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Foto: Camila Angélica
Foto: Camila Angélica
Foto: Camila Angélica

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 23 de janeiro de 2022

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
23/01/2022 em Florações

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Cinco poemas de Tarsilla Couto de Brito

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

VIII

Carrega consigo um esquecimento definitivo

(podia narrar descrever rasurar fotografias raspar paredes)

mas essa lembrança não subia não voltava não mais


O rosto vivo da avó (a singularidade de sua doçura

no balanço de barriga nas tardes em que era risada solta

nos doces que carregava pé de moleque rapadura

pirulito tudo distribuído com as mãos mágicas saídas das

rugas de um embornal surrado) apagou-se


No entanto ela está

lá ainda dormita o dia todo não importa a casa


Dorme sob a sombra inconsistente de ter-sido traz a cabeça

encapuzada de trevas – vestida de noite – uma cobertura transluz

antecipa a boca aberta do fim, uma touca de pele foi

encurtando silenciando adormecendo seu rosto

                                                         
Uma máscara

a torna invisível antes mesmo que não lhe sirva mais

A mulher que nasceu sem metafísica (2021)

• • •


[2]

XIX

No ano em que o pataxó galdino foi queimado vivo

esperou o ônibus das 5h40 que a levaria a outro que

foi pega de surpresa ainda às 5h30 por uma chave de braço

e por uma mão que apertou muito sua buceta vestida de jeans

A mulher que nasceu sem metafísica (2021)


[3]

XVII

Memórias são como ruas

esvaziadas por placas azuis

não sinalizam que


aquele lote baldio de grama verdinha

na 25-A era a casa do fabiano catador

e a rua dona francisca de costa e cunha

já foi a 26-A onde tudo começou e que o centro

de convenções está construído sobre a clínica

de radiologia goiana onde tudo começou e que

até hoje não terminou

                        
porque placa é coisa de desdizer

esqueça que Goiânia é um câncer azul a céu aberto

A mulher que nasceu sem metafísica (2021)

• • •


[4]

XXXVIII

A judite da Artemísia prendeu os cabelos

fechou os cotovelos, franziu a testa

– carne dura exige esforço, ela já sabia –

no braço uma pulseira de delicadeza


A judite do botticelli juntou as saias e

partiu (cimitarra, ramo de oliveira

embornal, cabeça cortada) melancólica

por que a morte está sempre atrasada?


Mas a judite que ninguém pintou

trazia consigo uma fotografia da casa invadida

enquanto vencia a última fibra do grosso pescoço

quando? o seu deus falará a minha língua

A mulher que nasceu sem metafísica (2021)

• • •


[5]

XLI

Quando o direito à imaginação

tornou-se arma nas mãos do inimigo

cavou um verso com profundidade

e grandes lábios de trincheira para fazer caber

(os mais minuciosos relatos das borboletas rabo-de-andorinha,

as verdades relativas do rosa e do laranja nas trombetas dos anjos,

os detalhes incontornáveis do silêncio do urutau em campo aberto,

as narrativas inverificáveis das salamandras de dorso vermelho)

escritos de próprio punho, mal escritos, empolados, singelos, poéticos,

engajados, herméticos, realistas, delirantes, incendiados,

rasgados segundos antes


(restos de real – sangue respingado, serpentina em baile interrompido –

que se colam sob as solas dos sapatos, que se arrastam pela vida)

A mulher que nasceu sem metafísica (2021)

Tarsilla Couto de Brito nasceu em Goiânia no dia 14 de novembro de 1975. Foi livreira no Rio de Janeiro. Atualmente, é professora de Teoria, Crítica e Ensino de Literatura na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás. O seu interesse acadêmico está voltado também para os estudos de mimesis, crítica e tradução do exílio, autoria feminina e escrita criativa. Publicou Sentimentos carimbados – Ensaio sobre o amor em tempos de pandemia (Coletivo Goiânia Clandestina, 2021). Em coautoria com Jamesson Buarque, publicou ainda o livro de poemas Coisas que as máquinas não podem fazer (Caravana, 2021).  A mulher que nasceu sem metafísica (Grafisch Atelier Hidrolands, 2021) é o seu mais recente livro. Desde 2017, escreve para a coluna NoNaDa de Ermira Cultura. Também atua como fotógrafa.

Tag's: A mulher que nasceu sem metafísica, literatura, poesia, poesia goiana, Tarsilla Couto de Brito

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