, a pistola era tratada com o máximo de carinho, como se fosse um bichinho de estimação.

“Uma arma para os homens de verdade e verdadeiramente maus” − comentara o bróder com ênfase, no momento em que a sobrepesava com alegria na sua mão direita − e a entregava solenemente.

Ele alugara a casa em que estava instalado, fingindo ser um vizinho respeitável. Quando era necessário, cumprimentava o jovem casal da frente, ao mesmo tempo em que sorria para o advogado Meireles, a família que morava um pouco mais adiante na mesma rua.

O seu alvo, porém, estava localizado numa rua no final do grande condomínio, com acesso meio complicado, tanto para invadir como para evadir. Passagens estreitas, cães nervosos, luz em demasia, muros altos, cercas elétricas − reconhecia, com temor −, a missão não seria para escoteiros.

Desse modo, fingir não era a sua maior dificuldade; muito mais difícil para ele tinha sido estudar, nas últimas semanas, o plano que, mais dia menos dia, teria de executar com a precisão de um relógio.

Dez mil dólares não fora o preço ajustado? Por esse valor, como bem sabia, segundo as suas necessidades prementes, seria capaz de alugar a casa suspensa de Tarzan e, se fosse o caso, dividir a esteira com a gostosa Jane, sempre vestida em trajes sumários.

Na primeira vez em que prestou um pouco de atenção ao programa da tevê, viu o meia do Flamengo driblar três marcadores e, diante do goleiro, inventar uma finta de corpo, desequilibrando-o, e, por isso, marcar um gol de placa, desses que rendem comentários intermináveis nas páginas de esporte.

Com todos os clichês previsíveis, o narrador berrou o golaço, como se estivesse diante de uma peleja épica, o que atraiu mais ainda a atenção do pistoleiro.

Nas repetições do lance, o comentarista enaltecia a proeza do atacante, descrevendo, sem se dar conta, uma estratégia de ataque.

Tendo uma espécie de epifania, numa sinapse incomum que o seu cérebro executou naquele momento, ele descobriu o modo pelo qual deveria fazer a invasão e realizar o atentado.

“Tendo uma espécie de epifania,  ele descobriu o modo pelo qual deveria fazer a invasão e realizar o atentado”

E daí, com base nessa inspiração, bastavam dois tiros, apenas dois, para que a Glock estreasse em grande estilo.

Ao repassar o seu plano, agora bem delineado em sua mente, ele sorriu, arrotou mais uma vez, bebeu uma golada de cerveja −  e pensou, o que não era muito de seu feitio:

“Quem diria!, a minha estratégia estava na frente da tevê…” −  e riu consigo mesmo e bebeu mais cerveja, outra golada, num êxtase repleto de autoconfiança.

Em seguida, alisou a arma, como se ela fosse um gatinho ronronando em sono inocente ao seu lado.

(De Adeus, Dog, livro de contos inédito)

Tag's: conto, literatura policial, Luís Araujo Pereira

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1 comentários em “Programa de tevê”

  1. Josef Bittar disse:
    8 de outubro de 2016 às 21:44

    Ótimo conto. Intrigante a presunção do pistoleiro ingênuo. Muito bom mesmo. Aguardo ansiosamente pelo lançamento do livro.

    Responder

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