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Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 31 de maio de 2020

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
31/05/2020 em Florações

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Cinco poemas de Armando Freitas Filho

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

 

[1]

Le Corbusier

          II

Risco à régua

um ritmo reto

retém o rumo

rude da pedra

 

milimetrado voo

via viaduto vão

respira a planta

trevo sem trégua

 

calado cálculo

concreto decalca

as ruas na cal

calçadas: calmas

 

avenidas claras

avançam: vazias

janelas vidradas

fachadas frágeis

 

pilotis plantados

cubos de granito

blocos de cimento

fixos: edifícios

 

iluminados traços

de alumínio: vivos

veículos vestidos

de ferros e vidros

 

gestos e linhas

vínculos e vigas

faixas e listras

cinética imagem

 

cidade.

Dual (1966)

• • •

 

[2]

Corpo de delito

                                     I

Escuta o rumor nas margens plácidas

feitas de lama, sangue e memória

                                                   escuta

o brado retumbante

                                                   na garganta

do túnel;

                 por entre as grades do grito

o céu da liberdade viaja,

e o sol, sem Pátria, se espalha,

nesse instante, no cimento.

 

Aqui, Senhor, tememos

                                            o braço forte

que abre os seios

se abate, sem remorso;

                                            aqui, no peito,

os sussurros do coração,

o muro de murros desabado,

os urros na boca do corpo de entulho,

e os erros da minha mão

que apalpa a própria morte.

 

Nesta cela que sonho nenhum

                    se escreve nas paredes,

nesta sala de azulejos lívidos,

um raio de dor sempre aceso

e vívido, à terra desce;

o céu é o sol desta luz

em cada nervo,

e em cada um de nós

um límpido incêndio

                                        resplandece.

 

Daqui escuto o passo dos gigantes

pisando, impávidos, a paisagem;

escuto a marcha dos colossos

por cima dos ossos,

por cima dos mapas de mar

e grama;

                 escuto as botas dos passos

nas poças do corredor,

cada vez mais próximos,

dos calcanhares nus do meu futuro.

 

                                      II

Sentado na cadeira do dragão,

largado no berço profundo do chão,

sobre o som do mar

                                 o céu fulgura,

com o seu sol elétrico

que não cessa o curso-circuito,

o curto, o choque,

                                 o surto

em chamas do dia iluminado

nos porões iniciais de um Novo Mundo.

 

As flores que aqui gorjeiam,

garridas, em suas jaulas,

se agarram na beira da vida

que cisma e insiste,

e continua avançando

por entre vadias várzeas e charcos,

e exclama e se espanta

como a primeira palmeira brusca

que busca o espaço

no bosque de fumaça no horizonte.

 

Aonde está você, amor eterno

que não drapeja no vento

sua flâmula trêmula de estrelas?

Aonde o verde-louro,

                             o céu de anil e mel

o lábaro, a labareda de pano

que o látego rasga e marca?

Aonde a glória do passado

se o presente é este furo

de bala na pele do futuro?

 

Mas se ergues, ainda sim,

a clava forte do seu corpo,

e não foge à luta;

nem teme a própria morte

que avança armada

até os dentes,

                          verás

os raios fúlgidos

do sol em liberdade no céu,

e neste chão de terra que se ama!

À Mão Livre (1979)

• • •

 

[3]

1986

Não sei se é flauta, luar ou neon

 

No front do Ano-Novo

tudo são joias usadas e sentidas.

São fogos que logo depois de cegos

se afogam.

São vidas de fósforo

escritas a lápis-laser

e vigília de velas

esgrimindo à beira-mar.

Num minuto

todas as nuvens se anulam

num azul tão agudo

que só o sol

poderá mais tarde agonizar aqui:

cru, alto e bruto

em amarelo pleno e câmara lenta.

 

A lua ainda ladrilha o mar

diante dos olhares fixos dos edifícios

no horizonte

                          onde

defronte das ondas

palmeiras se espantam

e sobem

até o terraço do último andar

abrindo mãos de cinco palmas

de encontro ao céu

nesta terra de eternos terremotos.

 

E nesta língua em que falo, moro, morro

escrevo e estrela:

lama e alma é um anagrama

ou um amálgama?

 

Auréola, pérola, alegoria – allegro, não

De Cor (1988)

• • •

 

[4]

Suspeito no quarto

Quebrando a cabeça na mesa.

O sintoma sou eu, e o corpo meu fantasma.

Gancho de sombra chumbado na parede:

preso, não se desprega, não me desacompanha –

prego – não abre a garra, com que se enterra.

Procuro no breu a cura, a tomada certa

para a entrada e fruição, para fixar-me

sem ferir-me muito, e me iluminar, tal o lustre

de cristal no teto, doendo de tão aceso.

Ouvir-me, ver-me, falar-me. O computador

não me comporta: extravaso para além

da camisa de força digital, sem me salvar

para dentro do dia que virá – verme, verruma –

e que vai ser indiferente como este:

o mar no retrovisor, o longo amor se afastando

o erro fatal na ordem natural das coisas, absorvido.

E o que uniu a vida – a princípio, no instante, depois

na estatística – e, finalmente, na cera do pesadelo.

Lar, (2009)

• • •

 

[5]

Escritor, escritório

[Três excertos]

 

Não transponho Camões, mas me empenho.

Não atravesso seu mar manuscrito

porque me afogo na incompreensão

no enfado, no palavreado castiço

na análise sintática dos seus versos

onde erro na prova urgente, aflita

sem ouvi-los soar na página a pleno

de difícil lida, da ilimitada luta

na travessia da linha, da estrofe

empolgante, empolada, que arrebata

a vastidão do céu desconhecido

que vai se descobrindo, nuvem por nuvem

até o sol nomear a praia do primeiro passo.

                                  ⁕

Escrevo porque escrevo.

Quando dei por mim, escrevia.

Escrever não tem princípio ou final.

Me mantenho escrevendo.

Luto contra meu corpo desde o início.

Me tenho, escrevendo.

No teclado, ou com a caneta, o lápis.

Mas devido à rapidez

com que penso e esqueço

devia usar a pena de dois séculos atrás

que casa melhor com o gesto incisivo

que imagino, preciso

com sua penugem de asa, com o bico

de um pássaro qualquer, de rapina

mergulhando, veloz e voraz, repetidamente

no gargalo, na garganta do tinteiro

para pegar, pescar, a voz úmida, submersa

contínua e escura, que não pode secar.

                                   ⁕

Desentendo-me comigo

quando me leio nos que me leem

e que montados sobre mim, escrevem

na resenha, no artigo, no ensaio, na dissertação, na tese.

Não vi o que viram ou viram

o que não procede, o que eu vejo

mais ou menos, pró ou contra?

Ninguém acerta em cheio nunca

nem eu no desacerto com os outros?

Não consigo segurar os tomos

que tomaram dos meus dedos, e a fruição

antes do gozo, ou no meio, antes do fim, que não há?

Ou ainda, quando me oferecem

outro prazer não previsto nem sabido?

Ou outra dor sentida e inesperada?

Ou me fazem ler que muito pouco valeu a pena?

Ou que valeu. Enquanto eu parado na porta da recepção

de mim para mim, não consigo dirimir a dúvida irredutível

do destino que já estava escrito.

Rol (2016)

Perfil

Armando Martins de Freitas Filho nasceu em 1940 no Rio de Janeiro. Foi pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa e da Biblioteca Nacional. Prestou também assessoria ao Departamento de Assuntos Culturais do MEC, ao Instituto Nacional do Livro (INL) e à presidência da Funarte, à época dirigida por Ferreira Gullar. Em 1963, publicou Palavra, o seu primeiro livro de poemas. Daí vinculou-se à poesia práxis, instaurada por Mário Chamie. Essa tendência de vanguarda se opôs à poesia concreta. Foram escritos em seguida Dual (1966) e Marca registrada (1970) sob os cânones desse movimento. Com De corpo presente (1975), enveredou-se por outros caminhos poéticos, publicando um conjunto notável de livros: Mademoiselle furta-cor (1977), À mão livre (1979), longa vida (1982), A meia voz a meia luz (1982), 3X4 (1985, Prêmio Jabuti), Paissandu Hotel (1986), De cor (1988), Cabeça de homem (1991), Números anônimos (1994), Dois dias de verão (1995), Cadernos de Literatura 3, com Adolfo Montejo Navas (1996), Duplo cego (1997), Erótica (1999), Fio terra (2000, Prêmio Alphonsus de Guimaraens), 3 tigres (2000), Sol e carroceria (2001), Tríptico (2004), Trailer de raro mar (2004), Raro mar (2006), Para este papel (2007), Tercetos na máquina (2007), Mr. Interlúdio (2008), Lar, (2009), Pingue-pongue (2012), Dever (2013, Prêmio Alphonsus de Guimaraens), W (2005) e Rol (2016). Em 2013, sua poesia reunida e revista foi lançada pela Nova Fronteira, com o título de Máquina de escrever. Publicou também dois livros infantojuvenis. Com Heloisa Buarque de Hollanda e Marcos Augusto Gonçalves, publicou ainda, em 1970, o ensaio Anos 70 – Literatura. A sua criação poética sempre esteve associada às artes gráficas, tendo de perto a colaboração de Rubens Gerchman, Marcelo Frazão, Anna Letycia, Sergio Liuzzi, entre outros. Além de ter gravado CD e DVD, foi personagem do documentário Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície, dirigido por Walter Carvalho e produzido em 2016.  Como curador, organizou a obra póstuma da poeta Ana Cristina Cesar (1952-1983), escrevendo textos de introdução e selecionando textos dispersos. Como ele próprio declarou, a sua poesia é influenciada por Bandeira, Drummond, João Cabral e Ferreira Gullar. Em prefácio ao livro À mão livre, José Guilherme Merquior reconhece que “o seu estilo vem da poética experimental das vanguardas, de que participou como poeta práxis. O amor à paronomásia conserva nos seus textos de hoje algo dessa antiga disciplina, assim como a desinibição inventiva do seu léxico”, citando como exemplo o verso no qual utiliza a expressão “deslumbrilhante cascatarata”, um neologismo desconcertante. Em enfoque mais detalhado, Vagner Camilo diz que “as experiências são vivenciadas de forma intensa e dilacerada, e espelhada na contundência de uma escrita que aprendemos a apreciar justamente pelas imagens impactantes (sobretudo corporais), pelo poder de sugestão da musicalidade (produzida por força das paronomásias e aliterações), pelas elipses, suspensões sintáticas, cortes bruscos…” Os seus poemas foram traduzidos para o espanhol, catalão, inglês, alemão e francês.

Veja a seguir um trecho do documentário Perto do Fogo: 50 anos de Poesia, de André Rangel Rios, sobre o poeta Armando Freitas Filho:

Tag's: Armando Freitas Filho, poesia, poesia brasileira, Poesia Praxis

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