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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 29 de dezembro de 2024

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
29/12/2024 em Florações

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Cinco poemas de Maria do Carmo Ferreira

[Curadoria de Luís Araujo Pereira; seleção e texto de Miguel Jubé]

[1]

Deixe o meu endereço no seu coração gravado

[para Malva Barros Oliveira]

Retire o meu nome do meio dos outros

a quem você tortura

com esses blocos de granito

na vã esperança de veicular a beleza

pela cor, som, figura e outras amenidades

como se conseguisse maquiar a natureza,

tornar verde a azeitona, e verde um pé de alface.


Retire o meu nome da lista pesada

que barra sua caixa de saída

e trava minha caixa de entrada.

Deixe para os incréus as asas da esperança,

o louva-a-deus de mãos postas,

a formatação, a fonte

de onde não jorra a água viva que a sede estanca

e está contida no âmago da palavra,

não nessa rede de intrigas, nessa internet vedete,

que para vender seu peixe lança mão de expedientes

e joga pesado, mesmo se a podridão já se adianta.


Deixe meu endereço apenas no coração.

Lance mão dele quando estiver sem mãos.

Conte com ele para o dia a dia

da beleza intransmissível

da alegria de um abraço, do beijo doce de um filho

e abuse dele à vontade

para dizer só com palavras

que entrou em erupção o seu vulcão em lavas

de fogo demolidor, e que um fósforo aceso e desprezado

queimou quilômetros da mata virgem

em que você jamais havia penetrado.


Deixe o meu endereço no seu coração guardado

porque haverá ocasião

em que ele sairá do peito para ficar do seu lado,

mesmo calado, mesmo esperando

que se transmutem o tempo e as estações

e novos céus e novas terras já se abracem

para falar de amor às multidões.

Cave Carmen (2024)

***

[2]

Rimbaud et l’air

[para Fabrício Marques, com quem condivido este poema, pelo toque & pelo mote]

Poeta sou,

mas

pelo avesso

chegado ao extremo:

não faço versos.


Verti ao olho

& al dente

uma estação no inferno.


Não vou nessa de Dante:

é sem acompanhante

que trafego


pelas profundas de mim mesmo.

Cave Carmen (2024)

***

[3]

Balanço, afinal

[dedicado a Silvana Guimarães]

Não sou a palmatória deste mundo caduco.

Não sou Bauducco, panetone.

Minhas mãos não batem palmas

nem amassam o sweet sour food com o suor do meu rosto.


Toda causa em que creio, antes de crer, abraço-a

e, depois, tome polca.


Do mundo, esse virtual, já tiro o time.

Não adentrei o outro a que resisto

e, insistem, existe,

no qual passeio ao longo e ao largo a minha história.


Nem sei mesmo se sou, por mais que uma expertise

me perguntasse atônita: a essa altura?

Sinto vertigens, visse?

Tresando. Rastejei.


Não a troco do pão de cada dia,

vindo sempre em maná, de cambulhada.

Gosto insosso.


Coleando, cobra-d’água, sem bolsa de veneno

e sem defesa.

E, mais ou menos, sem água.


Sigo em frente. O mundo é grande e pequeno,

disse o mestre ao que desse

em sua lição de coisas.

Cumpro sem alegria o meu dever.

Vagamundeio outras galáxias.

Há mundos paralelos.

E tudo por fazer.

Cave Carmen (2024)

***

[4]

Racial

o preto e a branca

a branca por cima


para o americano


o branco e a china

o branco por cima


para o americano


o branco e a chicana

em baixa na cama


para o americano


e a verde retina

da brasilatina:


por baixo ou por cima?


preposicionando-se…

Coram populo (2024)

***

[5]

Hard-heart

Não nos conhecemos,

mas em altas horas

alçamos o voo

no globo da morte

(inter/intra/nautas)

de acordados sonhos

e assuntos em pauta

nos fios da web.


E é como se fôramos

amigas de infância

na mesma cidade

onde temos casas

que não enclausuram

a necessidade

de tecermos juntas

as malhas da web.


Como se gaivotas

sobrevoando mundos

em outras memórias

que da estratosfera

abrangessem tudo

desse azul profundo

(rasante mergulho)

nos mares da web.


Hard-heart, o nosso,

rijo das batalhas

que nada têm hoje

de corsos, confetes

e lança-perfume

salvo as serpentinas

(braças quilométricas)

de fluidos & luzes:


por dentro da web.

Quantum satis (2024)

Maria do Carmo Ferreira, Carminha, nasceu em Cataguases (MG), em 21 de dezembro de 1938. Aos 14 anos, tornou-se poeta por excesso de amor. Morou em Belo Horizonte, São Paulo, radicou-se no Rio de Janeiro por mais de duas décadas e, finalmente, mudou-se para Niterói (RJ). De 1969 a 1973, viveu dois anos na Europa e dois nos Estados Unidos, cursando mestrado em Literatura Comparada. Lecionou língua e literatura brasileira no Colégio dos Graduados, Universidade de Illinois. Aposentou-se da Rádio MEC, onde serviu por 30 anos como criadora, tradutora, redatora, produtora e coordenadora de programas literários e literomusicais. Sua estreia autoral se dá aos 85 anos de idade, nos três livros que compõem sua Poesia reunida [1966-2009] – Cave Carmen, Coram populo e Quantum satis –, com organização de Fabrício Marques e Silvana Guimarães e publicada pela martelo casa editorial em novembro de 2024.  Uma poesia absurda, lírica sagaz e violenta, que se deixa construir pelas sugestões do coração e da linguagem, no palpitar que não se deixa seccionar forma de conteúdo. Realmente, “uma coisa o caso dessa moça”.

Tag's: Maria do Carmo Ferreira, martelo casa editorial, poesia, poesia brasileira

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