Como era de se esperar, as mães carregam os seus bebês em carrinhos ou nos braços, aproveitando o sol do domingo e a calma da praça. São várias mães como são vários os bebês. Os meninos, ou aquilo que socialmente eles se tornarão um dia, segundo a sua educação, são identificados normalmente pela cor das roupinhas, que é sempre azul. Da mesma forma, as meninas são reconhecidas, graças ainda a essa convenção, também pelas roupinhas cuja cor é sempre rosa. O estereótipo sobressai: para cada gênero, uma cor.
Inúmeras são as mães que se conhecem, cumprimentam-se e exibem felizes, umas às outras, os seus rebentos. Uma diz: “Puxa, como ele está gordo e esperto!” Outra exclama: “Parece tanto com você!” Outra informa: “Vacinei-o ontem.” Outra fala ainda: “Arranjei uma babá para ficar com ele à tarde.” Outra e mais outra e mais outra dizem coisas significativas a respeito da vida dos bebês, e quase todas são experientes e têm ensinamentos, conselhos e orientações para dar às mães mais novas. A maternidade transparece nesse teatro.
Elas falam sempre ao mesmo tempo, em grupos, de duas em duas, ou falam apenas com os seus bebês, o que não é estranho, pois, mesmo que ainda não consigam responder, os bebês são tratados dessa maneira. As crianças maiores e que, por essa razão, não são mais de colo, sobretudo as meninas, acompanham os recém-nascidos e, às vezes, fazem improvisadamente o papel das mães, empurrando o carrinho ou segurando desajeitadas e alegres, sob o olhar vigilante destas, os bebês, que tanto pode ser o irmão, o primo ou apenas o centro de admiração dessas garotinhas. Nesse momento, uma mãe diz: “Não aperte tanto ele.” Outra, mais adiante, acode a sua cria e, cheia de cuidados, arrebata-a dos braços da menina. Depois, se não acontece nenhum incidente, como a queda repentina de um bebê, todas começam a andar em círculo pela praça, ora parando e cumprimentando a vizinha, ora destampando a manta que cobre o neném para este receber sol ou, ao contrário, ora tampando-o porque o sol está muito quente, ora trocando a sua fralda, ora executando uma pequena dança com ele.
Muitas trazem consigo mamadeiras que, à hora programada ou porque eles choram, dão aos seus bebês, que sugam o alimento com apetite e graça. As mães então, nesse momento, sorriem enternecidas por esse ato de amor comum e necessário à vida dos bebês. Essa transmissão de afeto e energia é contemplada ainda por outras mães que se admiram da vitalidade ou da voracidade que os pequerruchos, conforme a idade, demonstram de mamadeira para mamadeira.
É comum ainda cada mãe sonhar o futuro de seus filhos como se eles, a partir do instante em que nascessem, tivessem um destino prefixado a atingir. Alguns pais, porque têm outros compromissos ou menos interesse, esquivam-se como podem da tarefa de cuidar dos filhos, ao passo que outros, identificando-se com o papel das mães, acompanham-nas no passeio pela praça, mas com menos trabalho e dedicação. Nessa ocasião, levam consigo jornais ou revistas e, na virada de uma página, lançam olhares ora à mãe ora ao bebê, fazendo algum comentário ou, em seguida, ajudando-a a segurar o rebento ou, ainda, empurrando o carrinho. A leitura do jornal, nesse caso, como é óbvio, é deixada de lado. Os filhotes sorriem, dormem ou choram, e não é raro todos chorarem ao mesmo tempo. Nessa hora, as mães cantam alguma canção em murmúrios ou acalentam o chorão com ternura, procurando fazê-lo dormir ou acalmar-se.
As mães se parecem, e todas têm algo em comum, como se existisse um saber universal circulando entre elas, aprendido e transmitido de mulher para mulher, de mãe para filha, de cultura para cultura, consciente e natural. Para isso, atendendo a essa expectativa, existem livros, produtos e diversas especialidades dedicadas à vida dos bebês e à preparação das mães.
A praça é o lugar preferido por elas porque tem árvores, flores, bancos e jardins. Tudo isso combinado com o domingo, que é um dia monótono e tranquilo, no qual as pessoas se dedicam mais à família, aos encontros, enfim, a tudo aquilo que forma o conjunto dos hábitos familiares, fragmentado durante os dias da semana – tudo isso, então, leva as mães, acompanhadas ou não dos pais, a passearem com os seus bebês pela manhã de domingo, que é o momento preferido por elas para colocarem os seus filhos em contato com o exterior.
O domingo faz as mães e os bebês mais felizes porque cada um convive mais longamente com o outro. Os bebês são mais beneficiados, portanto, com afagos, e as mães sentem-se melhor realizadas no seu dever para com eles. E pode ser que um deles adoeça de repente, sem mais nem menos, como é previsível. Nessas circunstâncias, tão deploráveis, as mães assumem então um ar trágico e se julgam responsáveis, sofridas e inconformadas, ocorrendo casos de acusação aos maridos, por serem negligentes e desinteressados. Confrontando-as, estes agem da mesma forma, atribuindo-lhes inteira responsabilidade, visto que, segundo eles, mãe foi feita para cuidar do filho ou, dizendo de outro modo, lugar de mãe é ao lado do filho – como pensa a maioria dos pais, repetindo um senso comum completamente desvantajoso para as mães.
Assim, a vida de um casal é apenas uma variante da vida de outros casais, e a cidade está repleta de famílias que procuram se imitar ou imitam um modelo de relações preexistentes. Um antes que, na história da família, remete a outros antes, mais degradados.
As mães sentem-se recompensadas e felizes e raras são aquelas que não se emocionam quando os seus bebês conseguem articular a palavra “mamãe”. Como era de se esperar, esse fato provoca comemoração e, em muitas outras situações, diante de visitas ou parentes, é novamente apreciado e tenta-se fazer mais uma vez os bebês pronunciarem “ma-mã-e”.
Os bebês crescem sob a influência de diversos estímulos, jogos, brinquedos e músicas e, de acordo com as aptidões de cada um, reveladas nesses instantes, as mães já escolhem uma profissão para eles ou identificam um caráter, uma habilidade, um talento, um dom. Sem contar os aniversários, batizados, crismas, fotografias do primeiro sorriso ou do primeiro sorriso com dentinho, do ato de engatinhar, dos primeiros passos e outros comportamentos, os bebês têm uma vida superprotegida, orientada e zelosamente vigiada. Até o momento em que vão para creches, escolas maternais ou jardins de infância, eles são muito dependentes, causam problemas, preocupação – e tudo isto é um fato banal e corriqueiro na vida dos pais. Como consequência da vida moderna, os casais hoje, porém, adiam ou evitam a produção de filhos.
E finalmente chega o dia em que as mães colocam os seus ex-bebês no centro de uma sala, rodeados de visitas – e os fazem tocar um instrumento, declamarem, cantarem ou narrarem uma anedota. Nesses eventos, são aplaudidos, adorados e elogiados. De outra forma, as mães sentam-se com essas mesmas pessoas – de preferência tias, avós e comadres – e mostram-lhes, entre nostálgicas e solitárias, o álbum de fotos da primeira idade de seus antigos bebês, que agora estão em outra fase de crescimento.
Assim, como era de se esperar, as mães passeiam com os seus filhos pela praça e esperam que eles cresçam fortes e sadios, inteligentes e bonitos. Se há ameaça de chuva ou se o tempo esfria de repente, numa súbita inversão atmosférica, elas correm apressadas com eles para o ninho.
Os bebês ganham muitos presentes, e diversificada é a linha industrial de brinquedos para crianças. Quando um bebê morre, o que é muito triste e inconsolável, é costume dizer: “Um anjinho subiu ao céu”, isto se ele for batizado. Entre todas as famílias, os bebês são o centro das atenções até que cheguem novos bebês e os substituam.
A praça começa a se esvaziar porque é hora do almoço. As mães, despedindo-se umas das outras, conduzem os seus filhotes para casa, atravessando com todo o cuidado a rua. Uma diz: “Vamos, meu tesouro, mamãe vai fazer agora sopinha pra você.” Outra fala: “Depois do passeio, o neném agora vai nanar.” Outra e mais outra e outras tantas, como era de se esperar, dizem frases carinhosas e gentis, enquanto os seus bebês, às vezes risonhos, às vezes sonolentos, são conduzidos para a tarde de domingo e o conforto de seus berços.