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Rogério Borges em Margem Jornalista e professor | Publicado em 22 de abril de 2020

Rogério Borges
Jornalista e professor
22/04/2020 em Margem

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Qual é a sua, Morte?

Quem a senhora pensa que é, Dona Morte? Que negócio é esse de entrar, sorrateira, em um apartamento do Leblon, onde os bons aromas de um almoço de quarentena já eram sentidos no ar? Que ousadia foi essa de visitar um senhor que antes da pandemia fazia suas caminhadas pela Lagoa, incólume em seus mais de 90 anos, com seu boné e óculos de inconsciente disfarce? A senhora perdeu a noção do perigo ao decidir invadir aquela existência entre bons vinhos, ótimos livros e ideias melhores ainda?

Rubem Fonseca, um escritor seminal: ele revolucionou os romances policiais no Brasil. / Foto: Cia das Letras

Rubem Fonseca, um escritor seminal: ele revolucionou os romances policiais no Brasil. / Foto: Cia das Letras

Pois saiba que este foi um erro de narrativa terrível, imperdoável. Aquele que a senhora teve o mau gosto de levar escreveria um enredo muito mais inteligente que um tacanho enfarto em uma manhã de isolamento social, não sendo possível sequer dedicar-lhe o tempo merecido em homenagens. Se bem que ele não gostava de aparecer, o que não quer dizer que não teria as devidas honrarias de milhares e milhares de leitores pelo mundo todo que ele cultivou usando sua imagem, Dona Morte! Vê o tamanho de sua ingratidão?

A senhora veio levar no seu manto simplesmente o pai do romance policial brasileiro, o escritor que revolucionou um gênero, aquele que influenciou gerações e criou figuras absolutamente carismáticas e inconfiáveis, como Mandrake, o detetive de um noir tipicamente carioca, ou o inspetor Guedes, desconfiado e inteligente. Ah, Dona Morte, quanta falta de sutileza de sua parte! Faltou-lhe aquele estudo das facas que Rubem Fonseca apresenta como um balé em A Grande Arte; faltou-lhe a curiosidade científica para os venenos que vemos em Bufo & Spallanzani.

Marcos Palmeira vivendo Madrake em uma série de TV: personagens icônicos. / Foto: HBO

Marcos Palmeira vivendo Madrake em uma série de TV: personagens icônicos. / Foto: HBO

Se era para matar, que matasse com um pouco mais de estilo, com maior pompa, com mais barulho. Essa morte silenciosa não combinou com os tiros à queima-roupa que vemos em Feliz Ano Novo; não tem nada a ver com a ânsia assassina de O Cobrador. Você não foi capaz de bolar uma metanarrativa interessante como a de Romance Negro. Não teve a sensualidade heterodoxa de Lúcia McCartney e nem mesmo aqueles fetiches esquisitos que vemos em Copromancia. Até uma coisa simples, como um maluco a atropelar desconhecidos, que lemos em Passeio Noturno, você não foi capaz de providenciar.

Que decepção, Dona Morte. Você é uma péssima contista. Rubem Fonseca até lhe ajudou ao criar uma trama em torno do suicídio de Getúlio Vargas quando lançou Agosto, dando àquele final trágico de um grande líder um outro verniz. E você, sem consideração, sem estar à altura de quem resolveu tirar de nós, foi direta, sem tramas, sem nada. Um enfarte. Puff! Mas isso não vai ficar assim! Não vamos deixar que o mate com tanta facilidade. Não vamos permitir que o lance no rio do esquecimento, que o mergulhe nesse pântano de mediocridade. Não senhora! Isso não!

Como se fôssemos um Orfeu, como se estivéssemos, tal qual Virgílio, zanzando pelos anéis do Além, vamos sempre e sempre e sempre resgatar Rubem Fonseca dessas cinzas imerecidas. Seus livros, seus personagens e seu estilo inconfundível não deixarão que você, sua estraga-prazeres, saia vencedora desta batalha. Usaremos de todos os palavrões que ele usava em suas obras para afastá-la, para lançar em sua cara esquelética que Rubem Fonseca continua vivo, continua a nos furtar a respiração, continua a desafiar nosso raciocínio em seus livros. Sai pra lá, Morte! Qual é a sua?

Tag's: literatura, morte, Rubem Fonseca

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