• Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • No Goiás
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter

ERMIRA

  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter
  • Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • No Goiás
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 28 de janeiro de 2019

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
28/01/2019 em Florações

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp
← Voltar

Cinco poemas de Bertolt Brecht

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

A primavera

1

A primavera chega.

O jogo dos sexos se renova

Os amantes se procuram.

Um toque gentil da mão do seu amado

Faz o peito da moça estremecer.

Dela, um simples olhar o seduz.

 

2

Sob nova luz

Aparece a paisagem aos amantes na primavera.

Numa grande altura são vistos

Os primeiros bandos de pássaros.

O ar se torna cálido.

Os dias se tornam longos

E os campos ficam claros por longo tempo.

 

3

Desmedido é o crescimento

Das árvores e pastagens da primavera.

Incessantemente fecunda

É a floresta, e os prados e os jardins.

A terra faz nascer o novo

Sem medo.

 

[2]

A emigração dos poetas

Homero não tinha morada

E Dante teve que deixar a sua.

Li-Po e Tu-Fu andaram por guerras civis

Que tragaram 30 milhões de pessoas

Eurípedes foi ameaçado com processos

E Shakespeare, moribundo, foi impedido de falar.

Não apenas a Musa, também a polícia

Visitou François Villon.

Conhecido como “o Amado”

Lucrécio foi para o exílio

Também Heine, e assim também

Brecht, que buscou refúgio

Sob o teto de palha dinamarquês.

 

[3]

A cruz de giz

Eu sou uma criada. Eu tive um romance

Com um homem que era da SA.

Um dia, antes de ir

Ele me mostrou, sorrindo, como fazem

Para pegar os insatisfeitos.

Com um giz tirado do bolso do casaco

Ele fez uma pequena cruz na palma da mão.

Ele contou que assim, e vestido à paisana

Anda pelas repartições de trabalho

Onde os desempregados fazem fila e xingam

E xinga junto com eles, e fazendo isso

Em sinal de aprovação e solidariedade

Dá um tapinha nas costas do homem que xinga

E este, marcado com a cruz branca

É apanhado pela SA. Nós rimos com isso.

Andei com ele um ano, então descobri

Que ele havia desfalcado minha caderneta de poupança.

Havia dito que a guardaria para mim

Pois os tempos eram incertos.

Quando lhe tomei satisfações, ele jurou

Que suas intenções eram honestas. Dizendo isso

Pôs a mão em meu ombro para me acalmar.

Eu corri, aterrorizada. Em casa

Olhei minhas costas no espelho, para ver

Se não havia uma cruz branca.

 

[4]

Sobre o suicídio do refugiado W. B.

Soube que você levantou a mão contra si mesmo

Antecipando assim o algoz.

Oito anos banido, vendo a ascensão do inimigo

Por fim acuado numa fronteira intransponível

Você transpôs a que pareceu transponível.

 

Reinos desmoronam. Chefes de bandos

Andam como estadistas. Já não enxergamos

Os povos sob os armamentos.

 

O futuro está em trevas, e as forças boas

São fracas. Tudo você viu

Ao destruir o corpo sofrido.

 

[5]

Cantar de mãe alemã

Meu filho, esse par de botas

E essa camisa marrom eu te dei

Mas teria antes me matado

Se soubesse o que hoje sei.

 

Meu filho, ao te ver erguer

A mão pra Hitler em saudação

Não sabia que o teu destino

Seria a própria danação.

 

Meu filho, ao te ouvir falar

De uma grande raça de heróis

Não sabia, não via nem pressentia

Que eras mais um algoz.

 

Meu filho, ao te ver marchar

Atrás de Hitler em coorte

Não sabia que quem com ele partia

Nada acharia senão a morte.

 

Meu filho, tu dizias: a Alemanha

Em breve será motivo de assombro.

Eu não sabia que ela se tornaria

Um monte de cinzas e escombros.

 

Vi a camisa marrom te vestir

Não me opor foi minha falha

Pois não sabia o que hoje sei:

Que ela era a tua mortalha.

Perfil

Eugen Berthold Friedrich Brecht nasceu em 10 de fevereiro de 1898 na cidade de Augsburg, no sul da Alemanha, e morreu no dia 14 de agosto de 1956 em Berlim Leste, na República Democrática Alemã. Em 1917, matriculou-se no curso de Medicina, em Munique. Em 1918, escreveu Baal, a sua primeira peça teatral, que deu início à sua carreira de dramaturgo. Além de se interessar pelo cinema, chegando mesmo a elaborar roteiros e escrever ensaios, Brecht foi criador do teatro épico, o seu método de interpretação. Ao todo, num período de 30 anos, escreveu cerca de 50 peças, algumas tendo a colaboração de Paul Hindemith e Kurt Weill na parte musical. Em 1926, organizou a sua primeira coletânea de poemas, intitulada Manual de Devoção de Bertolt Brecht. Interessa-se pelo marxismo, passando a estudar as obras de Hegel, Marx e Lênin. Com a ascensão do nazismo, em 1933, deixa a Alemanha com a mulher Helene Weigel e o filho Stefan, iniciando um périplo que atingiu vários países (Praga, Viena, Zurique, Paris, Copenhague, onde se estabelece em Svendborg, na costa dinamarquesa, passando ali uma grande temporada e recebendo a visita de amigos, entre os quais Walter Benjamin). Em 1939, concluiu os Poemas de Svendborg. Sempre fugindo dos nazistas, vai para Moscou, Finlândia e chega aos Estados Unidos, onde permanece até 1946, data de seu retorno à Europa. Em 1949, já instalado em Berlim, juntamente com Helene Weigel, fundou o Berliner Ensemble, companhia de teatro com a qual dirigirá inúmeras peças. Nos lugares pelos quais passou, houve sempre a montagem de suas peças e colaboração com artistas de outras áreas. Apesar de ser mais identificado como autor de peças antológicas (Ópera dos Três Vinténs de Cobre, Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny, Santa Joana dos Matadouros, Os Fuzis da Senhora Carrar, Mãe Coragem e seus Filhos, entre outras tantas), escreveu regularmente poemas de 1913 a 1956, que redundaram em três coletâneas publicadas durante a sua vida. Para a edição desta coluna, a fonte à qual se recorreu é a antologia Bertolt Brecht  ̶   Poemas 1913-1956, com seleção e tradução de Paulo César de Souza, e publicada em 2000 pela Editora 34, de São Paulo. Nessa coletânea, Willi Bolle escreve que “A poesia de Brecht é política no sentido próprio da palavra: propõe elucidar as leis de convivência entre os homens na ‘pólis’, a metrópole contemporânea, que já não é cidade-mãe, mas praça mercantil ‘onde se negocia o ser humano’. Lugar das máscaras e da mídia, desde a Berlim dos anos 20 e 30, central da imprensa e da propaganda, até a Los Angeles dos anos 40, capital da indústria cinematográfica. O objetivo da poesia política de Brecht é tornar transparente a retórica dos poderosos. […] Não falta na obra brechtiana a lírica da natureza, mas há uma decidida ruptura com os moldes românticos. […] O que o poeta diz do amor? ‘Do amor cuidei displicente’  ̶  ao contrário do que pode sugerir esse verso, que representa um papel, não uma confissão, Brecht dedicou muita atenção ao amor. Certamente mais do que os editores alemães, que retardaram a publicação dos poemas eróticos e os separaram do resto da obra.” Em português, há uma ótima introdução sobre o autor: Brecht: vida e obra, escrita por Fernando Peixoto e publicada, em 1979, pela Paz e Terra, além dos estudos de Martin Esslin, principalmente Brecht: dos males, o menor  ̶  Um estudo crítico do homem, suas obras e suas opiniões, que saiu pela Zahar, em 1979, com tradução de Barbara Heliodora.

 

 

 

 

Tag's: Bertolt Brecht, literatura, poesia, poesia alemã

  • Cores brasileiras

    por Valbene Bezerra em Rupestre

  • O passante e o herói

    por Luís Araujo Pereira em Espirais

  • Um sonhador

    por Rosângela Chaves em Miradas

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Deixe um comentário (cancelar resposta)

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

ERMIRA
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter