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Foto: Divulgação
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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 22 de outubro de 2023

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
22/10/2023 em Florações

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Cinco poemas de Claudia Roquette-Pinto

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

O dia inteiro perseguindo uma ideia:

vagalumes tontos contra a teia

das especulações, e nenhuma

floração, nem ao menos

um botão incipiente

no recorte da janela

empresta foco ao hipotético jardim.

Longe daqui, de mim

(mais para dentro)

desço no poço de silêncio

que em gerúndio vara madrugadas

ora branco (como lábios de espanto)

ora negro (como cego, como

medo atado à garganta)

segura apenas por um fio, frágil e físsil,

ínfimo ao infinito,

mínimo onde o superlativo esbarra

e é tudo de que disponho

até dispensar o sonho de um chão provável

até que meus pés se cravem

no rosto desta última flor.

Corola (2000)

• • •


[2]

Da banda dos metais operosos

sobe um tinir, um retinir caduco

– a tosse aguda do serrote,

o mote renitente, cego,

do martelo, quente no prego.

Agora a serra dispara

o ruído que espirala,

quer chegar a um lugar mais alto,

mais raro – feito de ar.

O canto só se interrompe

de encontro ao tronco do eucalipto

(no atrito que desce um tom na escala)

e rasga a tarde esticada com um grito.

Corola (2000)

• • •


[3]

Canção do exílio

Tenho medo do meu corpo.

Sinto que ele é parco,

pouco,

a um só tempo ermo e oco,

e logo se abre em fulgores,

espasmos que desconheço.

O corpo com que amanheço

não chega a ser o mesmo

com que arco,

quando a tarde desce,

peso-morto que me incandesce,

absorto.

Nem é ele o barco enfermo

em que regresso,

pouco a pouco,

do degredo do sono

na madrugada espessa.

Se me envolve ou me atravessa,

se nele me hospedo

ou esqueço,

tenho medo do meu corpo.

Alma corsária (2022)

• • •


[4]

Vento depois da doença

Este vento, terno e tão

terreno – e, arrisco,

já beirando o aliciante –

vem de novo em meu socorro.

No azul-caco-de-vidro

tirante a anilina

o parapente, indolente, oscila,

brinco na orelha do morro.

O Dois Irmãos, visto daqui

(do lado oposto à decantada Gávea)

vira seu rosto grave

de Hierofante

na direção do enclave

do Vidigal com a Rocinha.

Mas a Pedra grande, suave,

só exibe suas pernas gigantes

(cobertas ainda com a Mata

Atlântica que o mais novo prefeito,

esse tratante,

depila, insiste em depilar)

e, inocente, as estende

até a água impávida.

A paisagem não se defende.

Sua beleza eloquente

é, mesmo assim, tão alarmante

quanto a marra das fêmeas

e a lábia dos traficantes.

Mais adiante, estão as ilhas

suspensas num azul sem dobras

debaixo da lenta manobra

das nuvens

que roçam seus mamilos

no peitoral do Corcovado.

A tarde é uma imensa orgia

e acontece à revelia

da ira ou da astenia

dos deuses, esses ausentes.

Muitas vezes é mediante

uma doença

que vem nascer a boa obra

– disse, certa vez, uma artista

(pintora? performer?) famosa.

Seu nome, aqui, é irrelevante.

Alma corsária (2022)

• • •


[5]

Enquanto você dorme

para P.

Enquanto você dorme,

nuvens carregadas atravessam o oceano,

navios se aglomeram, todo-acesos,

no horizonte

e em longas conversas

golfinhos e baleias disparam seus sonares.

Você dorme.

O céu baixa da orbe

num azul exorbitante

e da pálpebra, enorme,

estrelas tombam n’água.

No entanto, você dorme.

Sob o orvalho que evapora,

abandonando as flores,

insetos discutem seus mitos fundadores

perto de um velho ancinho

que a maresia corrói.

Uma cicatriz rosada rasga o céu de Niterói,

fazendo um sorriso disforme.

E você dorme, dorme.

As entidades das matas

pisam de leve nas trilhas,

o sol mete a cabeça

por detrás das grandes ilhas

Cagarras,

aonde um resto de sombra se agarra,

antes que os contornos de tudo,

pouco a pouco, retornem.

Antes que o mundo outra vez

se forme,

enquanto você dorme.

Alma corsária (2022)

Claudia Roquette-Pinto nasceu no Rio de Janeiro em 1963. Estudou na San Francisco State University em 1980. É graduada em Tradução Literária pela PUC-RJ. Durante cinco anos dirigiu o jornal Verve, dedicado à divulgação de artes e literatura. Publicou os seguintes livros de poemas: Os dias gagos (1991), Saxífraga (1993), Zona de sombra (1997), Corola (2000, prêmio Jabuti de 2002), Margem de manobra (2005) e Alma corsária (2022). Publicou ainda, em 2008, dois livros infantojuvenis, Botoque e Jaguar. Entre lobo e cão é de 2016, livro com colagens e trechos em prosa. Foi finalista do Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira em 2006. Seus poemas foram traduzidos para o inglês, espanhol, francês, alemão e catalão. Participa de diversas antologias, nacionais e estrangeiras. Em prefácio para o livro Corola, Heloísa Buarque de Hollanda conclui sua apresentação com um parágrafo auspicioso sobre a sua carreira literária: “Uma poesia vivida como o único e último espaço de liberdade possível para uma geração que aprendeu a amar sob o efeito da Aids, do pânico, da violência, da imagem brutal dos excluídos. Um texto forte, corajoso, incrivelmente belo, de escrita madura, que define, sem a menor dúvida, Claudia Roquette-Pinto como uma das grandes expressões da poesia contemporânea.”

Tag's: Claudia Roquette-Pinto, literatura, poesia, poesia brasileira

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