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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 29 de junho de 2019

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
29/06/2019 em Florações

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Cinco poemas de Afonso Felix de Sousa

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

Embalo

Onde quer que estiveres

entregue ou fugitivo

verás o que não queres

na morte e no estar vivo.

 

Onde quer que banhares

a carne e os pensamentos

virão de outros lugares

banhar-te outros momentos.

 

Onde quer que dormires

será teu sono prece

que sobe em arco-íris

e sem que alcance desce.

 

[2]

Três canções na areia

I

É uma mulher na praia,

presença brusca do céu.

 

São mãos que ensaiam na areia

as carícias que virão.

 

É um murmúrio de lábios

no vento que vem do mar.

 

São desejos nas espumas

que nunca irão a Goiás.

 

É uma canção na praia,

o mar entre mim e a dor.

 

II

Um pouco de mim vem vindo

da vida que eu quis viver.

 

Afinal entendo as ilhas

e o pranto que não voltou.

 

Nasce em mim um arco-íris,

logo abraça a terra e o mar.

 

III

Achei versos que Anchieta

noutras praias escreveu.

 

Achei auroras e fugas

achei você, achei eu.

 

[3]

Toada goiana

Correr chapadas e serras

cobertas de casimira.

As noites que lá se foram

voltam dançando, e a catira

que se escuta sempre longe

é doce  ̶  ainda que fira.

O vento dá na roseira,

mas meu bem, ninguém me tira.

Quem ama, reclama e chora,

canta e suspira.

 

As muitas matas, as muitas

solidões… que amor as planta?

Quero bem a uma menina

que vê-la é ver uma santa.

Deixei-a, vim correr mundo.

Agora tenho a garganta

atravessada do espinho

desta saudade que é tanta.

Quem ama, chora e suspira,

reclama e canta.

 

Poeira em giros vermelhos,

e o tempo já foi de lama.

Sete cravos, sete rosas  ̶

é pouco para quem ama.

Sete cartas de lembrança  ̶

e a ingrata, que não me chama!

Faço fé que ainda me lembra,

pois sou goiano de fama.

Quem ama, suspira e canta,

chora e reclama.

 

O vento vem, dá na vida.

Mas a terra  ̶  é em mim que mora.

Passarinho do coqueiro,

do meu bem fala-me agora:

se está morto, se está vivo,

se casou, se foi embora.

Vem a seca… Vêm as águas…

E a resposta já demora.

Quem ama, canta e reclama,

suspira e chora.

 

[4]

Trocadero, 1955

Enquanto eu te esperava, enquanto se desfazia

a espuma no copo de cerveja, eu ia escrevendo

palavras sem sentido e nenhum nexo numa folha

de papel que, como a recortar um lagarto

cujos pedaços continuassem teimosamente vivos,

rasguei em pedacinhos, cada um deles

com uma letra e cada sequência de letras,

como se num sonho ou num poema dadaísta,

dando um sentido ao que dentro e fora

de mim se passava e se resumia num grito mudo

de quem se despede e sabe que está se despedindo

para sempre, e sabe também que numa despedida

pedaços de nós como que amputados se destacam

e vão ficando teimosamente vivos pelo caminho.

 

[5]

Desenho de Debret

Esmaecidos  ̶  o ângulo da igreja, a cruz altaneira.

Esmaecidos  ̶  o casarão senhorial, os populares, o soldado,

como se fora outro o mundo do outro lado da praça pública.

De súbito ergue-se o açoite, ergue-se com dedos inflamados,

que vibram no ar fazendo em volta um vivo colorido.

E há então os escravos que amarrados aguardam o açoite,

e há os já açoitados a lembrarem caveiras em transe,

e há o escravo que açoita e um dia foi também açoitado,

e usa de toda a força porque um dia será de novo açoitado.

E há, antes de tudo, estas negras nádegas que sangram.

Perfil

Afonso Felix de Sousa nasceu em Jaraguá (GO) em 5 de julho de 1925 e morreu no Rio de Janeiro em 7 de setembro de 2002. Após morar em Pires do Rio, Catalão e Silvânia, fixa residência em 1943 em Goiânia, onde inicia carreira no Banco do Brasil e publica, na revista Oeste, artigos, poemas e contos. Participa da fundação da seção goiana da Associação Brasileira de Escritores. Em seguida, por volta de 1947, já residindo no Rio de Janeiro, passou a ocupar cargo importante na matriz do Banco do Brasil. Em 1953, é contemplado com uma bolsa para estudar economia internacional na École Pratique des Hautes Études e realizar estágio no Banco da França. Casou-se em 1959 com a escritora Astrid Cabral. Em 1962, passou a residir em Brasília, para onde foi deslocado. Da Capital Federal, em 1970, transferiu-se para Beirute, para ocupar o cargo de adido na Embaixada do Brasil. A partir de 1986, passou a morar em Chicago, acompanhando a sua esposa, que foi designada para servir no Consulado Brasileiro. Nos Estados Unidos, dedicou-se à tradução e realizou conferências sobre literatura brasileira. A sua obra poética e em prosa compreende os seguintes títulos: O túnel (1942), Do sonho e da esfinge (1950), O amoroso e a terra (1953), O memorial do errante (1956), Íntima parábola (1960), Caminhos de Belém (1962, auto de Natal), Do ouro ao urânio (1969, crônicas), Pretérito imperfeito (1976), Chão básico & itinerário leste (1978), Antologia poética (1979, nova edição aumentada), As engrenagens do belo (1981, reunião de sonetos), Rio das Almas (1984, poema dramático), Quinquagésima hora & horas anteriores (1987), À beira do teu corpo (1990), Nova antologia poética (1991) e Chamados e escolhidos (2001, reunião de poemas). Traduziu, de Federico García Lorca, Romanceiro gitano (1957), Sonetos do amor obscuro e Divã do Tamarit (1988); de John Donne, Sonetos de meditação (1987), e de François Villon, Testamento (1987). Organizou ainda o livro Máximas e mínimas do Barão de Itararé (1985). Recebeu inúmeros prêmios, entre os quais o Prêmio Olavo Bilac (1957), o Prêmio Jaburu (1990) e o Prêmio Nacional de Poesia (2001) da ABL. Em texto para a Nova antologia poética (Cegraf-UFG,1991), Darcy França Denófrio destaca que “apesar de realizar uma poesia lúcida e comprometida com a sua própria natureza, ou seja, que pretende, acima de tudo, realizar arte, vai mais além. Ao lado de poemas metalinguísticos, cuja linguagem narcísica se dobra na contemplação da própria linguagem poética, e ao lado mesmo de um número altamente expressivo de contidos sonetos, inclusive aqueles à moda inglesa, Afonso espraia-se também em longos poemas com traços épicos (ou narrativos). Dentre estes estão aqueles ligados ao seu Estado natal, a exemplo de ‘A noiva do sobrado’, ‘A moça de Goiatuba’ e tantos outros, em que comparece um tom eminentemente popular, conferindo certa leveza à sua obra.”

Tag's: Afonso Felix de Sousa, Goiás, Jaraguá, poesia, poesia brasileira, poesia goiana

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