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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 17 de setembro de 2023

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
17/09/2023 em Florações

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Cinco poemas de Nicanor Parra

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[Tradução de Joana Barossi e Cide Piquet]

[1]

Autorretrato

Considerad, muchachos,

Esta lengua roída por el cáncer:

Soy professor en un liceo obscuro,

He perdido la voz haciendo clases.

(Después de todo o nada

Hago cuarenta horas semanales.)

¿Qué os parece mi cara abofeteada?

¡Verdad que inspira lástima mirarme!

Y qué decís de esta nariz podrida

Por la cal de la tiza degradante.


En matéria de ojos, a tres metros

No reconozco ni a mi própria madre.

¿Qué me sucede? – Nada.

Me los he arruinado haciendo clases:

La mala luz, el sol,

La venenosa luna miserable.

Y todo para qué,

Para ganhar un pan imperdonable

Duro como la cara del burgués

Y con sabor y con olor a sangre.

¡Para qué hemos nacido como hombres

Si nos dan una muerte de animales!


Por el exceso de trabajo, a veces

Veo formas extrañas en el aire,

Oigo carreras locas,

Risas, conversaciones criminales.

Observad estas manos

Y estas mejillas blancas de cadáver,

Estos escasos pelos que me quedan,

¡Estas negras arrugas infernales!

Sin embargo yo fui tal como ustedes,

Joven, lleno de belos ideales,

Soñé fundiendo el cobre

Y limando las caras del diamante:

Aquí me tienen hoy

Detrás de este mesón inconfortable

Embrutecido por el sonsonete

De las quinientas horas semanales.

Poemas y antipoemas (1954)


Autorretrato

Considerem, rapazes,

Esta língua roída pelo câncer:

Sou professor de um colégio obscuro

E perdi a voz de tanto dar aulas.

(Depois de tudo ou nada

Faço quarenta horas semanais.)

Que tal minha cara esbofeteada?

Verdade que dá pena só de olhar!

O que acham deste nariz apodrecido

Pela cal de um giz tão degradante?


Em matéria de olhos, a três metros

Não reconheço minha própria mãe.

O que aconteceu? – Nada!

Acabei com eles de tanto dar aulas:

A luz ruim, o sol,

A venenosa lua miserável.

E tudo isso para quê?

Para ganhar um pão imperdoável

Duro como a cara do burguês

Com sabor e cheiro de sangue.

Para que nascemos como homens

Se nos dão uma morte de animais!?


Às vezes, pelo excesso de trabalho,

Vejo formas estranhas pelo ar,

Ouço corridas insanas,

Risadas e conversas criminais.

Vejam só estas mãos,

Estas bochechas brancas de cadáver,

Estes poucos cabelos que me restam

E estas negras rugas infernais!

No entanto, eu fui assim como vocês

Jovem, cheio de belos ideais,

Sonhei que fundia o cobre

E limava as faces do diamante:

E hoje aqui estou eu

Atrás dessa mesa desconfortável

Embrutecido pelo lenga-lenga

Das quinhentas horas semanais.

• • •


[2]

Advertencia

Yo no permito que nadie me diga

Que no comprende los antipoemas

Todos deben reír a carcajadas.


Para eso me rompo la cabeza

Para llegar al alma del lector.


Déjense de preguntas.

En el lecho de muerte

Cada uno se rasca con sus uñas.


Además una cosa:

Yo no tengo ningún inconveniente

En meterme en camisa de once varas.

Versos de salón (1962)


Advertência

Eu não aceito que ninguém me diga

Que não compreende os antipoemas

Todos devem rir às gargalhadas.


Por isso quebro a cabeça

Para chegar à alma do leitor.


Chega de perguntas.

No leito de morte

Cada um se coça com as próprias unhas.


Mais uma coisa:

Eu não vejo nenhum inconveniente

Em me meter numa boa enrascada.

• • •


[3]

Cronos

En Santiago de Chile

Los

       días

               son

                     interminablemente

                                                    largos:

Varias eternidades en un día.


Nos desplazamos a lomo de mula

Como los vendedores de cochayuyo:

Se bosteza. Se vuelve a bostezar.


Sin embargo las semanas son cortas

Los meses pasan a toda carrera

Ylosañosparecenquevolaran.

Canciones rusas (1967)


Cronos

Em Santiago do Chile

Os

     dias

            são

                  interminavelmente

                                                 longos:

Várias eternidades num só dia.


Nos deslocamos em lombo de mula

Como os vendedores de charque:

Bocejamos. Voltamos a bocejar.


No entanto as semanas são curtas

Os meses passam em disparada

Eosanosparecemvoar.

• • •


[4]

Agnus Dei

Horizonte de tierra

                              astros de tierra

Lágrimas y sollozos reprimidos

Boca que escupe tierra

                                    dientes blandos

Cuerpo que no es más que un saco de tierra

Tierra con tierra – tierra con lombrices.

Alma inmortal – espíritu de tierra.


Cordero de dios que lava los pecados del  mundo

Dime cuántas manzanas hay en el paraíso terrenal.


Cordero de dios que lavas los pecados del mundo

Hazme el favor de decirme la hora.


Cordero de dios que lavas los pecados del mundo

Dame tu lana para hacerme un sweater.


Cordero de dios que lava los pecados del mundo

Déjanos fornicar tranquilamente:

No te inmiscuyas en esse momento sagrado.

Obra gruesa (1969)


Agnus Dei

Horizonte de terra

                              astros de terra

Lágrimas e soluços reprimidos

Boca que cospe terra

                                  dentes moles

Corpo que não é mais que um saco de terra

Terra com terra – terra com minhocas.

Alma imortal – espírito de terra.


Cordeiro de deus que lava os pecados do mundo

Me diga quantas maçãs há no paraíso terreno.


Cordeiro de deus que lava os pecados do mundo

Faça o favor de dizer as horas.


Cordeiro de deus que lava os pecados do mundo

Me dê sua lã para eu fazer um suéter.


Cordeiro de deus que lava os pecados do mundo

Nos deixe fornicar tranquilamente:

Não se intrometa nesse momento sagrado.

• • •


[5]

El anti-Lázaro

Muerto no te levantes de la tumba

qué ganarías con resucitar

una hazaña

                    y después

                                     la rutina de siempre

no te conviene viejo no te conviene


el orgullo la sangre la avaricia

la tiranía del deseo venéreo

los dolores que causa la mujer


el enigma del tiempo

las arbitrariedades del espacio


recapacita muerto recapacita

que no recuerdas cómo era la cosa?

a la menor dificultad explotabas

en improperios a diestra y siniestra


todo te molestaba

no resistías ya

ni la presencia de tu propria sombra


mala memoria viejo ¡mala memoria!

tu corazón era un montón de escombros

– estoy citando tus propios escritos –

y de tu alma no quedaba nada


a qué volver entonces al infierno del Dante

¿para que se repita la comedia?

qué divina comedia ni qué 8/4

voladores de luces – espejismos

cebo para cazar lauchas golosas

esse sí que seria disparate


eres feliz cadáver eres feliz

en tu sepulcro no te falta nada

ríete de los peces de colores


aló – aló me estás escuchando?


quién no va a preferir

el amor de la tierra

a las caricias de una lóbrega prostituta

nadie que esté en sus 5 sentidos

salvo que tenga pacto con el diablo


sigue durmiendo hombre sigue durmiendo

sin los aguijonazos de la duda

amor y señor de tu propio ataúd

en la quietud de la noche perfecta

libre de pelo y paja

como si nunca hubieras estado despierto


no resucites por ningún motivo

no tienes para qué ponerte nervioso

como dijo el poeta

tienes toda la muerte por delante

Hojas de Parra (1985)


O anti-Lázaro

Morto não se levante dessa tumba

o que ganharia em ressuscitar

uma façanha

                     e depois

                                   a rotina de sempre

não te convém meu velho não convém


o orgulho o sangue a avareza

a tirania do desejo venéreo

as dores causadas pela mulher


o enigma do tempo

as arbitrariedades do espaço


reconsidere morto reconsidere

já se esqueceu de como eram as coisas?

qualquer dificuldade você já explodia

em impropérios a torto e a direito


tudo te incomodava

você não suportava mais

nem a presença da sua própria sombra


memória fraca velho memória fraca!

seu coração era um monte de escombros

– estou citando os seus próprios escritos –

e de sua alma não restava nada


pra que voltar ao inferno de Dante

pra que se repita toda a comédia?

que divina comédia nem milonga

fogos de artifício – ilusão de ótica

isca pra caçar ratos gulosos

isso sim seria um disparate


você é feliz cadáver é feliz

neste sepulcro não te falta nada

você não tem com que se preocupar


alô – alô está escutando?


quem é que não iria preferir

o amor da terra

aos carinhos de uma triste prostituta

ninguém que esteja em seus 5 sentidos

a não ser que tenha pacto com o diabo


fique deitado homem fique deitado

sem as aguilhoadas da incerteza

amo e senhor do seu próprio ataúde

na quietude da noite absoluta

livre de tormentos e canseiras

como se nunca tivesse estado em pé


não ressuscite por nenhum motivo

não tem por que você passar nervoso

como disse o poeta

você tem a morte inteira pela frente

Perfil

Nicanor Segundo Parra Sandoval nasceu em 5 de setembro de 1914 em San Fabián de Alico, cidade a 400 quilômetros de Santiago do Chile, e morreu em La Reina no dia 23 de janeiro de 2018, aos 103 anos. Violeta Parra e Roberto Parra Sandoval, músicos prestigiados, foram seus irmãos. Estudou matemática e física. Fez pós-graduação na Universidade Brown (EUA) e, em 1975, passou a lecionar na Universidade do Chile. Na década de 1960, tem seus poemas traduzidos para o inglês por Ferlinghetti, Ginsburg, William C. Williams, Thomas Merton, entre outros. Em 1965, publicou Poesía soviética rusa, uma antologia organizada e traduzida por ele após viagem à URSS. Foi assunto de dois documentários: Cachureo (Apuntes sobre Nicanor Parra), de 1977, e Nicanor Parra ’91, de 1991. Recebeu o Prêmio Reina Sofía de Poesia Ibero-americana (2001), Prêmio Cervantes (2011) e o Prêmio Ibero-americano de Poesia Pablo Neruda (2012). Em 2018, com seleção e tradução de Joana Barossi e Cide Piquet, a editora 34 publicou Só para maiores de cem anos, uma antologia que reúne poemas de sete livros. Em Poemas y antipoemas (1954), criou o estilo “antipoesia”, que pode ser descrito como oposição ao lirismo retórico e solene praticado sobretudo por Huidobro e Neruda, em que o coloquial e o popular são valorizados. Ermira Cultura destaca a seguir alguns títulos de livros desse autor com vasta obra e pouco divulgado no Brasil: Cancionero sin nombre (1937), Poemas y antipoemas (1954), La cueca larga (1958), Versos de salón (1962), Manifesto (1963), Canciones rusas (1967), Obra gruesa (1969), Los profesores (1971), Artefactos (1972), Sermones y prédicas del Cristo de  Elqui (1979), Chistes para desorientar a la policía (1983), Poesía política (1983), Hojas de Parra (1985), Lear Rey & mendigo (2004), Obras completas (2006).

 

Tag's: Nicanor Parra, poesia, poesia chilena, poesia latino-americana

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1 comentários em “Cinco poemas de Nicanor Parra”

  1. Lisa França disse:
    23 de setembro de 2023 às 08:16

    Muito lindo Luís. Muito especial sia curadoria. Poemas sangrados.

    Responder

Respondendo o comentário de Lisa França (cancelar resposta)

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