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Imagem: Tile Mosaic Panel (detalhe, séc. XVI, Irã)
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Imagem: Tile Mosaic Panel (detalhe, séc. XVI, Irã)

Luís Araujo Pereira em Espirais Professor e escritor | Publicado em 20 de fevereiro de 2022

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
20/02/2022 em Espirais

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Cão sarnento

Naquela manhã, quando a secretária anunciou o nome, segundo ela o de um cliente boa-pinta que estava aguardando na antessala, eu pensei, é claro, exagerando o valor dos meus honorários:

“Tomara que seja um caso que valha ao menos mil dólares.”

Logo depois, tomado por um súbito sentimento de caridade, pensei de novo, agora em outro diapasão:

“Coitado, deve ser um desesperado sentado lá naquela salinha acanhada, esperando ser atendido porque tem um problema urgente que espera que eu resolva” – e eu, cínico deplorável, sonhando apenas com dias melhores.

Com um rasgo repentino de curiosidade, pensei ainda:

“Esse cliente pode também ser um corno milionário que pretende me contratar para eu flagrar a dondoca infiel.”

E, como às vezes sou engraçado, não deixei de rir porque, se fosse isso mesmo, seria a grana mais fácil de ganhar nesta mísera vida. Uma agência pangaré como a minha merecia tirar a sorte grande ao menos uma vez neste vale de lágrimas.

Com outro impulso de imaginação, pensei que o cliente poderia ser um executivo bem-sucedido que desconfiasse de falcatruas em sua empresa e queria me contratar para que eu conduzisse uma investigação discreta, preparasse um relatório e apontasse os culpados.

Nesse intervalo, enquanto dava trela a essas migalhas de fantasia, sem entender direito o nome que a secretária anunciara, perguntei:

“Qual é mesmo o nome do cliente?”

Em seguida, ela esticou o braço e me entregou um belo cartão. Quando li o nome, o meu coração explodiu em fanfarras: eu fora premiado.

“Louvado seja o profeta!” – não pude deixar de exprimir. A fé que eu professava oferecia muitas surpresas.

Em cor dourada, impresso em fonte arábica, bem diante dos meus olhos, li o nome de Mustafa Al-Madini, um saudita cuja foto era estampada de vez em quando na mídia – uma celebridade para a qual os burgueses estendiam os melhores tapetes e abriam os seus suntuosos aposentos. Ele era um magnata, originário de um país do Golfo Pérsico, que havia chegado à cidade para realizar um grande negócio.

Assim que readquiri a minha altivez, disse à secretária que o fizesse entrar.

Pessoalmente, valia cada palavra que era escrita sobre ele. Depois de ocupar a sala com a sua imponência, dirigiu-se à única poltrona que ficava ao lado da minha mesa. Ao mesmo tempo em que se acomodava, advertiu-me:

“A minha visita é como uma sombra que passa. Se você for mesmo um seguidor das Escrituras, deve esquecer-se de que estive aqui” – e exigiu de volta o cartão.

Num gesto inesperado, como se fosse um presságio do meu futuro, colocou a maleta sobre a mesa. E falou, sem rodeios:

“Os seus honorários estão aí com as instruções” – apontou com a cabeça a valise. Em seguida, levantou-se, deu-me as costas e dirigiu-se à saída.

Foi a primeira e a última vez que o vi.

Quanto ao trabalho para o qual me designou, foi, como se diz, mamão com açúcar. Pra dizer a verdade, a grana que recebi propiciou-me tranquilidade financeira que aproveito até hoje sem nenhum remorso. O dinheiro foi ainda suficiente para reformar a agência.

Eu sempre soube, pelas linhas misteriosas das suras, que jamais seria um cão sarnento, assim como dizia minha querida mãezinha que também era serva de Alá.

Tag's: conto, história policial, literatura goiana, Luís Araujo Pereira, narrativa curta, narrativa policial

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2 comentários em “Cão sarnento”

  1. Rogério Almeida Chaves disse:
    20 de fevereiro de 2022 às 12:12

    O detetive teve muita sorte.

    Responder
  2. Suzana Alde disse:
    28 de fevereiro de 2022 às 01:54

    Um prazer acompanhar o ritmo rápido da ação na narrativa e ser surprendida com um Detetive ganancioso.
    Final rápido sem tempo de qualquer idealização (q um detetive q se preze desperta) Cai o pano, FIM.

    Responder

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