As Congadas de Catalão estão comemorando 140 anos de existência e ERMIRA traz para você um ensaio fotográfico exclusivo de Enio Tavares. Rostos, cores, expressões e manifestações de fé compõem esta que é uma das festas populares mais tradicionais do Estado e que revela todo o sincretismo de nosso povo.
Meus amigos sabem, tenho inclinação para as artes, mas dança definitivamente não é uma delas. De articulações endurecidas e músculos retesados pelo tempo, e também pela falta de molejo natural, nunca sou visto dançando em qualquer situação. Nem para remédio. Sou tão ruim nisso que me proíbo conscientemente e inconscientemente de me apresentar em público. Não acho justo ninguém ser obrigado a presenciar espetáculo tão grotesco. Mas…
Durante as Congadas não deu, me rendi, mesmo sem querer. Enquanto me esgueirava por ruas de subidas e descidas íngremes, nas duas oportunidades que estive em Catalão para fotografar a festa, vez por outra me via dando passos desritmados — dois para um lado, um para o outro, quatro pra frente e dois pra trás —, embalado pelo som dos tamborins, cuícas, reco-recos, pandeiros, caixas e sanfonas.
O som pesado dos tambores, que começa na aurora e segue pelo resto do dia até o anoitecer, é contagiante. Me contagiou a ponto de me fazer ensaiar um arremedo de dança. A sorte, minha, dos foliões e de quem acompanhava a procissão dos ternos foi que a multidão ajudou a esconder minha empolgação. Consciente de que a dança não é mesmo minha praia, tentei compensar com a fotografia. Espero que as fotos agradem mais que minha malemolência.
Esta é uma tradição trazida da África pelos escravos que, primeiramente, foram levados para trabalhar na exploração do ouro em Minas Gerais e, depois, chegaram a Goiás com o mesmo objetivo. A essa manifestação africana foram incorporados, no decorrer do tempo, elementos da cultura portuguesa e, posteriormente, a mistura que caracteriza a religiosidade brasileira.
As Congadas de Catalão — comemorada geralmente no mês de outubro, durante a festa de Nossa Senhora do Rosário, misturando o religioso e o profano — têm como ponto alto a coroação do rei do Congo.
O sincretismo religioso é uma das marcas do evento. Figuras de santos e de Nossa Senhora ganharam destaque nas Congadas, ao lado de expressões tipicamente africanas, não deixando morrer sua origem.
Antes apenas os negros podiam participar das Congadas, uma barreira que foi aos poucos sendo derrubada. Ainda que existam muitas pessoas brancas integradas à festa, os ternos de congo ainda são formados, predominantemente, por descendentes da africanos.
A tradição se renova com as gerações mais jovens que, ao seu modo, também são incorporadas à festa. Há família que participam das Congadas de Catalão há décadas, não deixando sumir essa ligação de sangue com o evento.
Os instrumentos e a indumentária são essenciais para que a Congadas permaneçam sendo o que são. Os trajes de gala e os tambores estilizados não são meros detalhes e sim parte da essência da festa.
O sorriso no rosto dos participantes demonstra o prazer em fazer as Congadas de Catalão não só sobreviverem, mas se expandirem. Atualmente, mais de 4.500 congadeiros tomam as ruas da cidade em louvor à Nossa Senhora da Piedade.
A beleza plástica, o colorido das fitas e os retumbar dos tambores fazem das Congadas de Catalão um verdadeiro patrimônio cultural goiano e nacional. Elas estão entre as maiores congadas do Brasil.
Excelente matéria, pena não atribuírem os autores ao texto e as – belíssimas – fotografias.
Cara Juliana, as fotos estão creditadas ao fotógrafo Enio Tavares como se pode ver na assinatura da coluna e no texto de abertura do ensaio.