Os quatro homens estavam bebendo e jogando baralho. Acomodados num canto da sala, sob a iluminação de uma luz mirrada que descia do alto obliquamente, sugeriam uma composição barroca, esses quatro homens sentados de modo displicente.
Eles bebiam cerveja alternando-a com goles de cachaça, o que dá fogueira com pouco graveto e coragem aos que têm nervos em frangalhos.
A casa em que estavam era simples – não tinha varanda, não tinha alpendre, não tinha nada de especial: era apenas uma casa de subúrbio, com uma frondosa mangueira ao lado da cerca de arame.
Um carro estava estacionado debaixo da árvore.
O grandalhão acendeu um cigarro. Em seguida, anunciou – a voz tenebrosa, que parecia regurgitar do esgoto:
“Hoje, eu acabo com a raça dele!”
Os três ouviram o que ele disse, sem contestações e acréscimos, e fingiram rir com as suas vozinhas de rato. Ali, ninguém era surdo – e todos entenderam o recado: os primeiros tiros seriam desferidos por ele, da forma como gostava de fazer as suas execuções, para que a sua fama corresse mundo.
Cada um, sem discordar da decisão, pegou a sua arma, enquanto o grandalhão conferia o fuzil. Eles eram os piores malfeitores que um cristão poderia encontrar na noite de Natal.
Após a bebedeira, os quatro dirigiram-se para o carro. O homem feroz assumiu o volante. Depois de terem atravessado a cidade, chegaram ao lugar, a vários quilômetros de onde vieram.
“É por aqui.”
O bairro onde se encontravam era um conjunto residencial, daqueles cujas casas são todas iguais, monótonas e magras, espalhadas por um terreno plano, sem árvores, sem praças, sem serviço público – sem porra nenhuma.
O gueto dos deserdados. A caridade da política urbana praticada por demagogos.
A rua onde tinham estacionado o veículo era comprida; as casas, porém, naquela parte, se esparsavam. Havia um poste com a lâmpada acesa. Eles andaram em direção à última residência.
“O matadouro é logo ali”, disse o homenzarrão – um risinho de deboche escapando pelos dentes ruins.
A noite não prometia grande coisa, nem para quem dormia, nem para quem estava acordado. Assim, fiquemos apenas com o escuro – este que não esconde completamente as formas, mas surpreende mais do que as trevas. Este é o escuro mais denso, que nos submerge pela sua tonalidade indefinida, dentro do qual todas as almas vagam perdidas, e os sonhos flutuam a esmo.
Os quatro homens finalmente pararam diante da casa silenciosa, afundada em sombras. O líder fez um gesto de atenção e exclamou:
“É agora – o carimbo!”
E todos eles atiraram em várias direções, estilhaçando o vidro das janelas, tirando lascas da porta de madeira vagabunda e perfurando a argamassa débil. Em seguida, após esse cartão de visita, invadiram a casa.
“Cadê o miserável?”, berrou o grandalhão, agora colérico, ao mesmo tempo em que avançava pelos poucos cômodos.
A casa estava deserta – apenas móveis toscos e baratos, todos perfurados, ocupavam o interior.
Para confirmar que eram mesmo maus, eles quebraram tudo o que ainda estava inteiro. Nem o gato escapou, porque a fresta era pequena, e o bichano estava meio gordo. Babando de ódio, o marmanjão de um metro e noventa, a barrigona peluda brigando com os botões da camisa, emitiu um lamento:
“Mais dia, menos dia, esse desgraçado cai na minha ratoeira!”.
E os quatro homens saíram pela noite, a enzima da maldade correndo desvairadamente pelo sangue, como se, mais adiante, o Diabo os esperasse para mais uma bandalheira.