Ando implicando com a mania da Academia sobre o conceito da contemporaneidade. Palavra feia sô, por que não escrevem contemporâneo? Mais bonito, igualmente efêmero.
Na espiral cotidiana das informações que se multiplicam, seria o caso de assinalar que a visão contemporânea está em estado terminal? Eis que sofre majoritariamente de antropocentrismo – grande ingenuidade num planeta agonizante – ou alguma outra miopia epistemológica reducionista.
A mim parece que, ao passo que o mundo traz inovação e novas gerações, tanto se aprende quanto se esquece. Cada vez mais tudo que é sólido desmancha-se no ar.
Em meio ao vendaval das notícias, vem uma nova geração – que, segundo dizem, lê apenas as manchetes, como outro dia li na ombudswoman da Folha – a perder o hábito de ler, apesar de viver o agora, a juventude, o risco, a atividade ou o estado de nem nem, no meio da tempestade.
Três hábitos ou mentalidades me saltam aos olhos.
Primeiro, logo após movimentos de polegares, não analisam se a informação é apócrifa, e muitos se fiam nelas, antes de esquecê-las como fonte; segundo, acreditam e são ensinados que toda a imprensa é suspeita ou golpista ou eivada de outras intenções inconfessáveis – o que seria um quase bom conselho não legitimasse a desatenção na amplitude de fontes e o desrespeito ao trabalho sério; terceiro, vivem na era do maniqueísmo do “absoluto”, isto é, uns estariam absolutamente certos, outros absolutamente errados. Esquerda e direita, nós e eles, ambientalistas e ruralistas, índio e branco, comunistas e capitalistas, simpatizantes e valentões. Para uns e outros, o que vale é o seu messias, religioso, acadêmico, político.
O que houve com a síntese? Não seria o caso de, dadas as ameaças, aumentar o estudo? Por que o país abandona a educação mínima das minguadas bolsas de pesquisa?
Pior ainda é isso de se perseguir a opinião alheia. O que não se pode é disseminar o ódio.
A propósito, esse negócio de dizer que algo relativo, como um direito, é absoluto (dizem que foi Locke e é até hoje usado pelos anglo-saxões) é hoje considerado por alguns como um motor cartesiano original de destruição do Planeta. Penso que, se a propriedade fosse absoluta, não haveria impostos. O que não se entenda como carta branca para o Leviatã.
E que dizer dos efeitos da certeza messiânica judaico-cristã, do eurocentrismo da cruz e espada, do imperialismo ecológico sobre as terras do Novo Mundo e da velha África?
No meio disso está a zona cinza. Mentem de todos os modos, escreveria o Padre Antonio Vieira. E os políticos, com honrosas exceções (oxalá tornem-se norma), de olho nas tetas, alimentam o mundo partido dos partidos. Sem nunca responsabilizarem-se.
Não custa repetir, o Buda já ensinou o caminho do meio. Outros mestres igualmente, afastando os extremismos.
Explico: sou a favor do Estado regulador, não empresário; necessário, não mínimo ou máximo; servidor e não patrão; indutor das boas práticas neste século 21. O que não acredito é nas manadas sem critério pisoteando o povo, a liberdade e a natureza. Seja qual for a ideologia. Nenhum homem é uma ilha, escreveu o poeta místico.
Já faz tempo ensinam a examinar os pesquisadores de ponta: a quem beneficiam as políticas públicas? Em detrimento de quem? Pode ser um exame de humildade ideológica.
Tendo em vista este cenário, como então convencer alguém a devotar-se, mesmo que sob a perspectiva humana, a um pensamento ecocêntrico em um Planeta interdependente?
Por ora, bastaria sugerir a alteridade de se considerar com desapego o argumento dos que pensam diferente. Sem necessariamente concordar ou cometer atos de leniência. Há muitos pontos de vista legítimos.
E para não dizer que não falei de flores: as florestas ora queimadas valem incalculavelmente mais em pé do que derrubadas para o pasto. Há que se restringir a pecuária extensiva na Amazônia. Cada região com sua interação produtiva. Qual a vocação amazônica? Eis um estudo sério do pesquisador da USP Ricardo Abramovay.
É tarde, mas ainda há tempo. Tem muita gente boa por aí. Amanhã, nasce um novo dia.