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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 27 de agosto de 2017

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
27/08/2017 em Florações

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Cinco poemas de Sophia de Mello B. Andresen

(Curadoria de Luís Araujo Pereira)

 

[1]

Meio-dia

Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.

O sol no alto, fundo, enorme, aberto,

Tornou o céu de todo o deus deserto.

A luz cai implacável como um castigo.

Não há fantasmas nem almas,

E o mar imenso solitário e antigo

Parece bater palmas.

̻ ̻ ̻

 

[2]

Cidade

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,

Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,

Saber que existe o mar e as praias nuas,

Montanhas sem nome e planícies mais vastas

Que o mais vasto desejo,

E eu estou em ti fechada e apenas vejo

Os muros e as paredes, e não vejo

Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

 

Saber que tomas em ti a minha vida

E que arrastas pela sombra das paredes

A minha alma que fora prometida

Às ondas brancas e às florestas verdes.

̻ ̻ ̻

 

[3]

Noite de Abril

Hoje, noite de Abril, sem lua,

A minha rua

É outra rua.

 

Talvez por ser mais que nenhuma escura

E bailar o vento leste

A noite de hoje veste

As coisas conhecidas de aventura.

 

Uma rua nova destruiu a rua do costume.

Como se sempre nela houvesse este perfume

De vento leste e Primavera,

A sombra dos muros espera

Alguém que ela conhece.

 

E às vezes, o silêncio estremece

Como se fosse a hora de passar alguém

Que só hoje não vem.

̻ ̻ ̻

 

[4]

Assassinato de Simonetta Vespucci

Homens

No perfil agudo dos quartos

Nos ângulos mortais da sombra com a luz.

 

Vê como as espadas nascem evidentes

Sem que ninguém as erguesse  ̶  de repente.

 

Vê como os gestos se esculpem

Em geometrias exactas do destino.

 

Vê como os homens se tornam animais

E como os animais se tornam anjos

E um só irrompe e faz um lírio de si mesmo.

 

Vê como pairam longamente os olhos

Cheios de liquidez, cheios de mágoa

De uma mulher nos seus cabelos estrangulada.

 

E todo o quarto jaz abandonado

Cheio de horror e cheio de desordem.

E as portas ficam abertas,

Abertas para os caminhos

Por onde os homens fogem,

No silêncio agudo dos espaços,

Nos ângulos mortais da sombra com a luz.

̻ ̻ ̻

 

[5]

Praia

Os pinheiros gemem quando passa o vento

O sol bate no chão e as pedras ardem.

 

Longe caminham os deuses fantásticos do mar

Brancos de sal e brilhantes como peixes.

 

Pássaros selvagens de repente,

Atirados contra a luz como pedradas,

Sobem e morrem no céu verticalmente

E o seu corpo é tomado nos espaços.

 

As ondas marram quebrando contra a luz

A sua fronte ornada de colunas.

 

E uma antiquíssima nostalgia de ser mastro

Baloiça nos pinheiros.

Perfil

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu na cidade do Porto, em 6/11/1919, e morreu em Lisboa, em 2/07/2004. É autora de extensa obra literária que inclui diversos gêneros: poesia, ficção, teatro e traduções de Homero, Eurípedes, Dante, Shakespeare e Claudel. Sua produção poética compreende os seguintes livros: Poesia (1946), Dia do Mar (1947), Coral (1950), No Tempo Dividido (1954), Mar Novo (1958), O Cristo Cigano (1961), Livro Sexto (1962), Geografia (1967), Dual (1972), O Nome das Coisas (1977), Navegações (1983), Ilhas (1989),  Obra Poética I (1990), Obra Poética II (1991), Obra Poética III (1991), Musa (1994), Signo (1994), O Búzio de Cós e Outros Poemas (1997). Manuel Gusmão, em prefácio a Coral, observa que a “tópica do mar é sem dúvida uma das primeiras e mais poderosas figuras que magnetiza” a sua linguagem. Ao lado desse poderoso motivo temático, a vida urbana, o tempo, a religião, entre outros, são também temas marcantes que orientam a sua visão poética. Após o 25 de Abril, foi eleita para a Assembleia Constituinte. Ganhou os prêmios Camões (1999) e Rainha Sofia (2003). Em 2014, por decisão da Assembleia da República, seus restos mortais foram trasladados para o Panteão. Na literatura portuguesa, é uma das vozes poéticas mais importantes do século 20. Os poemas selecionados foram extraídos dos livros Poesia e Coral.

Confira a seguir o documentário Sophia de Mello Breyner Andresen (Portugal, 1969), dirigido por Joao César Monteiro:

 

Tag's: literatura, poesia portuguesa, Prêmio Camões, Sophia de Mello Breyner Andresen

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