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Imagem: Salvator Mundi
Imagem: Salvator Mundi
Imagem: Salvator Mundi

Gérard Emmanuel da Silva em Rupestre Poeta e historiador | Publicado em 13 de abril de 2018

Gérard Emmanuel da Silva
Poeta e historiador
13/04/2018 em Rupestre

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Um falso Da Vinci no “Louvre” de Abu Dhabi

De Paris – Encontrado em 2005, restaurado e apresentado em 2011, durante uma exposição na National Gallery, em Londres, um Salvator Mundi, atribuído a Leonardo da Vinci, tornou-se o quadro mais caro do mundo, vendido pela “módica” quantia de 450,3 milhões de euros. O feliz proprietário é Mohammed ben Salmane,  príncipe herdeiro da Arábia Saudita, cujo interesse pela arte parece algo secundário, ocupado que está em promover a guerra que financia no Yêmen.

Em sua edição de 16 de novembro de 2017, Le Figaro interroga: “Distraída como uma nuvem, não é que a casa Christie’s por pouco não foi derrotada pela sua rival Sotheby’s, a única capaz de concorrer com ela? Na noite do dia 15 de novembro, a Christie’s totalizou 785,9 milhões de dólares (664,7 milhões de euros) por 49 lotes arrematados, num total de 58, soma essa obtida em grande parte graças à adjudicação recorde de 450,3 milhões de dólares (380,8 milhões de euros) para Salvator Mundi, de Leonardo da Vinci”. O que está em jogo é, pois, uma questão de ordem especulativa.

No plano político, Macron fez uma visita a Abu Dhabi para a inauguração do “Louvre” local, que vai expor o Salvador Mundi.  A  rádio Europe 1, pró-Macron, emitiu o seguinte comentário, no dia 16 de dezembro: “É um holofote excepcional para esse novo museu, que o homem forte dos Emirados, o xeique Mohammed ben Zayed Al-Nahyane,  qualificou  de ‘monumento cultural mundial’, à ocasião de sua inauguração em 8 de novembro, na presença do presidente francês Emmanuel Macron.”  Era “preciso” que  esse quadro fosse um Leonardo da Vinci, tanto para a casa Christie’s como para os milionários dirigentes da Península Arábica, tendo Macron como intermediário do capital.

O Salvador Mundi afigura-se, acima de tudo, como o redentor simbólico –  senão o protetor  – de um capitalismo mundializado e gangrenado por uma bolha especulativa letal. Porque, mesmo com a melhor boa vontade do mundo, não é possível acreditar que essa obra desajeitada possa ser assinada pelo gênio do Renascimento. A mão direita, por exemplo, é muito malfeita, comparada àquela da tela retratando são João Batista e, além do mais, é desprovida do sfumato  exclusivo de Da Vinci. O vestuário, então, é de uma reconstituição primária. A expressão do rosto e o olhar estão próximos de um certo grau de ininteligência, incompatível com um Salvator Mundi! Nenhuma representação masculina do artista é tão mal-ajambrada quanto esta. Além disso, o fundo neutro e o cabelo são muito inferiores em comparação ao que se vê em Retrato de um músico, do artista florentino.

Salvator Mundi

O Salvator Mundi adquirido pelo “Louvre” de Abu Dhabi: autenticidade questionada

Poder-se-ia, pois, deduzir que se trata de uma obra realizada por um discípulo direto de Da Vinci. Mas essa dedução não faria justiça a Bernardino Luini, Boltraffio ou Francesco Melzi, muito superiores, nem que seja só tecnicamente. Existe um Salvator Mundi de outro discípulo, Marco d’Oggiono, que permite uma comparação. Nesse quadro, é notável que a mão esquerda esteja completamente representada, segurando o globo. Ao passo que o autor do Salvator Mundi pretensamente atribuído a Da Vinci, consciente de seus limites, não se arrisca a representar a mão completa e, menos ainda, não sabe reconstituir o polegar.

São João Batista

São João Batista, de Leonardo da Vinci: obra-prima traz expressos os traços do artista

O mais lamentável é ver o “perito” – que deu essa falsa atribuição de autoria – fazer a história da arte recuar a um estágio anterior aos famosos Studi di critica d’arte sulla pittura italiana, que o grande Morelli publicou nos anos 1890-1893. Nesses estudos, Morelli demonstrou como o estilo “leonardiano”, estabelecido sem nenhuma precisão antes dele, permitiu atribuir a Da Vinci, em muitas coleções, a autoria de obras cuja qualidade é muito medíocre. De modo exemplar, Morelli teve sucesso ao estabelecer um corpus diferenciando os discípulos e seguidores de  Da Vinci  em relação ao Mestre em pessoa , com a adoção de critérios precisos e justificados para cada um deles.

Responsável por atribuir o Salvator Mundi a Da Vinci,  Martin Kemp caiu no ridículo ao pretender que essa pintura, grosso modo, “leonardesca”, seja de autoria do Mestre. Mas a lógica especulativa age assim mesmo, afastada que se encontra da realidade. Ela tem necessidade da figura do perito para justificar a fraude que está na origem do lucro ilícito ou desigual.  É o que acontece também em economia, e um prêmio Nobel na matéria usou do mesmo expediente para dar seriedade científica a práticas especulativas “podres”, até mesmo ilegais, no seu princípio. E a arte, transformada em mercado de arte, precisa também por razões geopolíticas e econômicas, da figura do expert para vender um “ativo podre”, uma tela vagamente “leonardesca”, por um extraordinário  investimento: uma obra de Leonardo da Vinci.

A investigação deve, pois, continuar. Parece que o pintor florentino pintou um Salvator Mundi, do qual só restam algumas cópias, como a obra que vai agora reinar no Louvre de Abu Dhabi. Onde se encontra o original? Sem dúvida, ele se perdeu. Já não é mais possível, a esse Salvador do Mundo, libertar o capitalismo e a arte como negócio. Pelo menos, nós podemos nos consolar com o sorriso da Mona Lisa.

(Tradução de Luís Araujo Pereira, com colaboração de Rosângela Chaves)

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