• Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • No Goiás
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter

ERMIRA

  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter
  • Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • No Goiás
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 23 de fevereiro de 2018

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
23/02/2018 em Florações

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp
← Voltar

Cinco poemas de Salomão Sousa

(Curadoria de Luís Araujo Pereira)

 

[1]

Escudo

pendido sobre o forjado escudo de Hefesto

por mando de Tétis, a irada deusa

aguarda o mortal sob os emblemas

de brigas, pirâmides de outras crenças

horto de outras frutas, entrelaces de insetos

conhecidos e outras pragas extintas

protozoários a roer pais de forte estirpe

estudantes arremessados de um meio-fio

e pensa na imortalidade com os reveses

da impotência, tivesse o escrínio de impedir

a extirpação do Universo, tivesse a força

de abafar o sopro nos lábios do Homem

ainda que por prêmio vencesse na biga de ouro

com as éguas aveludadas em verdes campos

hordas de bravos guerreiros empurradas

para as lamas de Escamandro, reabilitado rio

lentamente, contínuo combater as lêndeas

de mais um dos cem mil crepúsculos

̻ ̻ ̻

[2]

Fascínio

tenho de pensar em meus atos todas as manhãs

as pronúncias de admirar e de ser admirado

rir em Quito, M’rirt, Ponta de Campina

 

deve ser admirável ser desejado pelo alquimista

aí serei a perfeição do capacete, do piolet, do camalot

da mochila, do gri-gri e do crampon

também ser admirado pelo pescador

pois saberei que sou o bom barco

a boa corda, a rede abraçada ao tubarão-martelo-liso

também ser admirado pela mãe

pois aí eu me saberei a polpuda laranja

o submerso figo, o filho

 

esqueça-me a pronúncia do fascista

ai teria de ser o bom campo de extermínio

para a mãe e o alquimista. teria de ser

a corda para a forca do pescador e de mais mães

 

admire-me o melro no fascínio do canto

e serei a semente de capim para a devora

admirem-me em círculos os urubus

e serão úteis numa ceia os meus olhos

̻ ̻ ̻

 

[3]

Enquanto apodrece

Se te enclausuras em teu quarto

deixas o vazio num café

Se te encontras entre as tendas

não te sigo quando vou pela ravina

 

Se te segredas na luz de um cinema,

não te expões na superfície do pântano

Se com o acompanhante ris ao virar a esquina,

não apalpamos os cachos numa videira

 

Enquanto orientas o motorneiro,

o touro roça o ventre enquanto é sol

Enquanto é claridade em teu dorso

o estrangeiro aguarda no entreposto

 

Perdido consolo por não plantarmos

a semente em covas íntimas da gentil genitália

Enquanto não resgato dois versos

de preencher a exaustão do vazio de uma linha

 

Ensinas o vazio numa fronteira,

no entanto o diálogo se retrai num cárcere

Enquanto fascinas no orvalho da praça,

na beira da isbá gravitam ladrões do fogo

̻ ̻ ̻

 

[4]

Biografia do abacaxi

Não é um inimigo, mas também

não se apresenta com olhos róseos

e anuências de facilidades às apalpadelas.

Se há sensualidade é em esgrimir

ácido com a língua.

Nasce entre espetáculos explosivos

em salvaguarda do crescimento,

espadas cortantes cercam a floração

de expectante vermelho apoiado

em concha branca, onde reserva água,

atrai insetos, tessitura de aranha

e meus olhos.

 

Mas também tudo é explosivo

e na defensiva se a ameaça

ronda em constante gume.

Desenha-se por força

de poliedro oblongo

de expectantes raios de ranhuras,

numa composição firmada

em contrato com algum multiplicador

de facetas, espelhamento

de um caleidoscópio raivoso de luz.

Não copia a formação em olhar-se,

talvez multiplicação dos dejetos

da luz do Sol a secar a crosta

para a possibilidade do acúmulo líquido.

Nos quintais é aguado e solitário,

silencioso solilóquio com o extremo

de ampliar bastões de folhagem.

A majestade está em apresentar-se

esventrado sol espectral a cada corte,

porejando atraente ranho.

 

Quem compreende a explosão de rosáceas

salivará ao contato de ácidas linhas de cristais.

̻ ̻ ̻

 

[5]

Refém da palavra

nasci para ser refém da palavra

posto a fraude para que ela me defina,

grosso, impaciente, e também me acuse

entre dúvidas do que vem para

jogar petição ou ruído em meus beirais

jogos de ruídos nos ouvidos são banais

como as mãos a deslizarem até a coceira

 

o ruído amesquinha a palavra

e dele também sou fugitivo

e ele me persegue e alcança,

notificação em locais improváveis

com a liberação de minhas atividades

seguir pela beira de calçadas

onde formigueiros não conseguem durar

até o próximo julgamento

 

entendia-me fora dos processos

nas definições que eu mesmo deliberei

rolamentos se juntam às conexões

das árvores e não geram nenhuma fricção

ou movimento, por mais que eu pare

e incentive-os e os retorça

não acreditar nunca que são as fezes de um cão

entre as poucas touças

as futuras mãos vão deslizar até os anais

e roçarão as sujeiras incrustadas

 

surgem alguns versos que poderiam

valorizar a ordem da cidade e são iguais

aos ruídos das decisões

que não contêm nenhum heroísmo

as palavras vivem do que digo

e desejo dar-lhes de significado

outras fricções em rolamentos

de justos encaixes, touças

para esconder fezes

e geramos autos e liminares

 

depois de convocado, surgem

as interpretações do lixo

antenas de insetos, asas e palavras

nalguma compostagem de decisões

se em mim mesmo apodreço,

se apodrecem as formigas mortas,

a relva onde surge a nova trilha

 

como refém da palavra, ela me impõe

a condenação para a chave de ouro

mas quem disse que estou preocupado

em cumprir suas ordenações?

o verso isolado lança a convocatória

e, refém, me rendo indo ao seu distrito

 

enquanto caminho, um homem

manchado de toda tinta de sujeira,

talvez descrente, defeca junto ao tribunal

não compreendo se o verso

que me convoca é meu, da palavra

ou de quem defeca ao pé de uma cerca:

antena-te às besouras do meu lixo

Perfil

Salomão Sousa é natural de Silvânia (19/9/1952) e reside em Brasília desde 1971. É formado em Jornalismo, que exerce como funcionário público do Ministério da Fazenda na área de assessoramento parlamentar. Começou aos 15 anos, ainda em Silvânia, a escrever poemas. Na década de 1970, participou parcialmente do movimento Poesia Marginal com Esbarros, entre outros pequenos folhetos. Nesta época, assim Jorge Amado autografou num dos livros que lhe enviou: “Um poeta de primeira ordem — original e humano, sensível e consciente. Poesia que não é cera, é chama.” Está inserido na Antologia da Nova Poesia Brasileira (1992), de Olga Savary, e na A Poesia Goiana do Século XX, de Assis Brasil. Organizou em 2008 a antologia Deste Planalto Central — Poetas de Brasília, como parte da I Bienal Internacional de Poesia da Biblioteca Nacional de Brasília. A UBE, Seção de Goiás, concedeu-lhe, em 2011, o Troféu Tiokô.  Participou como representante da língua portuguesa, em 2014, do VI Festival las Lenguas de América/Carlos Montemayor, do Centro Cultural Universitário, da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam). Atualmente, é da diretoria da Associação Nacional de Escritores. Mantém os blogs www.safraquebrada.blogspot.com,  www.poesiagoiana.blogspot.com e www.salomaosousa.blogspot.com. A escritora Sônia Elizabeth Nascimento Costa considera Salomão Sousa um “poeta genuíno, dos mais criativos e modernos na linguagem atual”. Após a leitura de Vagem de Vidro, assim ela se expressou nas redes sociais: “tem um poder tão magnífico e estrutural de criação, que nos deixa verdadeiramente embriagados de sua poesia. Não são versos fáceis de se ler, não existe um entreguismo de linguagem pronto e acabado, é todo um trabalho artesanal de tessitura com fios de seda e prata, alinhavados de puro ouro. É poesia que quase beira o cru (numa interpretação mais embrionária), mas que converge em tudo para o SER, a decifração da vida humana em todos os seus enigmas e fatos cotidianos, onde traduz tudo isso no esquema apocalíptico de transcrever o existente no que pode advir, sem hesitar e sem retroceder.” A obra poética de Salomão Sousa mereceu abordagem crítica de diversos autores, tais como Ronaldo Cagiano, Hildeberto Barbosa Filho, Adalberto Queiroz, Goiamérico Felício, Ronaldo Costa Fernandes, José Fernandes, Whisner Fraga, Geraldo Lima, entre outros. Publicou os seguintes livros: A Moenda dos Dias (1979), A Moenda dos Dias/O Susto de Viver, (1980), Falo (1986), Criação de Lodo (1993), Caderno de Desapontamentos (1994), Chuço (zine xerocopiado, 19 números até 1999), Estoque de Relâmpagos (2002), Ruínas ao Sol (2006), Safra Quebrada (poesia reunida, incluindo dois inéditos, 2007), Momento Crítico (reunião de textos críticos, crônicas e aforismos, 2008), Vagem de Vidro (2013), Descolagem (antologia de poesia, 2016), Despegues y Ressonancias (plaquete de poesia, 2017). Os poemas estampados nesta coluna são dos livros Desmanche I, Desmanche II e Biografia.

Tag's: Brasília, poesia, poesia goiana, Salomão Sousa

  • O mundo caduco de Bob Dylan e Carlos Drummond de Andrade

    por Paulo Manoel Ramos Pereira em Veredas

  • A pluralidade histórica e os sistemas de valor

    por Marielly Romeu Marcelino em Matutações

  • Flaubert, Machado e Proust: um triângulo estético da modernidade

    por Gilberto G. Pereira em Veredas

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Deixe um comentário (cancelar resposta)

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

ERMIRA
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter