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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 1 de outubro de 2018

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
01/10/2018 em Florações

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Cinco poemas de Jorge Wanderley

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

Um rio. Recife

Nada se sabe do que me resolve

as águas que disfarço das margens

para não perturbar simetrias,

casinholas,

pequenos barcos falecidos na lama

                   (principalmente um

                          ̶   verde   ̶

                     meio adernado

                     perdida sua alma de barco:

                     os ratos não precisaram abandoná-lo,

                     morreu atolado como um trator,

                     morreu sem a salvação dos mistérios das águas).

 

Vou comportado em destinos cartográficos,

previsto em duas marés alternadas

uma régua fluida que mede o tempo:

               mas vejo.

 

Sei coisas que não direi (como um pomar de braços

que poderia galgar até mulheres nuas).

Sei coisas rudes e miseráveis

resumidas num caranguejo dentro de uma lata

ou gritantes como o corpo que é navio

de ratos, de pequenos insetos.

Não direi.

Mas sei.

 

Custa caro me devorar a mim mesmo

e ser sempre passado.

Minha permanência é uma proposição insolúvel

mas ao mesmo tempo, cinturão do mundo,

conheço todos os ossos e todas as dores,

incorporo todas as pontes:

esqueço mas não esqueço.

Foi a partir de minhas águas

que descobriram: a memória

é algo destinado à diluição ou à revolta.

• • •

 

[2]

À espera

À noite, ao mar da luz de Aldebarã

servimos sobre a areia nossas almas

cansadas, silenciosas, a um deus

que delas não fez uso nem ouviu

nosso canto final.

 

Um horizonte de algas nos cercava

e sentíamos nossos limites como os dedos

extremados, últimas folhas na invernia.

Um luar, como esgotado, nos ouvia

a respirar, somente, o ar, as nuvens.

 

Inumeráveis corpos em fileiras,

à beira do mar estávamos.

                A barca não chegou, que nos levasse,

                a luz não rebentou, que nos queimasse,

                ninguém soube ninguém de Aldebarã

• • •

 

[3]

Água alheia I

“O silêncio natural das árvores”,

               sim,

mas não disseram que há telefonias

de folha a folha, tratando talvez

do tempo, dos gaviões ou do sol da manhã.

 

O “teto tranquilo, onde andam pombas”,

                 sim,

mas nem sempre tranquilo nem cioso

de suas brancas almas de velas,

suas almas que ouvíamos ontem.

 

“Complacências do peignoir e um café tardio”,

                 sim,

mas não se via a curva, apenas subentendida,

do seio destinado a alucinar adolescentes

e que a vermes se condenava, como simples maçã.

 

E a trompa de Rolando, sim, que também já ouvi

e lamentei nos equívocos que obrigam a entender

(embora muito tarde)

que o que foi dito, como sempre, pode apenas

o que acode às palavras:   ̶   metade.

• • •

 

[4]

Do glossário: árvores

Relativas à palavra “chuva”

e à palavra “sombra”.

Também a frutos e raízes.

Contêm pássaros.

Neles, elas cantam.

 

De sua fala própria

se diz que farfalham.

 

Aglomeram-se em parques,

jardins e bosques

e florestas (q. v.)

 

Atendem

(não atendem)

por nomes diversos.

 

Às vezes solitárias,

mostram mistério maior.

 

Comunicam-se entre si

por meios invisíveis aos homens.

 

São todas uma só.

• • •

 

[5]

In tabula

Havia uma janela no seu peito

que dera fuga à sua vida.

Não era janela gênero Magritte

nem era ele o “dorminhoco do vale”:

estava lá, branco/verde como o Cristo Morto de

Mantegna.

 

Estendido na mesa do hospital,

ninguém chegava perto

como se um campo magnético impedisse

que alguém se avizinhasse:

em torno dele o silêncio e a deserção

cresciam expandindo a clareira

até hoje que lembro iluminada.

 

Um seu amigo chorou, de longe.

Fez uma frase assintática

“E meu amigo que ele era em mim tanto”

ou qualquer coisa parecida.

Enfermeiras veteranas desciam dos andares

para ver: viam de longe

olhando por cima dos ombros das outras

falando baixo.

Não penetravam o espaço mágico

do homem branco e verde com a janela no peito.

 

Em alguma parte da cena eu olhava também

de minha janela.

Perfil

Jorge Eduardo Figueiredo de Oliveira Wanderley nasceu no Recife (PE), no dia 21 de janeiro de 1938, e morreu na mesma cidade, em 12 de dezembro de 1999. Formado em Medicina, com especialidade em Neurocirurgia, abandonou a carreira em 1981 para se dedicar integralmente à literatura. Em 1976, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez mestrado e doutorado em Letras na PUC (RJ). Em seguida, passou a dar aulas na UERJ. Tornou-se exímio tradutor, o que lhe rendeu um Prêmio Jabuti e “ofuscou a sua produção poética pessoal”. Em quatro décadas, escreveu os seguintes livros de poemas: Gesta e outros poemas (1960), Adiamentos (1974), A casa navega (1975), Coração à parte (1979), Mesa/musa (1980), A foto fatal (1986), Anjo novo (1987), Homenagem: Dez sonetos (1992), Manias de agora (1995), O agente infiltrado (1999). Escreveu ainda Arquivo/ensaio (1993), que reúne artigos de critica literária. Como tradutor, organizou antologias e divulgou poetas pouco conhecidos do público. Cemitério marinho,  de Paul Valéry (1974),  Sonetos, de Shakespeare (1991), Antologia da nova poesia norte-americana (1992), 22 ingleses modernos: Uma antologia (1993), Os 25 melhores poemas de Charles Bukowski (2003),  Do jeito delas, vozes femininas de língua inglesa (2008),  Inferno,  de Dante Alighieri (2004), estão entre os livros traduzidos por ele. Além desses livros, traduziu ainda poemas de Sylvia Plath, Marianne Moore, Elizabeth Bishop, Anne Sexton, Richard Wilbur, Jorge Luis Borges, Lawrence Durrel, entre outros. Em prefácio a Jorge Wanderley: Antologia Poética (2001), organizada por Márcia Wanderley, o professor e crítico João Alexandre Barbosa, comentando os elementos mais marcantes de sua obra poética, escreve que o autor tem “uma grande facilidade para o uso da linguagem, para as normas fixas e livres da poesia, aliada a uma, por assim dizer, confiança no lirismo de cunho pessoal a que não falta, é bem de ver, o traço moderno, ou mesmo modernista, da ironia e do coloquial”. Nessa mesma antologia, em texto para orelha, Sebastião Uchoa Leite afirma que “quem atravessa a sua obra poética, sai com a impressão, não de uma obra numa evolução contínua e direta, mas em ziguezague, parecendo ir numa direção e voltando-se para uma outra”.

Tag's: Jorge Wanderley, poesia, poesia brasileira, poeta recifense

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