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Foto: Mario Espinheira
Foto: Mario Espinheira
Foto: Mario Espinheira

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 27 de novembro de 2018

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
27/11/2018 em Florações

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Cinco poemas de Ruy Espinheira Filho

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

 

[1]

Descoberta

Só depois percebemos

o mais azul do azul,

olhando, ao fim da tarde,

as cinzas do céu extinto.

 

Só depois é que amamos

a quem tanto amávamos;

e o braço se estende, e a mão

aperta dedos de ar.

 

Só depois aprendemos

a trilhar o labirinto;

mas como acordar os passos

nos pés há muito dormidos?

 

Só depois é que sabemos

lidar com o que lidávamos.

E meditando sobre esta

inútil descoberta

 

enquanto, lentamente,

da cumeeira carcomida

desce uma poeira fina

e nos sufoca.

• • •

 

[2]

Carlos Anísio Melhor

Sobre o balcão mais sórdido da rua

põe o poeta a pastar sua Quimera,

que nos fascina e logo se insinua

em cada  um  ̶  senhora, bela e fera.

 

É noite ainda, sim, mas outra, funda,

que essa magia urina em nossas veias:

grinalda misteriosa nos circunda

de perfumes, sussurros, suaves teias

 

de amavio… E bebemos, com o poeta,

amores idos já, tornados alma,

auréolas de silêncio, água quieta

embalando Memória, Tempo e Calma.

 

Bebemos com o poeta, que suscita

luas agônicas  ̶  e as dilui

em nossos copos. Negro vento agita

os escombros da noite: quem possui

 

a chave do Sossego? o segredo

das mãos pacificadas? a poção

do hálito feliz? quem tem o ledo

condão de aceitar seu coração?

 

Ninguém, ninguém! Só resta o viajar

para Profundo, e Alto, e Mais Além!

A um gesto do poeta, ergue-se o bar

e a vertigem da viagem rompe, vem

 

nos habitar. E eis que só ela é.

E é o Sonho, o Sonho! Já nos integramos

em seu ser. Uma estrela vem até

nossos olhos, e os beija. E sonhamos.

 

Este é o nosso País, a nossa Era

̶  muito acima da hora magra e agra  ̶

que, soltando a pastar sua Quimera,

o anjo Anysius ilumina e sagra!

• • •

 

[3]

Enquanto

Um dia recordarei

que aqui estive, assim, à brisa

de janeiro, folhas verdes

acenando sobre o muro,

céu azul, silêncio,

                               como

lembro a tarde em que cruzaste

o leito seco do rio,

as tranças ruivas e longas,

os seios ainda dormindo

na blusa

                      e além: na infância.

 

Um dia recordarei

esta hora, estas palavras

que se escrevem leves como

a brisa, e com ela passam

para o jardim em que lembra

a minha alma

                             enquanto

tarda o tempo de esquecer.

• • •

 

[4]

Canção da alma estagnada

Faz tempo que não escrevo.

Mas como escrever, se nada

ouço em mim, se nem um sopro

se move na alma estagnada?

Tudo cessou. Uma ausência

é só o que sinto onde havia

aquela que refulgia

em amplas marés de sonhos

e, às vezes, como o luar,

derramava-se  ̶  infinita

de caminhos, como o ar.

Aquela que foi assim

e agora é só um vazio,

pois que em almas estagnadas

nada é  ̶  como num mundo

de onde partiram as fadas

• • •

 

[5]

Soneto do sono

A tarde é tão serena que parece

vir do hálito que sobe do teu sono.

Vejo-te ir nas nuvens do abandono,

comovido de calma. A tarde desce

 

ao longe, sobre o mar. Mas lenta e leve,

como a exala o sonho desse sono.

E tudo, enfim, é o sopro do abandono

e o seu sussurrar na mão que escreve.

 

Dormes como num voo. Como se fosse

quando o tempo era jovem. E então me sinto

pleno de mar e luz e céu  ̶  e sou

 

soberbo e claro por estar absorto

no abandono desse pó de estrelas

que se juntou para inventar teu corpo.

Perfil

Rui Alberto de Assis Espinheira Filho nasceu em 12 de dezembro de 1942, em Salvador (BA), onde reside. Graduou-se em Jornalismo, tornou-se mestre em Ciências Sociais e doutor em Letras pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Em 1999, foi distinguido com o título de doutor honoris causa pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. É professor do Instituto de Letras da UFBA e membro da Academia de Letras da Bahia e da Academia de Letras de Jequié. Além de poeta, é também jornalista, romancista, contista, ensaísta e cronista. Publicou os seguintes livros de poemas: Heléboro (1974),  Julgado do Vento (1979), As Sombras Luminosas (1981, Prêmio Nacional de Poesia Cruz e Sousa), Morte Secreta e Poesia Anterior (1984), A Guerra do Gato (1987, infantil), A Canção de Beatriz e Outros Poemas (1990), Antologia Breve (1995), Antologia Poética (1996), Memória da Chuva (1996, Prêmio Ribeiro Couto da UBE de 1998), Poesia Reunida e Inéditos (1998), Livro de Sonetos (2000, 2.ed., revista, ampliada e ilustrada), A Cidade e os Sonhos/Livro de Sonetos (2003), Elegia de Agosto e Outros Poemas (2005, Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras e Prêmio Jabuti). Como prosador e ensaísta, publicou mais de dez títulos. Pela importância de sua produção literária, os seus poemas e contos integram diversas antologias, no Brasil e no exterior (Portugal, França, Itália, Espanha e Estados Unidos). Em texto para o livro Poesia Reunida e Inéditos, Alexei Bueno considera que a obra de Ruy Espinheira Filho, quando “lida num fio, mostra uma perfeita combinação de variedade e unidade, é um ‘poeta da memória’”. E continua em outro trecho: “E poeta da memória no mais legítimo veio da língua, nessa sensação de exílio do que se passou  ̶   pois como todo o tempo, como toda a vida, é exílio  ̶   que reproduz no agora temporal aquele que geograficamente viveram alguns de nossos maiores, de Camões a Camilo Pessanha, ou biograficamente o nosso imenso Pessoa, e todos a um só tempo nesse exílio obrigatório que é a solidão, outro tema presente, em suas várias origens, na obra de Ruy Espinheira”.

 

 

Tag's: poesia, poesia baiana, poesia brasileira, Ruy Espinheira Filho, Salvador

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