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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 23 de agosto de 2020

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
23/08/2020 em Florações

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Cinco poemas de Gilka Machado

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

Sensual

Quando, longe de ti, solitária, medito

neste afeto pagão que envergonhada oculto,

vem-me às narinas, logo, o perfume esquisito

que o teu corpo desprende e há no teu próprio vulto.


A febril confissão deste afeto infinito

há muito que, medrosa, em meus lábios sepulto,

pois teu lascivo olhar em mim pregado, fito,

à minha castidade é como que um insulto.


Se acaso te achas longe, a colossal barreira

dos protestos que, outrora, eu fizera a mim mesma

de orgulhosa virtude, erige-se altaneira.


Mas, se estás ao meu lado, a barreira desaba,

e sinto da volúpia a escosa e fria lesma

minha carne poluir com repugnante baba…

⁕ ⁕ ⁕


[2]

Ser mulher…

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada

para os gozos da vida, a liberdade e o amor;

tentar da glória a etérea e altívola escalada,

na eterna aspiração de um sonho superior…


Ser mulher, desejar outra alma pura e alada

para poder, com ela, o infinito transpor;

sentir a vida triste, insípida, isolada,

buscar um companheiro e encontrar um Senhor…


Ser mulher, calcular todo o infinito curto

para a larga expansão do desejado surto,

no ascenso espiritual aos perfeitos ideais…


Ser mulher, e oh! Atroz, tantálica tristeza!

ficar na vida qual uma águia inerte, presa

nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

Cristais partidos (1915)

⁕ ⁕ ⁕


[3]

Na plena solidão de um amplo descampado

Na plena solidão de um amplo descampado,

penso em ti e que tu pensas em mim suponho;

tenho toda a feição de um arbusto isolado,

abstrato o olhar, entregue à delícia de um sonho.


O Vento, sob o céu de brumas carregado,

passa, ora langoroso, ora forte, medonho!

e tanto penso em ti, ó meu ausente amado!

que te sinto no Vento e a ele, feliz, me exponho.


Com carícias brutais e com carícias mansas,

cuido que tu me vens, julgo-me toda tua…

– sou árvore a oscilar, meus cabelos são franças…


E não podes saber do meu gozo violento,

quando me fico, assim, neste ermo, toda nua,

completamente exposta à Volúpia do Vento!

Estados de alma (1917)

⁕ ⁕ ⁕


[4]

Ânsia múltipla

Beija-me Amor,

beija-me sempre e mais e muito mais,

– em minha boca esperam outras bocas

os beijos deliciosos que me dás!


Beija-me ainda,

ainda mais!

Em mim sempre acharás

à tua vinda

ternuras virginais.


Beija-me mais, põe o mais cálido calor

nos beijos que me deres,

pois viva em mim a alma de todas as mulheres

que morreram sem amor!…

Mulher nua (1922)

⁕ ⁕ ⁕


[5]

Mal assomou à minha ansiosa vista

Mal assomou à minha ansiosa vista

o teu perfil que invoca o dos rajás

senti-me mais mulher e mais artista,

com requintes de sonhos orientais.


Do teu amor à esplêndida conquista,

minha carne e minha alma são rivais:

far-me-ei a sempre inédita, a imprevista,

para que cada vez me queiras mais.


Feitas de sensações extraordinárias,

aguardam-te em meu ser mulheres várias,

para teu gozo, para teu festim.


Serás como os sultões do velho Oriente,

só meu, possuindo, simultaneamente,

as mulheres ideais que tenho em mim…

Meu glorioso pecado (1928)

Perfil

Gilka da Costa Melo Machado nasceu no Rio de Janeiro em 12 de março de 1893 e morreu na mesma cidade no dia 11 de dezembro de 1980. Cresceu e formou-se num ambiente familiar de intelectuais. Casou-se com o poeta Rodolfo Machado, com quem teve dois filhos: Hélios e Eros. Como mulher pobre e “mulatinha escura”, no dizer de Afrânio Peixoto num relato a Humberto Campos,  foi alvo de preconceito racial; como escritora, por causa de seus versos sensuais, foi considerada ousada e indecorosa. Em 1910,  ajudou a fundar o Partido Republicano Feminino, que defendia o voto das mulheres e lutava por sua valorização social. Escreveu  basicamente poesia, sendo atribuído a ela, em 1933, num concurso literário promovido pela revista O Malho, o título de “a maior poetisa brasileira do século”. Publicou os seguintes livros de poemas: Cristais partidos (1915), Estados de alma (1917),  Poesias – 1915-1917 (1918), Mulher nua (1922), Meu glorioso pecado (1928), Carne e alma (poemas escolhidos, 1931),  Sublimação (1938), Meu rosto (antologia, 1947) e Velha poesia (poemas escolhidos, 1965). Além de publicar e declamar poemas,  dava conferências sobre literatura. Dessa atividade, publicou, em 1916,  A revelação dos perfumes. Em 1979, a Academia Brasileira de Letras concedeu-lhe o Prêmio Machado de Assis.  A sua obra é sempre associada ao simbolismo, mas participou da variante modernista no Rio de Janeiro que escrevia para a revista Festa. Com organização de  Jamyle Rkain, o selo Demônio Negro publicou em 2017 a sua poesia reunida. Em prefácio à edição de Poesias completas  (Cátedra/MEC), Fernando Py (1935-2020) faz um longo comentário sobre a autora, enfatizando que a “sua originalidade lhe vinha, principalmente, de um arrebatamento lírico que, a partir do segundo livro (Estados de alma, 1917), mostraria uma natureza de intensa sensualidade, aliada, estranhamente, a uma busca infatigável de transcendência espiritual. Gilka Machado viu-se de súbito marcada pela extrema ousadia de sua lira amorosa, pelo seu estro invulgar no qual cantava a libertação dos sentidos e dos instintos. Pois o aparecimento de tal poesia revigoradora em meio à debilidade expressional vigente, teve o efeito de um verdadeiro cautério, de um estímulo poderoso e salutar que, no entanto, não raro se voltou contra ela própria. […] Marcada pelo escândalo de sua  ousadia, sofreu a incompreensão daqueles que só liam retorcidamente os seus versos, julgando-a devassa ou libertina quando quisera apenas reformular umas quantas ideias aceitas sem discussão pela maioria, e explorar, dentro dos limites de sua poesia, as sensações ligadas à sensualidade e ao erotismo, em que aliás foi pioneira. Esse pioneirismo, contudo, foi-lhe bastante funesto. Seu nome desapareceu dos manuais de história literária, ou, quando mencionado, o vem de maneira ‘condescendente’, perfuntória, em duas ou três linhas inexpressivas, quase atado à cauda dos ‘grandes’. Há exceções, evidente.”

Tag's: Gilka Machado, modernismo, poesia, poesia brasileira, poesia erótica, simbolismo

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4 comentários em “Cinco poemas de Gilka Machado”

  1. Vera disse:
    24 de agosto de 2020 às 10:18

    Ainda bem que existe a Ermira Cultura que nos brinda com essas jóias raras.

    Responder
  2. Simone disse:
    16 de dezembro de 2020 às 21:05

    Lindíssimos versos! Obrigada por me oportunizar conhecê-los e tbem a autora.

    Responder
  3. Monica Corteletti disse:
    13 de novembro de 2021 às 09:02

    Graças a vocês vim a conhecer Gilka Machado! Obrigada por esses versos belissimos!

    Responder
  4. Nelson lima disse:
    23 de janeiro de 2024 às 13:02

    Adoro poesia.
    Gilka Machado é ótima.
    Poemas lindos. Todos.
    Ermira adoro.

    Responder

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