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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 3 de janeiro de 2017

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
03/01/2017 em Florações

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Cinco poemas de Leonard Cohen

(Seleção de Luís Araujo Pereira)

 

[1]

MINUTE PROLOGUE

I’ve been listening to all the dissension

I’ve been listening to all the pain

And I feel that no matter what I do for you

It’s gonna come back again

But I think that I can heal it

I’m I think that I can heal it

I’m a fool but I think that I can heal it

with this song.

…

 

PRÓLOGO BREVE

Não pude deixar de ouvir essa discussão

Não pude deixar de ouvir esses gritos de dor

E sinto que faça o que fizer

de novo voltarão

Mas penso que sou capaz de os curar

Mas penso que sou capaz de os curar

Sou louco mas penso que sou capaz de os curar

com esta canção.

 

[2]

SNOW IS FALLING

Snow is falling.

There is a nude in my room.

She surveys the wine-coloured carpet.

 

She is eighteen.

She has straight hair.

She speaks no Montreal language.

 

She doesn’t feel like sitting down.

She shows no gooseflesh.

We can hear the storm.

 

She is lighting a cigarette

from the gas range.

She holds back her long hair.

…

 

A NEVE CAI

A neve cai.

Há uma mulher nua no meu quarto.

Os olhos pousados na carpete cor de vinho.

 

Tem dezoito anos.

E os seus cabelos são lisos.

Não fala o idioma de Montréal.

 

Não se quer sentar.

Não parece ter a pele arrepiada.

Ficamos os dois a ouvir a tempestade.

 

Acende depois um cigarro

no aquecedor de gás.

E deixa cair os seus longos cabelos para trás.

 

[3]

LETTER

How you murdered you family

means nothing to me

as your mouth moves across my body

 

And I know your dreams

of crumbling cities and galloping horses

of the sun coming too close

and the night never ending

 

but these mean nothing to me

beside your body

 

I know that outside a war is raging

that your issued orders

that babies are smothered and generals beheaded

 

but blood means nothing to me

it does not disturb your flesh

 

tasting blood on your tongue

does not shock me

as my harms grow into your hair

 

Do not think I do understand

what happens

after the troops have been massacred

and the harlots put to the sword

 

And I write this only to rob you

that when one morning my head

hangs dripping with the other generals

from your house gate

 

that all this was anticipated

and so you will know that it meant nothing to me.

…

 

CARTA

O modo como assassinaste a tua família

nada significa para mim

enquanto a tua boca percorre o meu corpo

 

Eu conheço os teus sonhos

de cidades arrasadas e cavalos em fúria

do sol demasiado perto

e da noite sem fim

 

Mas isso nada significa para mim

ante o teu corpo

 

Sei que lá fora uma guerra ruge

que tu transmites ordens

e bebés são afogados e generais degolados

 

Mas o sangue nada significa para mim

pois não altera a tua carne

 

Que a tua língua saiba a sangue

não me surpreende

enquanto os meus braços crescem no teu cabelo

 

Não penses que não compreendo

o que acontece

depois de as tropas serem massacradas

e as putas passadas à espada

 

Escrevo isto só para te roubar o prazer

quando uma manhã a minha cabeça

estiver dependurada com a dos generais

do portão da tua casa

 

Só para que saibas que previ tudo

e que isto nada significa para mim.

 

[4]

THE DRAWER’S CONDITION

     ON NOVEMBER 28, 1961

Is there anything emptier

than the drawer where

you used to store your opium?

How like a black-eyed susan

blinded into ordinary daisy

is my pretty kitchen drawer!

How like a nose sans nostrils

is my bare wooden drawer!

How like an eggless basket!

How like a pool sans tortoise!

My hand has explored

my drawer like a rat

in an experiment of mazes.

Reader, I may safely say

there’s not an emptier drawer

in all of Christendom!

…

 

O ESTADO DA MINHA GAVETA

EM 28 DE NOVEMBRO DE 1961

Poderá existir algo mais vazio

que a gaveta onde

costumavas guardar o teu ópio?

Algo como uma mulher de olhos negros

convertida em margarida vulgar

no meu belo armário de cozinha

Como um nariz sem narinas

é a minha gaveta nua de madeira

Como uma cesta sem ovos

ou uma lagoa sem tartarugas

A minha mão como um rato

explorou essa gaveta

numa experiência labiríntica

Posso-vos afirmar com toda a segurança

que não existe gaveta mais vazia

em toda a cristandade!

 

[5]   

QUEEN VICTORIA AND ME

Queen Victoria

my father and all his tobacco loved you

I love you too in all your forms

the slim unlovely virgin anyone would lay

the white figure floating among German beards

the mean governess of the huge pink maps

the solitary mourner of a prince

Queen Victoria

I am cold and rainy

I am dirty as a glass roof  in a train station

I feel like an empty cast-iron exhibition

I want ornaments on everything

because my love she gone with other boys

Queen Victoria

do you have a punishment under the white lace

will you be short with her

and make her read little Bibles

will you spank  her with a mechanical corset

I want her pure as power

I want her skin slightly musty with petticoats

will you wash the easy bidets out of her head

Queen Victoria

I’m not much nourished by modern love

Will you come into my life

with your sorrow and your black carriages

and your perfect memory

Queen Victoria

The 20th century belongs to you and me

Let us be two severe giants

(not less lonely for our partnership)

who discolour test tubes in the halls of science

who turn up unwelcome at every World’s Fair

heavy with proverb and correction

confusing the star-dazed tourists

with our incomparable sense of  loss

…

 

A RAINHA VITÓRIA E EU

Rainha Vitória

Sabias que o meu pai e todo o seu tabaco te amam?

Eu também te amo em todas as tuas formas

virgem delgada e esquiva com a qual qualquer um se deitaria

alva figura flutuante entre barbas alemãs

a instrutora mesquinha dos pesados mapas vermelhos

solitária enlutada por um príncipe

Rainha Vitória

sinto-me frio e húmido

sujo como um telhado de vidro de uma estação

sinto-me como uma exposição de ferro fundido vazia

exijo adornos em tudo

porque o meu amor se foi embora

Rainha Vitória

levas um cilício debaixo das tuas rendas brancas

por favor sê breve com ela

e fá-la ler pequenas bíblias

enquanto a açoitas com um espartilho mecânico

quero-a pura como o poder

quero a sua pele ligeiramente bolorenta debaixo do saiote

por favor apaga da tua memória os complacentes bidés

Rainha Vitória

não estou muito instruído acerca do amor moderno

queres entrar na minha vida

com as tuas penas e as tuas carruagens negras

e a tua memória intacta?

Rainha Vitória

o século XX pertence-nos. A ti e a mim

Sejamos dois férreos gigantes

(não menos solitários apesar da mútua companhia)

que tornem transparentes os tubos de ensaio nas antecâmaras da ciência

e apareçam inoportunos em todas as Feiras Mundiais

carregados de provérbios e censuras

para aturdir os turistas deslumbrados pelas estrelas

com o nosso incomparável sentimento de perda

 

Perfil

Leonard Norman Cohen foi romancista, poeta, compositor e cantor. Nasceu em Montreal, em 21 de setembro de 1934, e morreu em Los Angeles, em 7 de novembro de 2016. Combinando atividades de escritor com as de músico, transferiu-se para os Estados Unidos, onde consolidou a sua carreira. Com essa guinada, acabou se tornando um dos grandes músicos do século 20, tão grande quanto Bob Dylan, para fazer apenas uma comparação. Suas canções são inspiradas, líricas, melancólicas, delicadas e, por estas e outras virtudes, conquistaram um público enorme e aficionado. O recitativo de sua voz  baritonada quando sussurra “Lullaby” é um prazer estético que não pode ser medido. Nunca é demais dizer que, em Cohen, poesia e música só funcionam amalgamadas. Seu êxito artístico pode ser comprovado pelo sucesso da canção Hallelujah, do álbum Various Positions (1984), que foi interpretada por cerca de 200 cantores em várias línguas, fenômeno que foi objeto de um documentário da BBC Radio. Publicou dois romances, 13 livros de poemas e gravou 14 discos originais. Em 1997, a editora portuguesa Assírio & Alvim publicou a segunda edição de Filhos da Neve, uma antologia bilíngue de poemas traduzidos por Jorge Sousa Braga e Carlos Tê, que reúne textos dos seguintes livros: Let Us Compare Mythologies (1956), The Spice-Box of Earth (1961), Flowers for Hitler (1964),  Parasites of Heaven (1966), New Poems (1968) e The Energy of Slaves (1972). Do conjunto reunido nessa antologia, ERMIRA  selecionou os poemas que estão estampados nesta coluna, preservando o padrão da língua escrita em Portugal.

 

 

 

Tag's: Leonard Cohen, Música, poesia

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1 comentários em “Cinco poemas de Leonard Cohen”

  1. leonard cohen poems about love disse:
    3 de março de 2022 às 15:46

    Buena pagina… Muchas gracias, Un saludo

    Responder

Respondendo o comentário de leonard cohen poems about love (cancelar resposta)

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