• Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • No Goiás
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter

ERMIRA

  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter
  • Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • No Goiás
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato

Rogério Borges em Aboios Jornalista e professor | Publicado em 2 de maio de 2017

Rogério Borges
Jornalista e professor
02/05/2017 em Aboios

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp
← Voltar

Este canto torto, feito faca

Com seu sotaque de Sobral, forte e destemido, Belchior avisava:

“Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!

Não sou da nação dos condenados!

Não sou do sertão dos ofendidos!

Você sabe bem: conheço bem o meu lugar!”

E emendava:

“Olho de frente a cara do presente

E sei que vou ouvir a mesma história porca.

Não há motivo para a festa, ora esta!

Eu não sei rir à toa

Fique você com a mente positiva

Que eu quero a voz ativa

Ela é que é uma boa.”

Estes versos agrestes só podiam vir de um compositor que sabia lidar com a aridez. Eles só poderiam ser entoados por uma voz que se avizinhava a um aboio de vaqueiro, estrondosa, trovoante, que conseguissem imprimir mágoa e lirismo a cada nota. Talvez Belchior tenha sido, como alguns disseram, o cantor e compositor mais subestimado de sua geração. A concorrência era muito forte e ele vinha de um canto do Brasil onde os obstáculos eram maiores. Ainda assim, sua voz se fez ouvir, suas músicas insistiram em ser cantadas e o legado ficou.

Que legado, porém, é este? Belchior tinha tamanha singularidade que fica complicado teorizar a respeito. Surgido nos anos 1970, ele era uma voz que cantava o exílio, o deslocamento, a resistência a um período político cerceador, mas que não caía na tentação do panfletarismo juvenil. Com referências do rock, do folk e de outros ritmos contemporâneos, mantinha uma pegada ligada à terra, ao homem, à luta. Dos sertões de onde provinha, era sobretudo um forte. Força que se expressava no tom grave potente, na complexidade das melodias, na construção de métricas bem lapidadas.

Isso também era ilustrado no visual um tanto exótico, de um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, mas com uma personalidade da gota serena. O abundante bigodão, um sorriso que apenas se insinuava e um olhar de tristeza irrevogável faziam de Belchior uma novidade estética na MPB, em todos os sentidos. O LP Alucinação, de 1976, verdadeira lufada de renovação e ousadia, colocou Belchior definitivamente sob os holofotes nacionais. Aquele disco, que reunia sucessos do quilate de Como Nossos Pais e Velha Roupa Colorida, é, facilmente, um dos melhores surgidos em uma década de grandes trabalhos.

Tudo isso fala da carreira de Belchior, mas talvez a maior herança que tenha deixado seja a prova de que é possível unir o que sempre nos parece inconciliável. A força e a delicadeza, o lirismo e a combatividade, o simples e o refinado que não se intimidava a recorrer a grandes poetas, como Carlos Drummond de Andrade e Olavo Bilac. Nada melhor, para perceber isso, que viajar em sua obra.

“Você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo

Que uma nova mudança, em breve, vai acontecer

E o que há algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo

E que precisamos, todos, rejuvenescer”

Esse sentimento de deslocamento, de incompreensão com seu próprio tempo parecia nortear a obra de Belchior. Talvez sua maior virtude seja a maneira de dizer isso de formas inesperadas, surpreendentes. É como se o tempo todo gritasse a plenos pulmões: “Eu quero é que este canto torto, feito faca, corte a carne de vocês”. E se seu desespero era moda em 76, fato é que suas angústias, mas recobertas com uma beleza desconcertante, nunca deixaram de moldar um repertório coerente, que jamais arredou um milímetro sequer de seus princípios temáticos e da alta qualidade.

Mesmo tratando de dramas de sua juventude, como a falta de liberdade, Belchior não deixou suas músicas ficarem datadas. Elas não mofaram. “Eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude, está em casa, guardado por Deus, contando o vil metal” é uma daquelas porradas que só canções imperecíveis podem dar. É o caso de Como Os Nossos Pais, imortalizada na interpretação visceral de Elis Regina, e que traz, gravada profundamente, a marca de seu compositor.

Se por força deste destino, um tango argentino lhe ia muito melhor que um blues, isso se devia ao mergulho vertical que Belchior fazia questão de dar em suas próprias incertezas, em seus temores. “Eu tenho medo de abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão”, confessava. Esses sentimentos tão misteriosos e terríveis que eram encarados com um olhar muito intimista e ao mesmo tempo tão universal. Um rasgo tão completo, tão desabrido, tão sincero que chegava a doer. “Sonho e escrevo em letras grandes, de novo, pelos muros do País.” Um País cujas aflições esteve em sua perspectiva, num panorama formado por pessoas que “viviam o dia, não o Sol; a noite, não a Lua”.

“Era feito aquela gente honesta, boa e comovida

Que caminha para a morte pensando em vencer na vida.

Era feito aquela gente honesta, boa e comovida

Que tem no fim da tarde a sensação da missão cumprida.”

Nos últimos dez anos, Belchior se retirou dos palcos, dos estúdios, da convivência com os amigos famosos. Não justificou sua atitude, não fez show de despedida, não quis conversar sobre o tema. Simplesmente saiu de cena, deixando que sua música falasse por ele. Mais que curiosidade, esta atitude deveria despertar respeito. Suas canções, de fato, revelam o que é preciso saber.

“Saia do meu caminho

Eu prefiro andar sozinho

Deixem que eu decida minha vida”

Tag's: Belchior, cantor, compositor, MPB, música brasileira

  • O passante e o herói

    por Luís Araujo Pereira em Espirais

  • Um sonhador

    por Rosângela Chaves em Miradas

  • O cérebro de Einstein era um tipo de Sol

    por Gilberto G. Pereira em Matutações

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Deixe um comentário (cancelar resposta)

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

ERMIRA
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter