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Foto: Marcello Dantas
Foto: Marcello Dantas
Foto: Marcello Dantas

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 24 de março de 2018

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
24/03/2018 em Florações

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Cinco poemas de Walacy Neto

(Curadoria de Luís Araujo Pereira)

[1]

Estou nele

Uma palavra sozinha

é desenho.

Se coloco um fio

entre ela e o vento

uma palavra           voa

voa.

 

Meu serviço:

assistir da janela lateral

pequenos aviões que pasmam,

enquanto ligo fios entre

palavras,

enquanto deixo tudo mais

elétrico.

 

Caso chova

molho a caneta na nuvem

e tudo fica mais lágrima

menos aventura.

 

Caso amanheça

coloco o poema no varal

escuto gorjeios de avião

que saem da folha.

 

Certa vez

matei o medo

e estou vivo.

 

Certa vez

inventei um bocó qualquer

e estou nele.

 

Pretendo com isso tudo

quase nada

como fazer um belo bordado

depois desmanchá-lo.

 

Este, quando pronto, se chamará:

Muito Pelo Contrário.

̻ ̻ ̻

 

[2]

Perigoso

O que ultrapassa o papel vira

verdade.

Por isso o significado corre vazado de

poesia, e

metáfora é um negócio muito

perigoso.

Sei, sou um cara muito enrolado

que tem medo e o verbo cru

lhe mastigando a boca

a cada verso, em cada valsa.

A palavra vira doce,

saliva, virando nuvem

outra coisa.

 

Penso em comer o que há de leve

temperar a língua

da boca de outra pessoa

contar uma mentira

viver como uma palavra

perigoso como uma metáfora.

 

Penso em ouvir com a língua

desenhar com a saliva

na orelha e inundar os olhos

ultrapassar o que penso sempre.

 

Não só para poesia

sou todo ouvidos.

̻ ̻ ̻

 

[3]

Fora

Eu crio. Pelo silêncio invento o

estado mais suave que chamam

permanência. Se abro a boca

desfaço o lindo laço na garganta,

uma espécie de presente dado pela

ausência e pela dúvida. Sempre dormi

calado, acordei calado e às vezes

calado viro pro lado e vejo alguém

dizendo um “oi” usando o olho ou

um gesto. Como se a palavra se

desenhasse nesses movimentos. Às

vezes afirmam que meu lábio

cerrado é manifesto. De um modo

ridículo confundem meu jeito

sisudo com um ato político. Minha

guerrilha são soldados de vento

derrubando placas do centro, e o

armamento inclui apenas o poder

do mofo crescendo em silêncio no

lote vazio. Eu crio minha

permanência, me aproximo assim

da eternidade, e sigo influindo o

mínimo de problemas aos outros

que caminham pela cidade. Eu crio

paz, poeira e até mesmo saudades

um tanto rasas fazendo silêncio,

sumindo calado no vazio.

̻ ̻ ̻

 

[4]

Dentro

O menino novamente faz

perguntas. Ele é um mau espírito,

acredita que essas manifestações

vão mudar o mundo, meu anjo. Tem

a língua fácil de derrapar ao

aproximar do que chamamos

respostas. Ele tem a língua como

um algodão-doce, desfaz as

certezas pedaço por pedaço,

palavra por palavra. Balanço a

cabeça, repetidamente, como se o

menino fosse um pássaro dando

rasantes na minha cabeça. Ele volta

a fazer perguntas. Fuja para dentro

e lá estão os olhos do menino

penetrantes. De fora também estão

os dois olhos pontiagudos no

semáforo, nas coisas simplesmente

postas no lugar e na mancha de

lodo na parede. Esse menino é um

mau espírito, e apagar sua voz seria

como inverter o vento ou conseguir

colocar a nascente de um rio nos

olhos do peixe:

 

̶  Mas assim dizer que “nosso amor

é o maior” não é colocar os outros

amores reduzidos a pó?

 

O menino novamente faz

perguntas, desta vez para mim. Não

posso responder àquilo que me

cega, meu anjo. Dizer que “sim” ou

“não” me aproxima da realidade e

entre suas dobras me perco e só

encontro o sabor azedo das coisas

apodrecendo.

 

̶  Você disse que esse é o melhor

dia de nossas vidas e assim sepulta

a possibilidade de dias melhores?

 

̶  Detenham-no! Eu suplico.

̻ ̻ ̻

 

[5]

Fora

Eu deveria falar disso cantando, não

consigo. Gosto de ouvir calado.

Outro dia, ouvi na letra de uma

canção que reconhecer-se é

também perceber quão incompleto

se é. Imaginei um fotógrafo olhando

para a foto,  pensando que apenas

admirar a paisagem seria uma

captura, uma representação bem

mais ampla. Eles deveriam falar

disso por escrito (o músico, o

fotógrafo), colocar o reconhecer de

um lado e o perceber do outro.

Fazer uma linha entre os dois,

talvez um gráfico. Os dias se

assemelham mais às letras no papel

̶  perfeitamente enfileirados  ̶  do

que com notas dissolvidas pelos

dedos no violão. Eu deveria chegar

perto do músico, ouvir a canção

fazendo da minha solidão uma

festa, e uma trilha sonora impulsiva

dizendo algo como “vamos para

dentro, meu anjo”. Para o fotógrafo

eu explicaria que registrar um

momento não significa notar pontos

vazios, admirar esses pontos. Na

fotografia, o registro do real

impossibilita ver que dentro ou

mesmo entre tanta carne pode

habitar um menino. Queria explicar

pros dois amantes da vida que o

silêncio e a ausência têm presença

maior, dizer que uma angústia às

vezes é mais concreta que o violão,

a máquina fotográfica. Deixaria os

dois mudos e sairíamos calados em

bando, percebendo e

reconhecendo que dentro de tudo

sempre cabe mais um nada.

Perfil

Walacy Neto nasceu em Itaberaí (GO). Criou o selo literário Zé Ninguém, que publica fanzines e promove saraus em Goiânia com o intuito de tirar poetas da gaveta. Participou em 2015 da exposição coletiva Poesia Agora, no Museu de Língua Portuguesa. Participou também das três últimas edições da Balada Literária, em São Paulo. É um dos editores da revista literária Caroço. Em 2017, publicou Muito pelo Contrário, seu primeiro livro, que reúne poemas e prosa poética, pela Nega Lilu Editora, e integrou ainda a coletânea Antologia Clandestina, organizada por Mazinho Souza, que divulgou vários autores do coletivo Poesia Marginal Goiânia.

 

Tag's: literatura goiana, Muito Pelo Contrário, poesia, poetas goianos, Walacy Neto

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2 comentários em “Cinco poemas de Walacy Neto”

  1. Nei Clara de Lima disse:
    24 de março de 2018 às 18:39

    Que beleza e que potência os poemas do Walacy Neto!

    Responder
  2. Ronaldo Marinho disse:
    25 de março de 2018 às 05:26

    Como leitor deste produtor de conteúdo, asseguro que o Walacy demarca terreno fértil na Literatura Brasileira Contemporânea. Suas poesias encantam através do domínio no uso da palavra. A irreverência e o tato relevante sobressaem. Li e reli “Muito Pelo Contrário” e destaco que é questão de ótima oportunidade adentrar no texto e contexto deste escritor goiano. O cara é realmente um Inventor!

    Responder

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