• Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • Projeto Ensaios
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter

ERMIRA

  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter
  • Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • Projeto Ensaios
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 26 de setembro de 2021

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
26/09/2021 em Florações

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp
← Voltar

Cinco poemas de Andrea Zanzotto

[Curadoria: Luís Araujo Pereira / Seleção, tradução e perfil: Patricia Peterle, professora do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)]

[1]

Atollo

Un sole che con oziosi giri

sedusse e divorò l’ombra del mondo

e crebbe sui giorni e sui mesi

già stringe il muro ed il cortile

scruta le differenze d’ago

della sabbia dei piccoli castelli

e brilla da mille bandiere

da scudi e da porte

dagli angoli dei morti.

Tra quei precari monumenti,

io là vi collocai, fragili Italie

i cui minuti segmenti

avido sale stinse,

la brace là s’indovina

dell’insetto e del libro,

là tra giochi vuoti e pericoli

al silenzio si appoggiano le clausole

della mia memoria infelice

e monti decrepiti affidano

alla sabbia insensibili sfaceli,

la sabbia senza parsimonia

colma i volti e i sorrisi

spegne l’oro dei suoni.


Già il sole penetra per le

cieche gallerie delle finestre

sugge e scinde gli ultimi

legami della mia sostanza.


Atol

Um sol que com ociosos rodeios

seduziu e devorou a sombra do mundo

e cresceu nos dias e nos meses

já abraça o muro e o quintal

sonda as diferenças da agulha

da areia dos pequenos castelos

e brilha das tantas bandeiras

de escudos e portas

das esquinas dos mortos.

Nesses precários monumentos,

eu lá as coloquei, frágeis Itálias

cujos pequenos segmentos

sal voraz desbotou,

a brasa lá se adivinha

do inseto e do livro,

lá entre jogos vazios e perigos

no silêncio se apoiam as cláusulas

da minha memória infeliz

e montes caducos confiam

à areia insensíveis esfacelos,

a areia sem parcimônia

enche os rostos e os sorrisos

apaga o ouro dos sons.


Já o sol penetra por entre as

cegas galerias das janelas

suga e cinde os últimos

elos da minha substância.

***


[2]

Primavera di Santa Augusta

Alla pioggia dei monti, dei castelli,

le bandiere cadono in sfacelo;

leggero come scheletro

m’avventuro in questo giorno

che selvoso si versa sul mondo.


Dietro cieche evasioni di ghiacci

e i filtri densi delle paludi,

nell’azzurro defunto delle valanghe

arrestate dal tuo silenzio

arrestate agl’inizi del mio terrore,

vacillano le scale dell’inverno;

per un’altra fronte della pioggia

primavera dolce

tuona sui monti


La tua vicenda avvampa

ancora, discendi in tumulto

dalle madide chiome dei paesi

coi torrenti del cielo e delle strade,

e snudi abissi sotto le mura

e sotto i treni

immoti davanti alla sera.


Le voci della vera

età chiara ti fanno

ma gli occhi restano spenti

su questa terra che di te s’estenua

e dal tuo volto vinto da morte

il mio conosco.


Primavera de Santa Augusta

Na chuva das montanhas, dos castelos,

as bandeiras cedem em esfacelo;

aéreo como esqueleto

me aventuro nesse dia

que selvoso se espalha no mundo.


Por trás de cegas evasões de gelos

e os filtros densos dos pântanos,

no azul defunto das avalanches

detidas pelo teu silêncio

detidas no início do meu terror,

vacilam as escadas do inverno;

por uma outra frente da chuva

primavera doce

troa nos montes


A tua história inda

inflama, desces em tumulto

das copas encharcadas das aldeias

com torrentes do céu e das ruas,

e despes abismos sob os muros

e sob os trens

imóveis diante da noite.


As vozes da real

idade alva te fazem

mas olhos ficam sem luz

nessa terra que de ti se extenua

e por teu rosto vencido de morte

o meu conheço.

***


[3]

Ormai

Ormai la primula e il calore

ai piedi e il verde acume del mondo


I tappeti scoperti

le logge vibrate dal vento ed il sole

tranquillo baco di spinosi boschi;

il mio male lontano, la sete distinta

come un’altra vita nel petto


Qui non resta che cingersi intorno il paesaggio

qui volgere le spalle.


Agora já

Já a prímula e o calor

nos pés e o verde acume do mundo


Os tapetes expostos

as loggias vibradas pelo vento e o sol

tranquilo verme de espinhentos bosques;

o meu mal distante, a sede diferente

como uma outra vida no peito


Aqui não resta senão se cingir à paisagem

aqui dar as costas

***


[4]

Batte il fabbro

Batte il fabbro tra notte e monte,

forma l’officina profonda;

e gli strumenti lungo le pareti

pendono, sopravvissuti al fuoco.


D’ossa e di lame glorioso monte

sopra tutte le case,

lupi e cervi di monte nelle corti

fiutano e brucano vetro.


Gremite di neve sono le bocche

e le porte dei paesi,

scivola sotto le strade l’acqua

dei fanciulli defunti.


Pericolanti tenebre, di terra

si vuotano; inginocchiati

caddero i bovi; mentre dai balconi

gli abitanti si sporgono come oro.


Bate o ferreiro

Bate o ferreiro entre noite e monte,

forma a oficina profunda;

as ferramentas correndo as paredes

pendem, sobreviventes ao fogo.


De ossos e lâminas glorioso monte

sobre todas as casas,

lobos e cervos de monte nas cortes

farejam e pastam vidro.


Apinhadas de neve são as bocas

e as portas das aldeias,

escorre sob as ruas a água

das crianças falecidas.


Periclitantes tenebras, de terra

se esvaziam; ajoelhados

caíram os bois; enquanto dos balcões

os habitantes se mostram como ouro.

***


[5]

Grido sul lago

Il grido d’uccello dell’inverno

arrestò i quadranti degli orologi,

carri e macchine

resero fango la via.


Costruzioni ed asili

della più sensibile rovina

si spalancano al lago

gelato di sassi,

intorno al monte s’interrano

bovi motori e ruote,

il duro avello si scava la sera.


Chiamate all’altra riva

in altro tempo

volarono lungi le barche,

sui tavoli i bicchieri rovesciati

versano cera,

precipita la scala

verso inferni di neve.


Palafitte avvizziscono

al divieto fosco dell’oriente,

la terra offesa è chiusa

tra i padiglioni colmi della festa

e il passo di metallo

dei portici e degli archi

che sprofondano il lago.


Tra le sfatte reti del vento

moltitudini estreme

si disperdono in luci.


Grito no lago

O grito de pássaro do inverno

parou os quadrantes dos relógios,

carroças e carros

enlamearam a rua.


Construções e abrigos

da mais sensível ruína

se escancaram pro lago

gelado de pedras,

ao redor do monte se enterram

bois motores e rodas,

a dura cova escava-se à noite.


Chamados à outra margem

em outro tempo

voaram longe os barcos,

sobre as mesas os copos derrubados,

derramam cera,

precipita a escada

rumo a infernos de neve.


Palafitas murcham

na interdição fosca do oriente,

a terra lesa está fechada

entre os pavilhões repletos da festa

e o passo de metal

dos pórticos e arcos

que afundam o lago.


Nas redes desfeitas do vento

extremas multidões

se dispersam em luzes.

Perfil

Quantas facetas não poderiam ser atribuídas a Andrea Zanzotto (1921-2011), para muitos considerado como um dos grandes herdeiros de Eugenio Montale. Sua produção, iniciada com a publicação de Dietro il paesaggio [Por trás da paisagem], em 1951, pode ser vista sob diferentes perspectivas: desde uma forte relação com a tradição até seu caráter mais radical e experimental, passando pelo hermetismo, por certa atmosfera bucólica, sem deixar de tratar das atrocidades da Primeira e da Segunda Guerras, do Vietnã, da destruição da natureza e da grande mudança e reconfiguração da paisagem da região do Veneto. Na verdade, o que chama a atenção na incrível e variada produção de Andrea Zanzotto é sua capacidade de ser sempre ele mesmo e sempre outro, variações, amplitudes e deslocamentos (inclusive na própria linguagem) que são articulados a partir de um espaço muito bem definido e delimitado. Esse espaço corresponde à sua cidade natal, Pieve di Soligo, no interior da região do Veneto, bem perto das Dolomitas. Apesar de ter saído fisicamente pouco desse espaço (uma estada na Suíça e a convocação para a Segunda Guerra Mundial), é a partir dele que Andrea Zanzotto observa e se relaciona com tudo aquilo que está ao seu redor, indo muito além das fronteiras territoriais, por meio das pinceladas surrealistas e pela metamorfose e pela simbiose entre paisagem e humano. Em Dietro il paesaggio, o poeta já indica uma perspectiva muito peculiar para escrutar o que está ao seu redor. De fato, o que é importante ressaltar aqui é, justamente, esse espaço que é escavado pelo poeta “por trás” da “paisagem”, que é um elemento central em toda a sua trajetória. A presença humana nos poemas desse livro, que segue o ritmo das estações, é praticamente nula, tudo é percebido por meio dos inúmeros elementos que compõem e dão vida à paisagem, do verme ao sol, passando pela flor da dália, pelo bicho-da-seda, pelas plantações de trigo, pelo granizo, e pelos inúmeros detalhes que os olhos mais do que atentos e pacientes vão captando e ali se reconhecendo. O olhar crítico e preciso já aparece, por exemplo, no poema Atol, que dá o título a uma das seções de Dietro il paesaggio. A expressão “frágeis Itálias” aponta para uma precariedade, um descompasso, que se desdobra nos demais livros do poeta italiano. A devastação e a total modificação da paisagem, e claro do homem que a habita, em nome de um progresso desenfreado e avassalador, chamado por Pasolini poucos anos depois de “mutação antropológica”, são um dos cernes da potente poesia zanzottiana.

 

Tag's: Andrea Zanzotto, literatura, Patricia Peterle, poesia, poesia italiana

  • “A morte não deveria ser um espetáculo em nenhuma circunstância”

    por Rosângela Chaves em Dedo de prosa

  • Cinco poemas de Laura Pugno

    por Luís Araujo Pereira em Florações

  • Certo bar

    por Luís Araujo Pereira em Espirais

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

1 comentários em “Cinco poemas de Andrea Zanzotto”

  1. Maria Aparecida disse:
    27 de setembro de 2021 às 10:35

    Lindíssimos. Pena que só eram 5. Li, li de novo e sigo com vontade de ler.mais.

    Responder

Deixe um comentário (cancelar resposta)

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

ERMIRA
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter