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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 22 de abril de 2017

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
22/04/2017 em Florações

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Cinco poemas de Adília Lopes

(Curadoria de Luís Araújo Pereira)

 

[1]

ESTA IRENE não me deixa ouvir a sirene

vou-me pôr a ver passar a ambulância

se for carro dos bombeiros decerto

vermelho se for da

Polícia normalmente azul

levarei para o parapeito

o meu peito velho e virgem e a lata

das bolachas maria mas podia

em vez de octogenária e bulímica

ter alguns meses biquentos e usar babadoiro

ser talvez qual tímida donzela

pela miúda gelosia espreitando

feia no berço: bonita à janela não

não a avisto ainda apenas a sirene

e aquela abelhuda da Irene a cantar:

Minha mãe é pobrezinha

Não tem nada que me dar

Dá-me beijos, coitadinha…!

e eu que queria ouvir bem a sirene

e ver o incêndio o assalto a estropiada o estupro

rilharei bolachas maria

até ao fim deste dia

e do outro?

̻ ̻ ̻

[2]

A MINHA MUSA antes de ser

a minha Musa avisou-me

cantaste sem saber

que cantar custa uma língua

agora vou-te cortar a língua

para aprenderes a cantar

a minha Musa é cruel

mas eu não conheço outra

̻ ̻ ̻

[3]

No more tears

Quantas vezes me fechei para chorar

na casa de banho da casa da minha avó

lavava os olhos com shampoo

e chorava

chorava por causa do shampoo

depois acabaram os shampoos

que faziam arder os olhos

no more tears disse Johnson & Johnson

as mães são filhas das filhas

e as filhas são mães das mães

uma mãe lava a cabeça da outra

e todas têm cabelos de crianças loiras

para chorar não podemos usar mais shampoo

e eu gostava de chorar a fio

e chorava

sem um desgosto sem uma dor sem um lenço

sem uma lágrima

fechada à chave na casa de banho

da casa da minha avó

onde além de mim só estava eu

também me fechava no guarda-vestidos grande

mas um guarda-vestidos não se pode fechar por dentro

nunca ninguém viu um vestido a chorar

̻ ̻ ̻

[4]

Prêmios e comentários

A avó Zé e a tia Paulina

deram-me os parabéns

e disseram

agora já é uma senhora!

a Maria disse

parabéns por quê?

é uma porcaria!

quanto a comentários

a poesia e a menarca

são parecidas

__

Em 72 recebi

o prémio literário

dos pensos rápidos Band-Aid

o prémio foi uma bicicleta

às vezes penso

que me deram uma bicicleta

para eu cair

e ter de comprar pensos rápidos

Band-Aid

é o que penso dos prémios literários

em geral

̻ ̻ ̻

[5]

NÃO GOSTO tanto

de livros

como Mallarmé

parece que gostava

eu não sou um livro

e quando me dizem

gosto muito dos seus livros

gostava de poder dizer

como o poeta Cesariny

olha

eu gostava

é que tu gostasses de mim

os livros não são feitos

de carne e osso

e quando tenho

vontade de chorar

abrir um livro

não me chega

preciso de um abraço

mas graças a Deus

o mundo não é um livro

e o acaso não existe

no entanto gosto muito

de livros

e acredito na Ressurreição

de livros

e acredito que no Céu

haja bibliotecas

e se possa ler e escrever

Perfil

Adília Lopes é o pseudônimo de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira. Nasceu em Lisboa no dia 20 de abril de 1960. Estudou Ciências Documentais na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É poetisa, cronista e tradutora. Publicou os seguintes livros: Um Jogo Bastante Perigoso (1985), A Pão e Água de Colônia (1987), O Marquês de Chamilly (1987), O Decote da Dama de Espadas (1988), Os 5 Livros de Versos Salvaram o Tio (1991), O Peixe na Água (1993), A Continuação do Fim do Mundo (1995), A Bela Acordada (1997), Clube da Poetisa Morta (1997), O Poeta de Pondichéry seguido de Maria Cristina Martins (1998), Sete Rios entre Campos (1999), Florbela Espanca Espanca (1999), O Regresso de Chamilly (2000), Irmã Barata, Irmã Batata (2000), A Obra (2000), A Mulher-a-Dias (2002), César a César (2003), Poemas Novos (2004), Caras Baratas (2004), Le Vrai la Nuit ̶ A Árvore Cortada (2006), Caderno (2007), A Dobra (2009), Apanhar Ar (2010), Andar a Pé (2013), Manhã (2015), Bandolim (2016). Em posfácio ao livro Antologia (7 Letras, Cosac & Naify, 2002), Flora Sussekind, em análise bem encorpada, considera que autora recorre à ficcionalização ̶ com referência a contos tradicionais ̶ , a curtas microbiografias, a autobiografias, a citações, a personagens reais ou não, a recursos rítmicos, a duplicações etc., assinalando evidentemente a complexidade desses processos na elaboração de sua tessitura poética. Como autora de prestígio, de riqueza formal e imagética, Adília Lopes concentra o seu interesse no cotidiano e na sua sociedade, tratando os assuntos com humor e ironia, elevando-os a um alto grau de expressão estilística. Ao lado desses pormenores sutis e bem conduzidos, sua poesia tem marca de religiosidade e dicção bem próxima da linguagem coloquial.

Tag's: adília lopes, inéditos, literatura, poesia

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