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Imagem: Circo Garcia (Rosina Becker do Valle, 1988)
Imagem: Circo Garcia (Rosina Becker do Valle, 1988)
Imagem: Circo Garcia (Rosina Becker do Valle, 1988)

Luís Araujo Pereira em Espirais Professor e escritor | Publicado em 16 de agosto de 2020

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
16/08/2020 em Espirais

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Patinhos

Os dois pombinhos, se é que podemos chamá-los assim, estavam num parque de diversões. A moça – que era bonitinha e impetuosa – tinha os seios soltos dentro da blusa. Bancando a adolescentezinha com ímpetos infantis, exclamou quando viu o túnel:

“Amor, o trem fantasma!, vamos sentir alguns arrepios?” – e me empurrou em direção ao guichê.

Ela era uma garota de programa cujos serviços eu tinha contratado pela internet. Sem adicionais, ela só estava ali comigo para criar uma encenação durante o tempo de uma treta arriscada.

Comprei os bilhetes, andamos de trem fantasma e ela deu uns gritinhos; o passeio não foi só a ampliação da minha ansiedade, mas um sucedâneo de trashes que abominei, cada um deles. Na saída, perguntou-me, meio esbaforida:

“Você não sentiu medo?”

Ela evidentemente não sabia, mas o meu terror era outro, muito mais agônico e concreto. Esse pavor que me corroía como um solvente.

Eu apenas sorri e apontei-lhe o estande vazio, à nossa esquerda. Ela olhou a direção para a qual a minha mão indicava e, como se não entendesse, deu de ombros. Eu lhe expliquei:

“O estande de tiros. Não tem ninguém lá. Vamos lá derrubar alguns patinhos.”

Em frente à mira, pegamos as armas e passamos a alvejar aqueles bípedes de lata pintados de amarelo que passavam em carrossel. Eu derrubei dois, enquanto ela ia acumulando pontos, um atrás do outro, como se fosse uma atiradora experiente, dessas que nascem abraçadas a um rifle. Uma shooter de unhas postiças?

Naquele momento, a minha preocupação estava em outro lugar. De vez em quando, entre um tiro e outro, olhava para o estande ao lado, onde, num placar luminoso, estava escrito em letras coloridas:

“Mr. Brown, o menor homem do mundo.”

Aquele era o local indicado para o encontro. Eu tinha de fazer a troca da mercadoria que transportava na minha mochila. Essa lembrança do lance foi interrompida subitamente pela sua vozinha estridente:

“Amor, derrubei outro… Com este, já são cinco!” – e continuou entusiasmada, mirando e atirando. Subitamente, ela fez o comentário que  sintetizava o papel que eu desempenhava naquele momento.

“Hoje, amor, você vai pagar o pato!”

A sua diversão não impediu que eu visse os caras. Os dois foram para o guichê do estande do anãozinho. Eles pagaram os bilhetes e entraram. Eu os segui, mas antes, para justificar a minha ausência, disse que precisava ir ao banheiro.

“Oh, amor, tudo bem! Não vou mesmo sair daqui. Há muitos patinhos escapando…”

Sentei-me ao lado do homem que transportava uma mochila semelhante à minha. Discretamente, nós as trocamos. Ele não prestou muita atenção em mim; depois, levantou-se e deixou o local, o comparsa seguindo-o, como um cachorrinho. Esperei algum tempo e depois  saí também. Olhei para os lados e não pressenti nenhuma ameaça. Senti que a mochila era mais pesada. Até hoje, não me lembro do que Mr. Brown aprontou durante o seu show.

Quando retornei à estande dos tiros, ela exclamou, toda contente, como se tivesse ganho uma medalha olímpica:

“Amor, já derrubei doze!”

O atendente do outro lado do balcão comentou no instante em que entregava os prêmios:

“Essa menina atira melhor do que muitos marmanjos.”

 O mais angustiante para mim começava nesse momento: eu tinha de permanecer no parque com aquela desmiolada até ser contatado por outro agente que me indicaria o próximo ato, na sequência do disfarce. Eu não sabia o que improvisar caso desse tudo errado. O meu principal receio era ser interceptado antes que ocorresse o próximo contato. Porém, nesse mundo esfumaçado em que vivia, a cautela sempre foi o meu primeiro mandamento.

 Assim, o mal-estar que sentia poderia estender-se durante horas. Ou menos, com alguma sorte. A minha agonia dizia respeito ao desfecho da operação. Sob todos os pontos de vista, aquela garota, por mais irritante e aluada que fosse, não merecia, ela sim, pagar o pato.  

Não sei por que, olhando pensativo para o terno crepúsculo que se esboçava aos poucos, pensei na Disneylândia – e comecei a tomar coragem para encarar o que desse e viesse.

Tag's: crônica, literatura, Luís Araujo Pereira

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1 comentários em “Patinhos”

  1. Marilia A Fleury disse:
    17 de agosto de 2020 às 07:59

    Muito bom. Lembrei do Rubem Fonseca. Talvez a temática, a linguagem direta, despida.

    Responder

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