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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 18 de março de 2017

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
18/03/2017 em Florações

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Cinco poemas de Henri Michaux

(Seleção e tradução de Luís Araujo Pereira)

 

[1]

Lecture de huit litographies de Zao Wou-Ki

III

Un vol d’oiseaux fonce sur la vallée

 

D’une bourrasque du ciel

d’un gros orage lenticulaire

l’escadrille surgit

 

Il y a un énorme blanc

dessus

dessous

de côté

partout

le blanc de deuil

 

Des arbres affairés cherchent leurs branches arrachées

      qui éclatent

des arbres affolés

des arbres comme des systèmes nerveux ensanglantés

mais pas des êtres humains dans ce drame

l’homme modeste n’est dit pas je suis malheureux

l’homme modeste n’est dit pas

nous souffrons

les nôtres meurent

le peuple est sans abri

il dit nos arbres souffrent

…

 

Leitura de oito litografias de Zao Wou-Ki

III

Um voo de pássaros escurece o vale

 

A esquadrilha emerge

de uma trovoada no céu

de uma grossa tempestade em forma de lentilhas

 

Há um branco enorme

em cima

embaixo

em toda parte

o branco de luto

 

Árvores agitadas procuram os seus ramos arrancados

     eles  estalam

árvores enlouquecidas

árvores como sistemas nervosos ensanguentados

mas nada de seres humanos nesse drama

o homem modesto não diz Eu sou infeliz

o homem modesto não diz

Nós sofremos

os companheiros morrem

o povo não tem abrigo

o homem modesto diz apenas Nossas árvores sofrem

 

[2]

Lieux sur une planète petite

                                                De L.

Les semblables fleurissent

minime oiseau du temps

Nous continuons, inexprimés

cristaux, frissons

 

Le fabuleux en passant

l’extraordinaire, commun

mais la pénitence d’incertude demeure

Nouvelles rives croulantes

efforts lilliputiens

 

Il faut se hâter

L’Histoire va fermer

…

 

Lugares sobre um planeta

                                             De L.

Os semelhantes florescem

mínimo pássaro do tempo

Nós continuamos, indizíveis

cristais, tremores

 

O fabuloso desfilando

o extraordinário, comum

mas a penitência da incerteza permanece

Novas margens desmoronadas

esforços liliputianos

 

É preciso apressar-se

A História vai fechar-se

 

[3]

                              De T.

Indigents à présent

mais le coeur est encore riche

“Viens”, dit aussi bien le plus pauvre

dès qu’apparaît un étranger

“viens dans ma maison

“comme tu viendrais dans un vaste domaine

et prends, et mange abondamment”

 

Ils ne se précautionnent pas

Contre l’homme venu d’ailleurs

Un Dieu, pensent-ils

Un Dieu a revêtu la forme d’un voyageur

C’est pour nous secourir

disent-ils avec simplicité

C’est pour nous éclairer

…

 

                                     De T.

Indigentes de nossos dias

o coração porém é ainda rico

“Venhas”, fala tão bem o mais pobre

assim que surge um estrangeiro

“venhas à minha casa

como se fosses a um vasto reino

e pegues, e comas fartamente”

 

Eles não se acautelam

contra o homem vindo de outro lugar

Um Deus, pensam eles

Um Deus assumiu a forma de um viajante

É para nos ajudar

eles falam com simplicidade

É para nos esclarecer

 

 

[4]

                                          D’U.

Troupes de babouins irrités,

autrefois peuple grave

aimant

vénérant la sagesse

l’oeil ouvert sur les compagnons célestes

attendant, préparant la cité “Éternité”

 

Maintenant…

depuis des siècles…

depuis peut-être quantité de siècles…

L’aube de l’oubli, qui la voit ?

Mais la pierre se souvient

la pierre ne se fatigue pas de porter le savoir

continuant seule la civilisation disparue

parlant toujours en signes inaltérés

durs, calmes, solaires

…

 

                                              D’U.

Bandos de babuínos coléricos,

antigamente eram um povo solene

amando

venerando a sabedoria

o olho aberto sobre os camaradas celestes

aguardando, preparando a cidade “Eternidade”

 

Hoje…

após séculos…

após talvez quantidade de séculos…

A aurora do esquecimento, quem a enxerga?

A pedra no entanto lembra-se

a pedra não se cansa de carregar o saber

conduzindo sozinha a civilização desaparecida

falando sempre por signos inalterados

duros, calmos, solares

 

[5]

                                              De J.

Dans ce pays

la terre souvent tremble

émettant les bruits terribles

provenant des déités dérangées

 

D’habitants

il en meurt beaucoup

soit de saisissement

soit qu’ils se jettent d’eux-mêmes

sous les toits qui s’effondrent

ou dans la lave des cratères des volcans bouillonnants

Ensuite, le vent apporte un feu qui fait mourir

 

La population a les nerfs brisés

On ne peut attendre d’elle sagesse ou mesure

elle a ce qui va avec délire, exaspération, héroïsme

ou contrainte pourvu qu’elle aussi soit monstrueuse

…

 

                                              De J.

Nesse país

a terra frequentemente treme

produzindo estrondos terríveis

oriundos de divindades perturbadas

 

Os habitantes

morrem bastante

seja por causa dos abalos

seja porque eles se jogam, a si próprios

debaixo dos telhados que desmoronam

ou na lava das crateras de vulcões borbulhantes

Em seguida, o vento traz um fogo que faz tudo morrer

 

A população tem os nervos  abalados

Não se pode esperar dela prudência ou moderação

ela tem aquilo que combina com delírio, irritação, heroísmo

ou constrangimento, visto que ela é também monstruosa

 

Perfil

Henri Michaux nasceu em 24 de maio de 1899, em Naumur (Bélgica), e morreu em Paris no dia 18 de outubro de 1984. Em 1955, adotou a nacionalidade francesa. Além de ser um nome relevante na poesia francófona e europeia, destacou-se também na pintura e nas artes gráficas. Trocou o curso de Medicina, quando vivia ainda na Bélgica, por aventuras em terras distantes, à procura de outras realidades. Em decorrência dessa guinada, conheceu as duas Américas, a do Sul e a do Norte, e esteve depois na Ásia e na África. Perambulou por Buenos Aires e pelo Rio de Janeiro. Foi colaborador da Sur, uma revista argentina de combate e cultura. A sua iniciação na Literatura ocorreu com a descoberta de Lautréamont, quando tinha 23 anos. Emblemático, hermético, de difícil apreensão, Henri Michaux provoca atenção em virtude das dificuldades assinaladas há pouco: um oceano separa a sua poesia do leitor. Segundo André Velter, em prefácio ao livro À Distance (Gallimard, 2014), Henri Michaux é singular porque é radicalmente sozinho, abandonado, afastado, excluído. Procurando dizer de outro modo, a sua poesia é uma viagem interior, uma procura de si mesmo, uma indagação constante aos signos errantes. Aliada geneticamente à sua poesia, o seu interesse pela pintura aproximou-o dos surrealistas, como os artistas Paul Klee e De Chirico. A procura de si mesmo não tinha ponto final e empurrou-o em direção a experiências mais radicais e voluntariosas. Como numa encruzilhada, disse que a sua convivência com os alucinógenos era motivada mais por interesses literários e espirituais do que por razões estéticas. Nesse caso, não importa o que viveu e escreveu, na sua longa vida dedicada a uma ideia de si mesmo e de sua arte. Se a sua poesia é difícil de ser assimilada não é somente por causa de traços surrealistas e de estranhezas, mas também por seus arremates irônicos e inconclusivos do verso. É preciso lembrar que Henri Michaux não foi indiferente aos movimentos de vanguarda do século XX. Com razão, procura leitores fiéis, os que não fogem dos seus versos. A sua obra poética é extensa, fora os livros devotados às viagens, às memórias e aos mundos imaginários. ERMIRA relaciona alguns títulos: Qui Je Fus (1927), La Nuit, Remue (1935), L’Espace du Dedans (1944), Épreuves, Exorcismes (1945), La Vie dans les Plis (1949), Mouvements (1952),  Face aux Verrous (1954), Connaissance par les Gouffres (1961), Passages (1963), Les Grandes Épreuves de l’Esprit et les Innombrables Petites (1966), Façons d’Endormi, Façons D’Éveillé (1969), Moments, Traversées du Temps (1973), Déplacements, Dégagements (1985), entre outros. Os poemas desta coluna foram selecionados de À Distance (Gallimard, 1997).

 

 

Tag's: Henri Michaux, literatura, poesia, poesia francesa

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