• Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • No Goiás
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter

ERMIRA

  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter
  • Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • No Goiás
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 16 de maio de 2021

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
16/05/2021 em Florações

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp
← Voltar

Cinco poemas de Félix de Bulhões

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[Seleção e perfil de Paulo Manoel Ramos Pereira]

[1]

O goiano da gema

O goiano da gema, o da cidade,

é sempre ou quase sempre bom sujeito,

para trabalho sério – pouco jeito;

para a intriga – bastante habilidade.


Se não tem que fazer, por caridade,

tosa na vida alheia sem respeito;

e acredita estar muito em seu direito

apoquentar assim a humanidade.


Se vai dar-te uma prosa, por brinquedo,

arruma-te um cacete, que te pisa,

qual se fora de ferro ou de rochedo,


e, cousa que aborrece e encoleriza,

visita a gente de manhã bem cedo,

quando se está em fralda de camisa.

***


[2]

No lago

O lago era risonho e alegre à tarde…

O sol, que já não arde, inda ilumina

O dorso da colina verdejante,

Que ostenta os cambiantes da esmeralda

E do ouro. Ali na fralda a onda anseia

Sobre a límpida areia, enquanto a brisa

O azul espelho frisa, e doida e andeja

No mato rumoreja.


O lago era risonho. – Uma barquinha

Leve e delgada, asinha se embalança

E sobre a escuma avança a erguida proa

Que fende a escuma à toa, sem roteiro…

Vão dentro o gondoleiro descuidoso

E mais um par ditoso… Ao longe, ao largo,

Sobre o elemento amargo, enquanto a brisa

A onda encrespa e frisa; e  alegra a tarde

O sol que já não arde…


E a barquinha lá vai por entre a escuma

Que o remo corta, e apruma a erguida proa,

Ao largo, ao longe… à toa. – O gondoleiro

Sereno, sombraceiro, escuta e sonda

O crepitar da onda, e olha o horizonte

Lá por cima do monte. – O par ditoso

Deslembra, descuidoso, um noutro imerso,

O resto do universo… E a vaga anseia

Sobre a límpida areia.


E vem a noite negra e a branca lua…

E a barquinha flutua, à sorte a proa,

Ao largo… Ao longe à toa… Sem roteiro.

E dorme o gondoleiro… E o par ditoso

No êxtase amoroso, um noutro imerso,

Se esquece do universo… Enquanto a brisa

A onda encrespa e frisa, e doida andeja

No mato rumoreja.

***


[3]

Hino abolicionista

Eia! exulta, a clamar liberdade

Quem há pouco dobrava a cerviz!

Vão quebrar-se da lei na igualdade

Os grilhões de uma raça infeliz.


De Aristides ao grito acordada

Ela a triste cabeça elevou;

E o clamor de uma nova cruzada

Pelos vastos sertões retumbou.


CORO: Eia! exulta etc.


No formoso horizonte goiano,

Retocado de cores gentis,

O cruel privilégio inumano

Terminou. Já não há mais servis.


O passado sepulte-se escuro

Ante a aurora que rósea brilhou:

Rio Branco liberta o futuro,

O presente ele aqui libertou.


CORO: Eia! exulta etc.

***

[4]

O meu violão

Quando da crua lida na fadiga

Descanso peço à rede e aí me espicho,

É meu maior prazer e meu capricho

Espichar-te por cima da barriga.


Contigo travo prosa doce, e amiga

Palestra, a meia-voz, quase cochicho

E toda a minha mágoa escorropicho

Em teu seio chorão de pau-de-riga.


E vamos arranhando muita asneira,

Com ar de cançoneta italiana,

Ou de francesa música faceira.


Mas como não pescamos da germana,

Entra logo o lundu puxa-feira,

E acabamos cantando o quero-mana.

***


[5]

Só

Parei! – Chegado havia ao cimo da montanha

Aspérrima e tamanha –

O sol morria além!

Parei; sentei-me só à beira do caminho,

Sentei-me ali sozinho,

Eu só, sem mais ninguém.


Olhei atrás e avante. – Os largos horizontes

Debruçam-se nos montes.

E longes, por além,

De branco e azul e fogo e púrpura toucados,

Diziam contristados,

“Tu só, sem mais ninguém.”


Percorro o estádio feito em um só lance d’olhos

Sem contar os abrolhos,

E muito, muito além,

Nas veigas serpeava o trilho venturoso,

Que eu correra ditoso,

Eu só, sem mais ninguém.


Atrás deixava o prado, a vida, a flor, o aroma,

E o doce amor que assoma

Na juventude. Além,

Além a névoa densa, a dúvida insegura,

Além a bruma escura,

Eu só, sem mais ninguém.


Avante a escarpa está de crua descambada,

Precípite e eriçada,

Um passo mais além,

Eu vou com passo firme, e resoluto e certo

Para o eterno deserto,

Eu só, sem mais ninguém.

Perfil

 

Antônio Félix de Bulhões Jardim nasceu na cidade de Goiás, no dia 28 de agosto de 1845. Cursou Direito no Largo de São Francisco, em São Paulo, formando-se aos 20 anos. De volta à capital goiana, exerceu a magistratura em diversos níveis, a ponto de tornar-se, mais tarde, desembargador. Atuou no magistério regional e foi eleito deputado provincial. Como colunista, foi um ativista de cunho liberal e abolicionista, nos jornais pelos quais passou ou fundou. Faleceu de maneira precoce, em 29 de março de 1887. Passada a morte do filho, a mãe reuniu os seus versos no volume Poesias do Desembargador Félix de Bulhões, publicado em 1906. São necessários quase 90 anos para que, comemorando-se o sesquicentenário do poeta, fossem editadas as Poesias pela segunda vez. Em 1995,  a Fundação Cultural Pedro Ludovico acresceu ao apanhado original poemas dispersos em periódicos e panfletos. A poesia de Félix de Bulhões registra, com muito mérito, as características românticas mais marcantes, do decadentismo ao condoreirismo, deixando espaço para um  humor satírico destoante.  Bernardo Élis, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, comentou a tradição literária goiana, destacando que “Nas tardes mornas de cigarras, Antônio Félix de Bulhões Jardim, o primeiro poeta goiano, chorava sua solidão de romântico, enquanto lutava pela libertação dos escravos, qual outro Castro Alves generoso e másculo”.

Tag's: Félix de Bulhões, literatura, literatura goiana, poesia, poesia goiana

  • A arte musical do bate-papo

    por Roberto Mello em Aboios

  • O existencialismo é um platonismo: ensaio em homenagem a Gerd Bornheim (1929-2002)

    por Vítor H. R. Costa em Matutações

  • Aquele estranho dia que nunca chega

    por Rogério Borges em Margem

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Deixe um comentário (cancelar resposta)

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

ERMIRA
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter