Desde os hebreus bíblicos do Gênesis ao Apocalipse, os anacoretas cristãos e especuladores filosóficos de outras cepas e partes, agnósticos e demais investigadores, sabe-se lá em quantas culturas, o fim do mundo, como a morte, avulta em cenários extremados da mente humana.
Se o que seria o fim virá para o ser humano como efeito dos extremos das mudanças climáticas, pelo efeito gravitacional do segundo sol cantado por Cassia Eller, por um grande meteoro ou pelo esgotamento do nosso mundo solar, não há como saber ao certo, na finitude do universo.
Nestes tempos cada vez mais próximos ao nosso fim, me pergunto se Trump – que ora deixa a presidência dos EUA e o centro das atenções – e Bolsonaro, que ainda persiste – mas não por muito tempo – na sua conjugação maligna de notícias falsas, negacionismo climático e pandêmico, irresponsabilidade política, social e ambiental, seriam, em perspectiva, uma espécie de eterno retorno nietzschiano de alianças desvairadas não consumadas?
É o que me ocorre figurativamente, guardadas as devidas proporções, sobre as imagens das bandeiras confederadas contrabandeadas para dentro do Capitólio norte-americano, ao ler o prelúdio do livro de Gerald Horne, publicado no Brasil: O Sul mais distante: Os Estados Unidos, o Brasil e o tráfico de escravos africanos.
Eis que a pesquisa do professor da Universidade de Houston, Texas, sobre o comércio nefasto protagonizado por americanos, portugueses e brasileiros, em uma aliança atlântica que alcançou até a África Oriental – depois de os ingleses, velhos contrabandistas de carne humana, banirem o tráfico perseguindo os navios negreiros e permitindo a passagem daqueles com o pavilhão estadunidense –, revela que a grande esperança de escravistas do sul dos Estados Unidos para vencer as forças do norte industrializado então abolicionista naquele país seria uma imaginada aliança com o grande país escravocrata ao sul chamado Brasil. Quando flibusteiros tramavam tomar a Amazônia.
Segundo o livro, os navios baleeiros, como o que perseguiu a Moby Dick da ficção, com o declínio da pesca, foram convertidos em tumbeiros.
E falando em literatura, Eduardo Bueno comentou em seu canal no YouTube como até o personagem Robinson Crusoé, segundo o livro fictício, teria naufragado ao sair do Brasil em uma viagem destinada ao tráfico hediondo de escravos com vistas ao lucro.
Depois disso, o documentário 13th (Netflix), de Ava DuVernay, investigou como a Décima Terceira Emenda à Constituição dos EUA aboliu a escravidão, mas manteve a servidão involuntária de prisioneiros condenados – e a isso seguiu-se a criminalização de ex-escravos.
No caso aqui, no tempo presente, a aliança sonhada foi o inverso, brasileiros alçados ao poder crendo-se sustentados em coalizão com os Estados Unidos por uma cruzada imaginária contra socialistas, chineses e outros monstros e demônios.
Sim, todo cuidado é pouco contra a o Estado ineficiente, a corrupção, o patrimonialismo, o aparelhamento, o autoritarismo, o personalismo andando de salto alto no partidarismo porreta, a propaganda fratricida, o maniqueísmo armado e as tentativas messiânicas de destruir as instituições – oriundos seja de cima, seja debaixo, seja de direita, seja de esquerda. Como com o capitalismo desenfreado e sem equilíbrio.
Sem embargo, é em tempos altamente recessivos que vem a imensa necessidade da ação do Estado, como, depois de Keynes, aplicou Roosevelt contra a depressão econômica nos EUA.
Quando os democratas assumem a bandeira de Lincoln e a responsabilidade da urgência, bem-vindos sejam Joe Biden, Kamala Harris e o Green New Deal. Oxalá tragam consigo sementes e novas vertentes para o planeta!