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Imagem: Marina de Itanhaem (Alfredo Volpi)
Imagem: Marina de Itanhaem (Alfredo Volpi)
Imagem: Marina de Itanhaem (Alfredo Volpi)

Luís Araujo Pereira em Espirais Professor e escritor | Publicado em 24 de outubro de 2017

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
24/10/2017 em Espirais

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Tantos mares

Às vezes, sinto saudades do mar, como todos que o conheceram um dia e que dele estão distantes, mas não surdos às suas marés que às vezes lembram cirandas convidando-nos à dança. Uma saudade que não me tolhe nem me acalenta, não me sufoca nem me dá esperança. É só uma saudade que não tem nome, uma dessas que surge de fininho, quando encosto a cabeça no travesseiro − e só tenho a partir daí o vazio da noite, profundo, silencioso, imóvel.

Nesse momento, ouço uma voz feminina, quase um encantamento. Como uma nereida surgindo do nada, ela pergunta no instante em que se mostra, esboço de mulher na névoa  − e a sua voz derrama um brilho de ostras:

“Qual mar, se todos eles são iguais e repetem-se sempre, cada um em seu atroz e permanente abismo?”

Essa rápida visão, penso, é apenas um sonho − e durmo lamentando os mares que não conhecerei − as grandes e as pequenas  águas…

No entanto, é o mar que molhou os meus sapatos pela primeira vez na praia de Santos, enquanto eu só tinha olhos para um navio que singrava ao longe; é o mar de Portugal, diante do qual uma rapariga muito branca aproveita o vinho esplêndido da região e se sente feliz por estar em seu país num dia morno e calmo; é o Mediterrâneo onde em Málaga uma negra das mais belas lembra de repente a folhagem multicolorida dos trópicos − e chora; é o mar de uma praia recôndita em Maceió, em cuja superfície vi tainhas passeando próximas à praia, aproveitando a bela manhã; é o mar português de Pessoa; é também o mar de Sophia de Mello Bryner Andresen; são os mares de Homero e de Camões; de Melville e de Hemingway. E também o mar Jônico.

O mar, tantos nomes, tantas águas. Tantos mitos, grandes e pequenos.

Quais versos marinheiros aproximam-se do peso justo de suas águas escandalosas e infinitas? Em qual estuário o mistério da origem e do fim deve ser desvendado? A noção do mar é a mesma das ondas cuja energia destrói tudo à sua frente e à sua volta?

Se há alguma lógica na natureza, é impossível o rio ser inimigo do mar.

Antes, as respostas talvez estejam escritas na praia, com espumas e formas de conchas, areias incessantemente  lavadas em movimento eterno e, como se sabe, impossível de ler. A viagem das águas começa com as primeiras incursões de uma embarcação rústica e indeterminada − eis aí uma noção tosca do mar. A outra noção é a da Escola de Sagres, o projeto de educação náutica concebido pelo infante D. Henrique no século 15. A outra é a dos primeiros argonautas que procuraram inutilmente o rastro de Jonas, o náufrago de um deus irascível.

Não sei em qual praia do mundo o mar devolverá as minhas perguntas feitas de espanto ingênuo, como se eu quisesse aprender algum alfabeto marinho.

Pelo meu antepassado anfíbio, reencontro vestígios da minha herança em suas ondas devastadoras, em suas águas que me falam através do arrepio que percorre o meu corpo no instante em que nos abraçamos redimidos e reintegrados, após longa separação, meu doce e amaro mar.

A perenidade é a sua força: daí traduzo a minha aprendizagem, pois me comparo à sua grandeza apenas para saber-me fraco, inútil e provisório diante de sua imensidão.

É nesse momento então que me dou conta de que, por não ter nenhum mar, eu os tenho todos, oceanos e mares, retidos cada um dentro de mim− até mesmo esses córregos de bairro eu os tenho. E essa sensação, convenhamos, não me torna melhor nem pior − somente faz com que eu sinta uma estranha alegria de estar vivo e compartilhar os meus pequenos dias com os semelhantes que amo, que não são muitos e estão tão longe quanto perto.

E, melhor ainda, conseguir até agora escapar desse mar interior, o pior de todos, o mais terrível, porque invisível e implacável  − essa metáfora da solidão, da angústia e do desespero, que tudo devasta, mulheres e homens.

Tag's: Camões, crônica, Fernando Pessoa, Luís Araujo Pereira, mar

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Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

5 comentários em “Tantos mares”

  1. Ruy Rocha disse:
    24 de outubro de 2017 às 16:57

    Lindo, magnífico.

    Responder
  2. Nei Clara de Lima disse:
    24 de outubro de 2017 às 19:45

    Sob o impacto desse texto imensamente belo! Toca os nossos abismos e não nos responde nada. Apenas avisa sobre os pequenos amores, os de longe e os de perto.

    Responder
  3. Juarez Ferraz de Maia disse:
    24 de outubro de 2017 às 21:13

    Luís, tantos mares, sangra o coração.
    Como sempre, você tá imbatível. O seu texto me sacudiu.
    Parabéns e grande abraço. Juarez de Maia

    Responder
  4. Andréa Teixeira disse:
    25 de outubro de 2017 às 00:43

    Muito lindo ! Parabéns!!

    Responder
  5. Evandro Bittencourt disse:
    8 de dezembro de 2017 às 12:24

    Gostei muito, Luís! Um grande abraço.

    Responder

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