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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 29 de outubro de 2017

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
29/10/2017 em Florações

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Cinco sonetos de Ribeiro Couto

(Curadoria de Luís Araujo Pereira)

[1]

Recordação de Gonçalves Dias

Imagino-te aqui, Gonçalves Dias,

Olhando o Sena, e Notre-Dame ao fundo,

Enquanto o sabiá que sempre ouvias

Cantava nas palmeiras de outro mundo.

 

Pontes de Henrique IV… Tulherias…

Que belo, sim! Mas de outra gente oriundo,

Tua gente e teu chão não esquecias,

Nem teu imperador Pedro II.

 

Murmuro, debruçado sobre o Sena,

Tua canção do exílio e, num instante,

São Bento do Sapucaí me acena.

 

A água do rio estranho fica cheia

De imagens meigas cuja voz distante

É como um sabiá que em mim gorjeia.

̻ ̻ ̻

 

[2]

Ainda Gonçalves Dias

Mestre da barba preta e olhar ardente,

Quando escuto os queixumes do Piaga

Teu desgraçado fim está presente,

O “Ville de Boulogne” ainda naufraga.

 

Ah, não haver um braço que sustente

Teu enfermiço corpo à flor da vaga!

Nos horizontes do baixio, em frente,

Em vão de longe o palmeiral te afaga.

 

Na água do Maranhão ainda respira

O peito do poeta abandonado

Que tão perto da terra o mar traíra.

 

E nas noites de céu todo estrelado

O Cruzeiro do Sul é sempre a lira

Que procuram seus olhos de afogado.

̻ ̻ ̻

 

[3]

O estrangeiro

Andando eu por Paris num vago dia

De violetas e cinza pelo ar,

Senti que a vaga dor que me doía

Vinha mais do esquecer que do lembrar.

 

O Sena sob a chuva, como eu via,

Levando barcos lentos para o mar,

Era uma imagem da melancolia,

O adeus da Capital crepuscular.

 

A ninguém que passava eu poderia

Estender minha mão, querer falar,

Pedir fraternidade e companhia.

 

Era só, na paisagem milenar,

Paris de Santa Genoveva  ̶  e a fria

Sombra da noite sobre o boulevard.

̻ ̻ ̻

 

[4]

Horizontes de Zagreb

A planície que passa está toda nevada.

Dormem as granjas, luz nenhuma se divisa.

No chão em movimento ainda é noite fechada,

Mas não deve tardar a manhã indecisa.

 

Aos poucos, neste escuro, há sinais de alvorada:

No nascente um primeiro azul se ruboriza.

Levanta-se do campo a névoa delicada

Com gestos de mulher que despe uma camisa.

 

Brancas, pelo horizonte ondulam as colinas.

Entre bosques, ao pé dos vales de entremeio,

Fumam as chaminés vermelhas das usinas.

 

Que é que faz com que tanto o coração me bata?

Como que tudo é meu e a nada sou alheio

No gracioso acordar da paisagem croata.

̻ ̻ ̻

 

 [5]

Madrugada

Se minha mãe chegasse nesta hora

Como havia de ser o seu sorriso?

Sorriso? Não. Diria como outrora:

“É tão tarde, menino sem juízo!”

 

É tarde, não há dúvida. Ali fora

Vejo o dia nascer, ainda indeciso,

E eu a escrever poesia até agora,

Meu veneno, meu mal, meu paraíso.

 

Ao fim de tantos anos e trabalhos,

Ainda sou o menino que antes era,

Para dormir tinha que ouvir uns ralhos.

 

Se vou sempre tão tarde para a cama,

É talvez na esperança  ̶  ó vã espera!  ̶

De ouvir quem já não ralha nem me chama.

 

Rui Esteves Ribeiro de Almeida Couto nasceu em Santos (SP), em 12 de março de 1898, e morreu em Paris no dia 30 de maio de 1963. Foi escritor, jornalista, magistrado e diplomata. Ocupou a cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras. Em 1915, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Nesse período, atuou como repórter do Jornal do Commercio e, posteriormente, do Correio Paulistano. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922. Quando fixou-se no Rio de Janeiro, em 1928, foi redator do Jornal do Brasil. Viajou logo depois para Marselha a fim de ocupar o posto de vice-cônsul honorário. A partir daí, segue carreira diplomática até tornar-se, em 1952, embaixador do Brasil na antiga Iugoslávia. A sua dedicação à literatura divide-se entre vários campos de interesse: poesia, romance, conto, crônica e ensaio. Como prosador, publicou, entre outros, A Casa do Gato Cinzento (contos, 1922), A Cidade do Vício e da Graça (crônicas, 1924), Cabocla (romance, 1931), que foi adaptado para a televisão, Dois Retratos de Manuel Bandeira (1960) e Sentimento Lusitano (1961). Como poeta, escreveu o Jardim das Confidências (1921), Poemetos de Ternura e Melancolia (1924), Um Homem na Multidão (1926), Canções de Amor (1930), Noroeste e Outros Poemas do Brasil (1932), Província (1934), Cancioneiro de Dom Afonso (1939), Cancioneiro do Ausente (1943), O Dia É Longo (1944),  Rive Etrangère (1951), Entre Mar e Rio (1952), Le Jour Est Long (1958), Poesias Reunidas (1960) e Longe (1961). Os poemas selecionados para a coluna Florações são do livro Longe (Civilização Brasileira, 1961), escritos quase todos em Belgrado.

 

 

Tag's: literatura, poesia, poesia brasileira, Ribeiro Couto

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1 comentários em “Cinco sonetos de Ribeiro Couto”

  1. Silvia Lucia Bigonjal Braggio disse:
    29 de outubro de 2017 às 22:14

    Muito lindos e doloridos!

    Responder

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