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Imagem: sala do apartamento de Sherlock Holmes na série Sherlock (BBC)
Imagem: sala do apartamento de Sherlock Holmes na série Sherlock (BBC)
Imagem: sala do apartamento de Sherlock Holmes na série Sherlock (BBC)

Luís Araujo Pereira em Espirais Professor e escritor | Publicado em 11 de outubro de 2020

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
11/10/2020 em Espirais

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Baker Street

“Havia um mês que a procurava”, continuou ele, sentado à minha frente, enquanto mantinha o seu indefectível cachimbo fumegando, pequenas nuvens bailando no ar.

“Seu nome é Ingrid. Quando liguei para ela, depois de uma série de pistas falsas, ouvi uma resposta áspera.”

“Ela não está! Quer deixar recado?”

Nesse momento, fez uma pausa e considerou:

  “A voz era rude, mas insinuava um contralto aveludado flutuando acima do rancor” – encerrando aí o seu relato, com um movimento gracioso.

Para acompanhar o excelente cheiro do tabaco, cada um de nós tinha diante de si uma taça de conhaque que exalava um perfume de madeira levemente adocicado.

Como um prêmio que só se ganha uma vez, eu estava ao lado do famoso Sherlock Holmes, que tinha ido a Paris, numa rara viagem fora do continente, para entrevistar uma mulher complicada. Nós estávamos num bistrô, nas imediações do Louvre. Ele prometeu comentar um ou dois detalhes sobre o caso de que se ocupava e para o qual previa dificuldade política.

Eu o encontrei ali sozinho, sentado a uma mesa externa, refletindo e escrevendo. Eu voltava do museu, para onde tinha ido mais uma vez apreciar os românticos franceses. Há muito tempo, tinha solicitado esse encontro, a pretexto de apresentar-lhe um conto inédito de Conan Doyle que tinha encontrado por acaso nas minhas pesquisas – e lá estava ele me esperando, uma rara cortesia e, sem dúvida, um interesse intelectual descomedido.

“Esse caso é muito complexo,” continuou ele, mais despistando do que revelando, “porque tem muitos ângulos. Acho que, entre todos, escolhi o pior, embora isso não signifique que não vá resolvê-lo. Não existem crimes sem solução – existem investigações malconduzidas”, sentenciou. E debochou da teoria criminalística, ao afirmar que o ângulo é o segredo da investigação. E depois escarneceu dos bacharéis coimbrenses: “Uma capa não é uma toga.”

Sem querer provocar a sua inteligência, perguntei-lhe qual era o ângulo que, em todos os casos, trai a perspicácia dos detetives.

“Sem dúvida, é aquele que parece ser o mais fácil. É nessa escolha que nos perdemos. A coisa mais difícil é entender o fácil.”

Ditas essas frases, que o deixaram mais à vontade, tomou um gole do conhaque, sugou o cachimbo e, quando expeliu a fumaça, que fez poucas nuvenzinhas dessa vez, resmungou alguma coisa que se perdeu para sempre.

Pela minha curiosidade infantil, eu gostaria de perguntar-lhe também sobre o cão dos Baskerville, mas esse assunto não me pareceu apropriado para uma rápida conversa, pois ele tinha me prometido dez minutos de seu inestimável tempo. De repente, lembrei-me de Poirot. Mas aí a legião dos gênios cutucou-me de leve: nunca pergunte ao mais vaidoso dos detetives sobre um concorrente que é belga e tem cabeça em formato de ovo. Num  átimo, ocorreu-me a frase: “Uma mulher apaixonada é uma morta que caminha”, que Joanna murmura a propósito de Linnet. Mas essa é outra história que envolve monsieur Poirot no famoso livro Morte no Nilo.

Retomei o assunto anterior e perguntei-lhe enfim qual era esse ângulo que embaraçava a sua investigação.

O outono em Paris era sonolento e morno, anunciando para breve dias mais frios. Mas ali onde estávamos havia cordialidade, elegância e… um gatuno.

Ele me encarou com um olhar meditativo e desafiador, como se estivesse escolhendo as melhores farpas, digo, as melhores palavras.

Quando começou a responder que a mulher de nome Ingrid e o ângulo que selecionara do caso envolviam uma conspiração internacional que ameaçava a estabilidade do Reino Unido, um carro parou em frente ao bistrô e buzinou discretamente.

“Le voilà!”, exclamou.

Era o dr. Watson que chegava num táxi para buscar o maior detetive de todos os tempos, com o perdão de todos os outros.

“Apareça um dia desses na Baker Street e, quem sabe, contarei como essa investigação foi concluída.”

E lá se foi Sherlock Holmes em direção ao mistério e às incertezas de seu caso, carregando – hou-là-là! – a cópia do conto de Conan Doyle, sem que eu percebesse que ele a havia surrupiado de modo mandrake bem diante dos meus olhos.  

Tag's: Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, Hercule Poirot, histórias de detetive, Sherlock Holmes

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2 comentários em “Baker Street”

  1. Carla Damião disse:
    11 de outubro de 2020 às 16:01

    Que encontros! Muito bom!!! Senti falta do Inspetor Morse. Saudades de você e da, Rosângela!

    Responder
  2. Ellen disse:
    12 de outubro de 2020 às 22:13

    Quero mais!

    Responder

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