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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
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Luís Araujo Pereira em Errâncias Professor e escritor | Publicado em 5 de julho de 2016

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
05/07/2016 em Errâncias

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Uma esquina de Paris

Nos anos em que vivi em Paris, morei na Thouin, uma rua bem curtinha e graciosa, próxima ao Panthéon e ao Jardin des Plantes, sem mencionar ainda que, para o meu gáudio, logo depois de algumas quadras, eu encontrava os portões do Jardin du Luxembourg ? um parque para os dias ensolarados e a alegria dos passarinhos ? e a azáfama do boulevard Saint-Michel.

Por causa de seu nanismo, a Thouin era localizada nos mapas com certa dificuldade ? uma rua, no entanto, que os carteiros apontavam com ligeireza. Naquela época de exílio e de frustrações políticas, todos os que viviam em Paris, os expatriados e os estudantes estrangeiros, todos nós, incondicionalmente, amávamos os carteiros indianos e argelinos. Na ânsia de receber notícias diárias, as boas e as más, eles eram os deuses da tarde quando paravam em frente aos escaninhos com a mochila repleta de cartas e pacotes.

Eu morava no Quartier Latin, um dos mais antigos da cidade, vivendo uma felicidade possível para um estudante bolsista. Muito elegante e charmoso, o bairro oferece tantas atrações ? cafés, museus, livrarias, igrejas, monumentos, parques  ?, que era impossível resistir à tentação de passar um dia inteiro flanando…

Foto: Luís Araujo Pereira

Place de la Contrescarpe: endereço simpático repleto de histórias. Foto: Luís Araujo Pereira

O prédio onde morava fica numa quadra simpática e diminuta, tendo nas laterais, de um lado, a Mouffetard e, de outro, a Lemoine; no fundo, a Place de la Contrescarpe, cujo café La Choppe, que agora tem outro nome, oferecia à noite um balcão de pessoas surpreendentes, sempre dispostas a uma boa conversa.

Esse prédio data do século 18, é sustentado por vigas de madeira que ficam à mostra e tem escadas de ferro com degraus revestidos de carpete. No passado, foi um convento que abrigava boas moças.

Do terceiro andar, de uma mesa posicionada junto à janela, gostava de observar, nos dias em que estava entediado, a rua lá embaixo.

A rua do Cardinal Lemoine, uma homenagem da cidade ao cardeal francês Jean Lemoine.

Na minha experiência de morador de Paris, essa rua faz parte de algumas mitologias secretas e preciosas, entre as quais a de uma grega de olhos oliva, com quem bebia armagnac, conversava sobre a poesia de Kaváfis e jogava sinuca.

Jardin Lu Luxembour. Foto: Luís Araujo Pereira

Jardin du Luxembourg. Foto: Luís A. Pereira

Sobretudo nos dias de inverno, quando o mundo era feito de um manto cinza que tudo encobria, eu observava os transeuntes. Por causa da umidade e do frio, as velhinhas que tinham acabado de sair da estação do metrô, situado na esquina da Monge, subiam a rua com dificuldade. Encarquilhadas, vestidas com casacos escuros, um lenço amarrado à cabeça e segurando uma sacola cujo peso fazia-as inclinar para um lado, elas se arrastavam pela calçada, os passos trôpegos ? às vezes, uma escorregava, mas não caía, pois a ladeira era amiga.

Daquele ponto de observação, como um voyeur, tive muitas visões do cotidiano da cidade, como a vez em que a polícia com a raiva de sempre espancou estudantes que participavam de uma manifestação; em outra ocasião, presenciei dois cães dobermann atacarem um africano que vendia artesanato, deixando-o acuado no vão de uma porta; num anoitecer, reconheci entre os pedestres o querido amigo Samuel Costa, com a sua inseparável Nikon, dirigindo-se ao estúdio onde eu morava; e, enlevado, prestava sempre atenção ao alarido das meninas em flor quando elas voltavam do colégio…

A despeito de tudo, eu gostava de admirar as velhinhas simpáticas. Não sabia de onde elas vinham ? mesmo as mais coquetes que se apoiavam numa bengala ? nem se retornavam de uma jornada extenuante. No meu espírito, porém, ficava a impressão de que todas procuravam um refúgio aquecido e uma tigela de sopa. Provavelmente, em algum canto sombrio de seu lar, um gato ansiava por um pires de leite ou por uma cota de ração…

Placa Hemingway

Homenagem a  Hemingway

Como cheguei muitos anos depois ao Quartier Latin, não pude presenciar, do alto da minha janela, o escritor Hemingway e a sua mulher Hadley subindo a Cardinal Lemoine, em direção ao prédio de número 74 que, por uma agradável coincidência, era vizinho ao meu…

(De Entre as Folhas do Jardim, livro de crônicas inédito)

Tag's: Ernest Hemingway, Paris, Quartier Latin, Rua Cardinal Lemoine

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4 comentários em “Uma esquina de Paris”

  1. Maria Zélia Pinheiro disse:
    5 de julho de 2016 às 13:46

    Ai, meu amigo, o seu relato tão preciso desse recanto de Paris me fez sentir uma enorme saudade de lá.

    Responder
  2. AL-Chaer disse:
    5 de julho de 2016 às 15:10

    …Ermira também flanou pelo Quartier Latin…

    AL-Braços

    Responder
  3. Darcy Costa disse:
    6 de julho de 2016 às 11:17

    Lindo texto, Luiz! Lembranças de Paris são sempre bem-vindas. Beijos. Saudades de você.

    Responder
  4. Lisa França disse:
    14 de julho de 2016 às 14:34

    Muito lindo seu artigo Luís. Dá uma inveja danada esses anos em Paris e uma saudade de um tempo privilegiado e mágico de estudante.

    Responder

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