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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 10 de agosto de 2019

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
10/08/2019 em Florações

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Cinco poemas de Mário Chamie

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

Espaço inaugural

O espaço que se mede

e que se perde

não é o tempo perdido

da memória.

 

Esquece.

O tempo que se perde

é o mesmo que fenece

a cada hora.

 

Na hora do homem

em casa.

Na hora do homem

na rua.

Na hora do espanto

desse homem

sem tempo

no espaço de cada canto.

 

Mas o cansaço do tempo

que se perde

não impede o espaço

que se inaugura.

 

O espaço do homem

na praça.

O espaço do homem

em luta

com a fúria de outro tempo

: sua surda fúria muda.

• • •

 

[2]

Os meninos

Verde, verde grama.

Negra, negra madrugada.

 

– Nas entranhas

dos meninos,

recém-vindos,

um rio corria

para serem ágeis

como pedras lavadas.

 

Negra, negra madrugada.

 

– Todavia,

o que corria

pela estrada

era o duro

vento frio,

negro sopro

d’água parada;

poça d’água

morto rio

que secava

nas entranhas

dos meninos

sem mais nada.

 

Verde, verde,

verde grama.

 

Negra, negra madrugada.

 

– Um rosto

em cada poça,

sem cavalo,

sem colheita,

terra batida

e solta,

espantalhos

pela cerca,

morta roça,

os meninos

recém-findos

eram a própria

cavalgada

de cavaleiros

fantasmas

no seu galope

de fome,

feito lobo

feito homem

feito mula sem cabeça

fugindo da noite espessa.

 

Verde, verde,

verde grama.

Negra, negra cavalgada.

• • •

[3]

A língua

Os lábios se gastam.

O escuro os prende

enquanto a língua

revira a esponja

do verbo prenhe

que diz a longa

missão de légua

por entre a vária

paixão sem leme.

 

A língua espanta.

Contém saliva

hidrato e fera.

Contém a festa

do bicho em viva

espécie de meta

que se diz salva

na hora avessa.

Vão susto rude

que nos desperta

da baba espessa

de sermos queda.

 

A língua queima.

A língua enxuga.

Mário a externa

na risca e ruga

do rosto, emblema

lançado à área

da só angústia,

já quente areia

que a chuva mansa

caída amena

amaina e suja.

 

Sempre a temos.

Cio depois véu

excita os remos

das vozes naves.

 

Em vão, Orfeu,

na voz dos ventos

(a nau das bodas)

soprou na lira

as águas leves

do mar Egeu,

falando a língua

das noves penas

do seu inferno,

das nove cordas

do seu mistério

que excita as aves.

 

O escuro a chama.

A língua despe.

A língua lambe

pelos morenos,

monte de vênus.

A língua fere

no som, na carne

que me reflete

homem sem norte.

Pois uso o termo

que já expresso,

rasgada a veste

que fecha o corpo

que fecha a fonte,

fechado esquema

da podre frase

que nos condena.

 

Língua, vírus, légua

esponja e régua.

Eu Mário, a fala.

Ela, a nossa carta

com o jogo inverso

de me ser forte

se me dispersa,

se me concentra

se me constata

a força exata

de não ser trôpego

nesta palavra

de fogo e fôlego

sem breu nem treva.

 

Acesa flecha,

liberta fera.

• • •

 

[4]

Plantio

Lavrado o trato, fica o homem em seu domínio.

Joga o jogo do roçado. Calca a planta do plantio,

cava a cova para a sobra. Mas se o jogo que ele

joga faz do ganho o seu contrário, dá em troça

com o contrato então lavrado.

                             

                                     Cava,

                             então descansa.

              Enxada: fio de corte corre o braço

                                 de cima

                  e marca: pés, pés de barro.

                                    Cova.

 

                                    Joga,

                           então não pensa.

            Semente; grão de poda larga a palma

                                  de lado

                 e sonda: foz, foz de água.

                                   Cava.

 

                                  Calca

                        e não relembra.

        Demência; mão de louco lança a pedra

                                de perto

                e sopra: céu, céu de treva.

                                   Cova.

 

                                  Molha

                          e não dispensa.

          Adubo; pó de esterco mancha  o lodo

                                 de longo

                  e forma: nó, nó de mofo.

                                   Joga.

 

                                  Troca,

                          então condena.

         Contrato; quê de paga perde o ganho

                                 de hora

                e troça: mais, mais de ano.

                                  Calca.

 

                                  Cova:

                      e não se espanta.

         Plantio; fé e safra sofre o homem

                              de morte

              e morre: rês, rés de fome

                                  cava.

• • •

 

[5]

Forca na força

_

a palavra na boca

na boca a palavra: força

 

a forca da palavra força

a palavra rolha fofa

 

a rolha fofa sem força

a palavra em folha solta

 

a força da palavra forca

a palavra de boca em boca

 

na boca a palavra forca

a palavra e sua força

 

_

falar na era da forca

calar na era da força

na era de falar a forca

a era de calar a boca

 

na era de calar a boca

a era de falar à força

 

calar a força da boca com a forca

falar a boca da forca com a força

 

calar falar a palavra

não na ira da era ida

 

falar calar a palavra

nesta ira de era viva

 

calar a palavra na era ida da ira

falar a palavra na viva era da vida

 

_

mas a forca da palavra força

:um cedilha em sua boca

Perfil

Mário Chamie nasceu em Cajobi (SP) em 1º de abril de 1933 e morreu na capital paulista em 3 de julho de 2011, aos 78 anos. Em 1956, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da USP. Com erudição e criatividade, dedicou-se à crítica e ao ensaio literário, sem fugir das polêmicas, seja com os concretistas, seja com bons-mocinhos da cultura brasileira. Teve atuação destacada no final da década de 1950 nas vanguardas paulistanas. Em 1962, publicou Lavra lavra, livro de poemas que instaurou a Poesia Praxis, movimento de vanguarda que se opunha ao Concretismo dos irmãos Campos e de Décio Pignatari. No posfácio, o livro apresenta o manifesto que expõe os fundamentos dessa poesia. Como suporte do movimento, lançou a Revista Praxis, que sobreviveu até o seu quinto número. A partir de 1963, realizou uma série de conferências sobre literatura brasileira em diversos países da Europa e do Oriente Médio. Em 1964, a convite do Departamento de Cultura do Departamento de Estado do governo dos EUA, organizou e realizou palestras sobre problemas de vanguarda artística nas universidades de Nova York, Columbia, Harvard, Princeton, Wisconsin e Califórnia. De 1979 a 1983, ocupou o cargo de secretário municipal de Cultura de São Paulo, promovendo a inauguração da Pinacoteca Municipal, do Museu da Cidade de São Paulo e do Centro Cultural São Paulo (CCSP). Concluiu em 1994 doutorado em Ciência da Literatura na UFRJ. Foi professor  titular de comunicação comparada da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Ao longo de sua carreira literária, recebeu vários prêmios, entre os quais o Primeiro Prêmio Nacional de Poesia (SP) e o Prêmio Jabuti A sua obra poética compreende os seguintes títulos: Espaço inaugural (1955), Configurações (1956), O lugar (1957), Os rodízios (1958), Lavra lavra (1962), Now tomorrow mau (1962), Indústria (1967), Conquista de terreno (1977), Planoplenário (1974), Objeto selvagem (1977, poesia completa), Configurações (1977), Sábado na hora da escuta (1979, antologia), A quinta parede (1986), Natureza da coisa (1993), Caravana contrária (1998), Horizonte de esgrimas (2002). Quanto à sua obra crítica e ensaística, publicou: Palavra-levantamento (1963), Alguns problemas e argumentos (1968), Intertexto (1970), A transgressão do texto (1972), Instauração Praxis, v.1 e 2 (1974), A linguagem virtual (1976), Mário de Andrade – Discurso carnavalesco (1979), A falação possessória (1991), Caminhos da carta (2002), A palavra inscrita (2004). Escreveu ainda Pauliceia dilacerada (2009, memória e ficção).

 

Confira a seguir um vídeo sobre o poeta:

Tag's: literatura, Mário Chamie, poesia, poesia brasileira, Poesia Praxis

  • Da Vinci, o único

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    por Da Reportagem/Ermira em Dedo de prosa

  • É possível a prática filosófica em meio às novas tecnologias de informação?

    por Rogério Paes Dalbem em Matutações

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