Sou aquele que habita a montanha
Aquele que é uma ilha
que é vazio,
e sua existência é uma ausência no espaço
Nutrindo sentimentos por fantasias
Perecidas quando confrontadas com a realidade
Agora minhas mãos são ouro
Sou Midas entre os deuses
Tudo que toco, não posso ter
Pois as coisas não me têm mais utilidade
Só resta me entreter
com os reflexos de meu próprio sofrimento
O que pode um sorriso esconder?
E cada passo dado
pavimentou o caminho
findado aqui
Uma vez que vi seus olhos
eu não era mais dono do meu eu
Há uma pira em meu peito
escaldando meu bom senso
impulsionando, mas adormecendo
a consciência do que deveria ou não ser
não sei mais distinguir
aparências de algo verdadeiro
Sou eu a marionete nas cordas
ou sou a mão mestre das marionetes?
Minhas memórias se colidem
com quem sou, e quem não posso ser
Quem quero ser, e quem
o mundo fez de mim
Sou eu mais do que a impressão de outros?
Eles saberão quem realmente sou
por trás de todas essas confissões
e eles querem?
Sou uma efígie
dos meus próprios sonhos
O mundo nunca preencherá
o espaço vazio por entre meus dedos
Como o abismo estre
meu corpo e minha alma
refletido nos meus olhos
cujas cores desbotadas tingem
árvores de um bulevar
No espelho há um olhar
que descansa sob a face
quando essas coisas
tornaram-se parte de mim?
Meus olhos são oceanos cheios de mentiras
Minhas escolhas nunca foram inteiramente minhas
Minha vida, nunca minha para tomá-la
nunca minha para vivê-la
Só existo no relance dos seus olhos
e minha respiração é apenas um momento
perpetuando através da minha finitude
Por um momento, somos tudo;
e por um momento mais, já não existimos.
Cada partícula do meu corpo se esvaiu
Sou ossos quebrados, sou ar pueril.
[Revisão de Ana Tercia e Gabriel Santana. Revisão final e edição de Rosângela Chaves]
O poema abre a sétima edição do Projeto Ensaios, um projeto de divulgação filosófica coordenado pelo professor Weiny César Freitas Pinto, do curso de Filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em parceria com o site Ermira Cultura, que visa colocar em diálogo a produção acadêmica com a opinião pública por meio da publicação de ensaios.