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Foto: ANTONIO COTRIM/LUSA
Foto: ANTONIO COTRIM/LUSA
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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 12 de junho de 2017

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
12/06/2017 em Florações

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Cinco Poemas de Manuel Alegre

Curadoria de Luís Araujo Pereira

[1]

Flor de la Mar

Trago dentro de mim a nau simbólica

Flor de la Mar: navegação do espírito

Nau Nação. Aquela que se fez para fora

e se perdeu para dentro. Sou essa Nau

Memória. Talvez perdida. Talvez esquecida.

Sou essa viagem de circum-navegação

à volta do Mundo e de mim mesmo.

Nau Ideia. Sem ela nós não somos nada

não mais que um bairro perdido a Ocidente

com ela se navega mesmo se parada

só com ela se pode chegar ainda

ao que dentro de nós é sempre ausente.

Nação que foi Europa antes de Europa o ser

Flor de la Mar: quatro sílabas com que se diz

o nome do poema

e do país.

̻ ̻ ̻ ̻

[2]

Cassandra e Troika

Então Cassandra apareceu na rua

trazia um cartaz para entregar à Troika

saúde educação dizia ela. E havia

em seu olhar a cólera e a beleza

ela era a filha de Príamo aquela

por quem Apolo se apaixonou

nos seus ouvidos passaram as serpentes

e por isso ela ouvia o que ninguém ouvia

tinha vindo para avisar que a Troika

é o novo cavalo falso dentro da cidade

os seguranças rodearam-na mas ela falava

seus longos cabelos soltos sob o sol de Lisboa

clamava por justiça e dignidade

ouvissem ou não ouvissem ela era a sibila

e apontava o cavalo dentro da cidade.

̻ ̻ ̻

[3]

Bairro Ocidental

Na Eurolândia tudo é permitido

bruxela-se um país berlina-se outro

um dia ao acordares estás eurodido

e o teu país efemizado é só um couto.

–

Um sítio à venda: Bairro Ocidental.

Não já o rosto com que Europa fita

mas a teta dos juros e do capital

com sol pròs velhos da Europa rica.

–

Não digas pátria: essa palavra está malvista

proibida pelo Império Orçamental.

Eurogrupado: tu e os maus da fita

filhos do Sul e do pecado original.

–

Lá vem a Nau Catrineta e o capitão-general.

–

Letra a letra outra Europa aqui foi escrita

canto a canto com sílabas de sal.

Desculpem se não estou de alma contrita

não sei ser europeu sem Portugal.

̻ ̻ ̻

[4]

Este rio

Este rio traz o mar cá dentro

e sendo mar não deixa de ser rio

este rio com margens que são centro

e sendo margens são nosso navio.

–

Este rio que volta quando parte

e quando parte leva as suas margens

este rio que vai a toda a parte

e mesmo em casa é todas as viagens.

–

Este rio que sabe a mar profundo

e dentro da cidade é rua e rio

e em cada rua dá a volta ao mundo

e de Lisboa fez nosso navio.

̻ ̻ ̻

[5]

Lenda dos cavalos brancos

Cavalos brancos me levaram

por ti por mim se perderam

e nunca te encontraram

e nunca me trouxeram.

–

Noite a noite galoparam

noite a noite me perdi

cavalos brancos me levaram

sem nunca sair de aqui.

–

Desertos lagos de sal

vales e montes atravessaram

ilhas azuis de coral

cavalos brancos me levaram.

–

Por sobre as águas passaram

sobre a espuma e a areia ardente

e nunca chegaram

ao país ausente.

–

Um era acaso outro vento

galoparam além de mim

cavalos brancos de dentro

com eles fui e não vim.

–

Sempre de mim para ti

nunca nunca te encontraram

noite a noite me perdi

cavalos brancos me levaram.

̻ ̻ ̻

Perfil

Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu em Águeda (sub-região de Aveiro) no dia 12 de maio de 1936. Estudou em Lisboa, no Porto e na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Integrou movimentos estudantis de oposição à ditadura de Salazar. Como ator, fez parte do Teatro Universitário de Coimbra. Convocado para o serviço militar, é mobilizado para Angola. Preso pela Pide, fica seis meses detido na Fortaleza de S. Paulo, em Luanda, onde começa a escrever Praça da Canção, o seu primeiro livro de poemas. Em outubro de 1964, torna-se membro do Comitê Nacional da Frente Patriótica de Libertação Nacional. Exila-se em Paris e, depois, em Argel. Nesta última capital, permanece dez anos e trabalha , como locutor, na emissora Voz da Liberdade. Após o 25 de Abril de 1974, retorna a Portugal, tornando-se dirigente do Partido Socialista. Em 1975, é eleito deputado à Assembleia Constituinte. Candidata-se, em 2006, à presidência da República. Sua intensa atividade política não pode ser dissociada de sua vasta produção literária. Entre o romance, o conto e o ensaio, destacou-se na poesia com mais de 10 títulos publicados, como os que seguem, todos com o selo da Publicações Dom Quixote: Praça da Canção (1965), O Canto e as Armas (1967), Atlântico (1981), Com que Pena ̶ Vinte Poemas para Camões (1992), Sonetos do Obscuro Quê (1992), Coimbra Nunca Vista (1995), 30 Anos de Poesia (1995), Senhora das Tempestades (1995), Livro do Português Errante (2001), Sete Sonetos e um Quarto (2005), Doze Naus (2007), Nambuangongo, meu Amor (2008), Poesia (2009, vols. I e II), Nada Está Escrito (2012), País de Abril (2014). Grosso modo, os seus poemas conciliam uma visão crítica da Europa (os problemas econômicos e sociais decorrentes da unificação) com um lirismo nem sempre contido. Além do Prêmio Camões de 2017, concedido em 8 de junho, recebeu ainda as seguintes distinções: Grande Prêmio de Poesia da APE-CTT, Prêmio Fernando Namora, Prêmio Pessoa, entre outros. Os poemas selecionados para a coluna Florações são do livro Bairro Ocidental (Dom Quixote, 2015).

Tag's: Literatura Portuguesa, Manuel Alegre, poesia, Prêmio Camões

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