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Foto: Divulgação
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Paulo Manoel Ramos Pereira em Aboios Poeta e tradutor | Publicado em 16 de setembro de 2020

Paulo Manoel Ramos Pereira
Poeta e tradutor
16/09/2020 em Aboios

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As multidões interiores de Dylan e Whitman

Em 17 de abril de 2020, Bob Dylan (79) lançou I Contain Multitudes, o segundo single de Rough & Rowdy Ways, seu 39º álbum de estúdio e o primeiro apanhado inédito em oito anos, preparando o terreno para o que viria à tona dali a pouco mais de dois meses, quando o disco foi disponibilizado integralmente.

O título do referido single sugeriu, a primeira vista e audição, aquilo a que o cantor e compositor norte-americano acostumou seu público ouvinte: um riquíssimo intertexto cultural, ao utilizar-se de uma citação de Walt Whitman (1819-1892) retirada dos poemas que delimitam Song Of Myself, aprumado à construção inigualável de sentido sobreposto ao som, isto é, a fina flor do cancioneiro contemporâneo.

No entanto, ao assumir, como o consagrado poeta nova-iorquino, suas multidões internas e a partir delas construir a canção em torno de diversas referências populares ou íntimas constituintes da persona, é correto anotar que Robert Allen Zimmerman, o nome verdadeiro por detrás de Bob Dylan, enlaçou toda sua carreira com uma fita dourada digna dos grandes gênios da raça humana.

A audição total de Rough & Rowdy Ways apenas confirma a assinalada natureza homenageadora da própria trajetória do artista, sua pessoal canção de si mesmo, sem prejuízo de ver-se também como ser diminuto diante da história de seu país (o que o leva a consagrar 17 minutos a uma canção cujo mote é o traumatizante assassinato de John F. Kennedy) e da história universal (“And I ask myself: what would Julius Caesar do?”, como em My Own Version Of You e similarmente em Crossing The Rubicon).

Ao denotar isto, pretende-se estabelecer paralelo com Leaves Of Grass, sustentacular volume da literatura norte-americana, o livro que Walt Whitman compôs durante praticamente toda sua vida. Incensado como pai do verso livre, o poeta foi primevamente um feixe de luz democrática e pulsante de vida identitária no interior de uma nação em franca estruturação e prenhe de contradições. Por isso encarnou, em verso, quantidade de personagens imensurável, mas todas orientadas a um norte preclaro de liberdades individuais. E ainda por isso questionou-se e após afirmou-nos: “Do I contradict myself?/ Very well then I contradict myself,/ (I am large, I contain multitudes.)” É observar, além do supracitado Song Of Myself, também Out Of The Cradle Endlessly Rocking.

A fita dourada enlaçante referida engloba, no espaço genérico limítrofe entre o folk e o blues em que se cria Rough & Rowdy Ways, as versões individuais encorporadas por Bob Dylan, múltiplo autointérprete, no percurso de sua ímpar carreira. Isto é, escora-se o artista em sua obra, desde o jovem tentado a imitar e superar a canção de protesto de Woody Guthrie e com isso tornar-se porta-voz de uma geração ao astro rock and roll e elétrico de Highway 61 Revisited. Do compositor country ao cristão renascido. Para não citar, evidentemente, o Dylan prosador e laureado com o Nobel de Literatura de 2016, o Bob ressentido de amores recém-terminados ou ainda aquele porra-louca que, em cena do documentário No Direction Home, de Martin Scorsese, brinca com as palavras de um anúncio comercial nas ruas citadinas como um vate urbano-industrial a construir uma profecia nonsense.

Não é exatamente possível descrever o disco sem cair e recair ou jogar-se arbitrariamente em uma torrente de referências diversíssimas e autorreferenciação bastante justa. Bob Dylan, talvez em projeção semiótica pela linguagem, passou por Camden em 1892 e, em deathbed encontrou Walt Whitman, como aliás de fato o fez com o anteriormente citado astro folk Woody Guthrie muitos anos após, e com o poeta tomou alguma lição acerca da estadia perene no inventário cultural americano.

Esta conjectura impossível talvez tenha impelido o jornalista Fernando Navarro a escrever, em bela matéria ao El País acerca igualmente da relação entre os dois autores no álbum recente, o tocante trecho: “Este ‘America First’ de Trump [está] assassinando a América de Whitman. ‘Mantenham-se a salvo, mantenham-se atentos’, disse Dylan numa breve mensagem ao antecipar a epopeia que termina finalmente com Rough and Rowdy Ways. Se o barco da identidade americana afundar, ou zarpar além da linha do horizonte de Cayo Hueso, haverá uma verdade incontestável: Bob Dylan estará dentro.”

Trata-se, o disco em suas faixas, de um estágio ulterior de canção e abertura folclórica, atual como imprecedente. Trata-se de celebrar, enquanto atitude de pessoa preocupada com o agora e a fim de ver exsurgir o futuro apreendendo do passado as importâncias, além de si a caminhar de mãos dadas com Walt Whitman, a lenda encarnada por Robert Allen Zimmerman em sua performance de existir e em sua gentileza ao entregar-nos Rough & Rowdy Ways.

Confira a seguir o programa do Canal Ermira Cultura, em que os jornalistas Rosângela Chaves e Rogério Borges, tendo como convidado especial o jornalista e crítico musical Edson Wander, conversam sobre Rough & Rowdy Ways, o disco mais recente de Bob Dylan.

 

Tag's: Bob Dylan, Música, música norte-americana, Rough & Rowdy Ways, Walt Whitman

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