Imponente, bela, única. Muitos são os adjetivos que se pode dar à Catedral de Notre-Dame de Paris e, ainda que reuníssemos todos, não conseguiríamos expressar sua grandeza, sua importância, seu legado histórico. Localizada na Île da la Cité (Ilha da Cidade), na Praça Paris, a construção marca o local onde a capital francesa nasceu. E a construção gótica, deste ponto, viu o mundo mudar algumas vezes, revoluções acontecerem, guerras começarem e terminarem, gerações surgirem e desaparecerem. Agora a velha igreja, uma das mais emblemáticas do mundo, sofre seu maior baque. O incêndio que destruiu boa parte do monumento é o mais duro golpe já sofrido por esta velha senhora de 856 anos de idade.
Levarão anos até que o governo francês e instituições internacionais consigam reerguer essa gigante, detalhadamente esculpida em ardósia e que por séculos guardou relíquias do cristianismo e tesouros da arte. Até lá, quando pudermos voltar a nos deslumbrar com sua beleza, teremos que nos contentar com as muitas lembranças e sensações que a Notre-Dame deixou em quem teve a oportunidade de conhecê-la um dia. Ermira, neste ensaio fotográfico especial, traz alguns desses registros, em diferentes momentos, para lembrar da beleza e da permanência desta que é uma das mais lindas obras-primas que a humanidade conseguiu produzir nos últimos séculos.
Fotos: Rogério Borges
A Catedral de Notre-Dame é a mais famosa construção religiosa em estilo gótico do mundo. Dedicada à Virgem Maria, ela demorou cerca de 180 anos para ser concluída. As obras começaram em 1163 e só terminaram em 1345. Em 2013, Paris dedicou praticamente todo um ano para comemorar os 850 anos da igreja.
A Notre-Dame é o monumento público mais visitado de toda a Europa. Por ano, mais de 13 milhões de turistas vão ao local conhecer a igreja, entrando em sua nave central ou subindo em suas torres. Havia visitas guiadas e nos anos 1980 o complexo ganhou uma nova atração, com a abertura ao público da cripta da igreja.
A nave central da igreja, que pode abrigar até 6 mil pessoas ao mesmo tempo, é uma obra impressionante da arquitetura medieval. Com cerca de duas centenas de metros de comprimento e 35 metros altura, ela é formada por arcos sequenciais, esculpidos nos mínimos detalhes, dando um ar ainda mais imponente à construção.
Um dos grandes charmes da igreja é o fato de ela estar situada nas margens do Rio Sena, no coração de Paris. Quem passeia de barco pelo rio tem a chance de passar bem próximo à sua lateral. A parte que dá para o rio conta com alamedas arborizadas. Nos fundos da Notre-Dame há um bosque muito usado pelos parisienses, que homenageia o papa João XXIII, e uma estátua de outro papa, João Paulo II. Há ainda um monumento que lembra os mortos em campos de concentração nazistas e deportados franceses durante a Segunda Guerra Mundial.
Quando se olhava lateralmente a construção era possível ver com maior clareza o pináculo de 90 metros de altura do templo, que infelizmente desabou no incêndio. Chamado pelos franceses de A Flecha, a construção foi acrescentada ao conjunto arquitetônico da Notre-Dame no século 19, substituindo um outro mais antigo, mas não era tão bonito. A Flecha era feita, sobretudo, com madeira, em comunhão com o telhado da igreja, exibia vitrais próprios.
Os vitrais da Notre-Dame são atrações à parte. Mesmo tendo sido erguida no auge da Idade Média, quando se queria imprimir certo temor nos fiéis apostando em um ar fúnebre e tenebroso nos templos, a construção ganhou vitrais para ajudar na iluminação interna. Na verdade, ganhou obras de arte, esculpidas por mestres vidraceiros e artistas de renome da época. Rosáceas e passagens bíblicas formam um conjunto de vitrais único no mundo.
Das pontes de Paris é possível ter panoramas belíssimos da catedral. Na Pont des Arts, ou a Ponte dos Namorados, onde é tradição deixar cadeados pendurados como símbolo dos vínculos amorosos entre os casais, a Notre-Dame ajuda a compor o cenário romântico. Não é à toa que Paris é a capital dos apaixonados e a imponente igreja ajudou a criar essa imagem para o mundo.
Dentro e fora da Notre-Dame, a decoração remete a símbolos antigos da fé católica. Ao mesmo tempo que há altares lindos, imagens belíssimas e colunas que dão vertigem de tão altas em seu interior, na parte externa, nos telhados da igreja e em suas quinas, gárgulas e figuras demoníacas lançam olhares ameaçadores para a multidão lá embaixo. Recentemente, velhas estátuas de bronze, representando os apóstolos, foram retiradas do complexo para um trabalho de restauração.
Não há monumento em Paris que imponha mais respeito que a Notre-Dame. E olha que a concorrência é dura, afinal estamos falando da cidade onde estão a Torre Eiffel e o Museu do Louvre. Mas, por sua antiguidade e arquitetura grandiosa, a igreja supera os rivais. Há ainda um simbolismo artístico e de mistério em torno da construção. Isso explica por que suas torres, cada qual com 69 metros de altura e nas quais era possível subir por uma escadaria com 387 degraus, foram cenário para um clássico da literatura, O Corcunda de Notre-Dame, do escritor francês Victor Hugo.
Nas portas ricamente esculpidas e decoradas da igreja, é muito comum avistar casais de noivos tirando fotos para seus álbuns. A Notre-Dame é um dos cenários mais fotografados do planeta, inclusive por quem está prestes a subir no altar. Claro que a maior parte das cerimônias não se dava em seu interior, mas ter uma imagem com a imponente igreja ao fundo já era suficiente para milhares de casais.
Todos os caminhos de Paris levam a Notre-Dame. Ela é o grande ponto de referência da metrópole. Em torno dela, a cidade se expandiu e se modernizou no decorrer dos últimos oito séculos. Localizada entre o efervescente Quartier Latin e o charmoso Marrais, vizinha da Île de Saint-Louis e não muito longe do Louvre e dos Jardins das Tuileries, ela está no entroncamento das maiores linhas de metrô e no itinerário para os mais procurados pontos turísticos da capital francesa. É impossível falar de Paris sem lembrar, imediatamente, de sua catedral maior.
As torres gêmeas da fachada da Notre-Dame viram a História passar aos seus pés. Desde o início de sua construção, por ordem do bispo de Paris, Maurice de Sully, foram coroados na igreja 30 reis franceses, além de alguns monarcas estrangeiros, como Henrique VI, da Inglaterra, e Maria da Escócia. Sua nave também sediou a coroação do imperador Napoleão Bonaparte. Durante a Revolução Francesa, ela foi “descristianizada”, deixando oficialmente de ser uma igreja para ganhar o nome de “templo da razão”. Nas duas grandes guerras mundiais do século 20, não sofreu maiores danos, mas viu Hitler ocupar Paris. Uma verdadeira testemunha ocular da História.