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Foto: Divulgação
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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 24 de abril de 2022

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
24/04/2022 em Florações

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Cinco poemas de Maya Angelou

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

Ode negra

Sua beleza é um trovão

E eu me tornei uma peregrina – uma peregrina

Atordoada

Latas caídas no beco ao anoitecer

E sons úmidos

“Ô, baby, veja o que conseguiria se seu nome

       fosse Willie”

Oh, mergulhar nas suas palavras como no rapé.


Uma gargalhada, negra e estridente

E eu sou um ser – um ser

Inteiro

Nos corredores da Igreja Batista, gemidos

e sons úmidos

“Abençoe o coração dela. Toma o seu leito e anda.

Você esteve muito sobrecarregada”

Oh, vou lamber seu amor como lágrimas.

Just Give Me a Cool Drink of Water (1971)

• • •


[2]

Desfile de moda antigo

Seus cabelos, modelados, rostos exaustos

ossos salientes, na altura dos quadris,

as modelos desfilavam, suportadas e enfezadas

e depois, faziam biquinhos com os lábios.


Elas tinham um jeito nojento, ostentado como um banner,

enquanto olhavam de cima a baixo, na altura do nariz.

Eu iria para o inferno antes que me vendessem

qualquer coisa que elas vestiam.


Toda a Burguesia Negra diz: “vamos”

quando “bora” é o que querem dizer,

deveria olhar em volta, para cima e para baixo,

antes de ficarem se achando.


“Certamente”, eles juram, “é isso o que eu vou vestir

quando for ao clube de campo”.

Eu os lembraria: por favor, olhem esses joelhos,

ralados de esfregar o chão da patroa.

Juste Give Me a Cool Drink of Water (1971)

• • •


[3]

Canção para meus velhos

Meus Pais se sentam em bancos

      suas carnes contam cada paulada

      as ripas deixam entalhos escuros

bem fundo nos seus flancos murchos.


Eles acenam como velas quebradas

       encerados e queimados profundamente

       e dizem “É a compreensão

que faz o mundo girar.”


Nos seus rostos enrugados

       eu vejo o palanque do leilão

       as correntes e as filas de escravos

o chicote, o açoite e o tronco.


Meus pais falam em vozes que

       trituram minha verdade e

       dizem “É a nossa submissão

que faz o mundo girar.”


Eles usaram a maior astúcia

       inteligência e artimanha

       a humildade do Tio Tomming

e os sorrisos da Tia Jemima.


Eles riam para esconder o choro

       abreviaram os seus sonhos

       e carregaram um país no lombo

para escrever o blues com gritos.


Eu entendo o significado

       poderia vir e vem

       de viver à beira da morte

Eles mantiveram minha raça viva.

Oh Pray My Wings Are Gonna Fit Me Well (1975)

• • •


[4]

Glória do fim de semana

Alguns irmãos marrentos

não conhecem os fatos,

posam presunçosos

fingem importância,

esticando os pescoços

e forçando suas costas.


Se mudam para condomínios

de alto padrão,

penhoram suas almas

nos bancos locais.

Compram carros grandes

que não podem pagar,

e rodam pela cidade

fingindo tédio.


Se eles querem aprender como viver direito,

deveriam me analisar numa noite de Sábado.


Meu trabalho na fábrica

não é a maior aposta,

mas eu pago minhas contas

e fico fora das dívidas.

Eu arrumo meu cabelo

para meu próprio bem-estar,

para não ter que pentear

para não ter que desembaraçar.


Pego o dinheiro da igreja

e atravesso a cidade

até a casa da minha amiga

onde planejamos nosso rolê.

Encontramos nossos homens e vamos para um lugar

onde toque blues

no ponto certo.


Pessoas escrevem sobre mim.

Eles simplesmente não conseguem ver

como eu trabalho a semana inteira

na fábrica.

Então, me enfeito

e rio e danço

e dou as costas à preocupação

com um olhar atrevido.


Eles me acusam de viver

um dia após o outro,

mas quem eles querem enganar?

Eles fazem o mesmo.


Minha vida não é o paraíso,

mas certamente não é o inferno.

Eu não estou no topo,

mas eu acho que tá tudo bem

se eu sou capaz de trabalhar

e sou paga em dia

e tenho a sorte de ser Negra

num Sábado à noite.

Shaker, Why Don’t  You Sing? (1983)

• • •


[5]

Pastor, não me envie

Pastor, não me envie

quando eu morrer

para algum grande gueto

no céu

onde ratos comam gatos

do tipo leopardo

e o almoço de Domingo

sejam grãos e tripas.


Conheço esses ratos

já os vi matar

e com os grãos que eu comi

faria uma colina,

ou talvez uma montanha,

então o que eu preciso

de você no Domingo

é uma crença diferente.


Pastor, por favor, não

me prometa

ruas de ouro

e leite de graça.

Eu parei com todo o leite

aos quatro anos

e, quando estiver morta,

não precisarei de ouro.


Eu chamarei de paraíso puro

um lugar


onde as famílias forem leais

e os estranhos forem legais,

onde a música for jazz

e a estação for o outono.

Me prometa isso

ou não me prometa nada.

I Shall Not Be Moved (1990)

Perfil

Maya Angelou, pseudônimo de Marguerite Annie Angelou, nasceu em 4 de abril de 1928, em St. Louis, no Missouri, e morreu em 28 de maio de 2014, em Winston-Salem, na Carolina do Norte. Sua vida foi surpreendente: poeta, prosadora, jornalista, cantora, atriz, bailarina, cozinheira, prostituta, motorista de bonde. Todas essas vivências levaram-na a escrever sete livros autobiográficos, nos quais, entre memória e ficção, trata de racismo, viagens, questões identitárias e familiares. Foi indicada ao Prêmio Pulitzer e três vezes ao Grammy. Na infância, sofreu abuso sexual, o que lhe causou um trauma extenso, a ponto de ficar cinco anos com mutismo. Tornou-se uma respeitada porta-voz da comunidade negra, e sua obra pode ser considerada uma defesa da cultura afro-americana. Como cantora, viajou por 22 países da Europa apresentando a ópera Porgy and Bess. Atuou ainda em várias peças na Broadway. Com Godfrey Combridge, escreveu Cabaret for Freedom. Na condição de ativista dos direitos civis, aproximou-se de Marthin Luther King. Recebeu apoio de James Baldwin quando escreveu sua primeira autobiografia, I Know Why Caged Bird Sings (1969), que teve indicação para o National Book Award em 1974. Em 1977, mereceu uma indicação ao Emmy por sua atuação em Roots. Embora sem diploma universitário, foi convidada para ser professora de Estudos Americanos na Universidade de Wake Forest, situada na Carolina do Norte. Em 1983, na cerimônia de posse de Bill Clinton, leu o poema “On the Pulse of Morning”. Em 1998, marcou sua estreia como diretora do filme Down in the Delta. Por conta de sua amizade com Oprah Winfrey, foi apresentadora de um programa de rádio. Em 2000, recebeu a Medalha Nacional das Artes, concedida pelo presidente Bill Clinton. Foi autora ainda de livros infantis, artigos e ensaios. Teve um filho aos 17 anos e foi casada duas vezes. Viveu no Cairo e em Acra, onde editou o jornal The Arab Observer. A editora Austral Cultural, de Bauru (SP), publicou em 2020 Maya Angelou – Poesia completa, com tradução de Lubi Prates, do qual foram selecionados os poemas que integram esta coluna.

 

Tag's: Maya Angelou, poesia, poesia afro-americana, poesia norte-americana

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1 comentários em “Cinco poemas de Maya Angelou”

  1. Juliana Wu disse:
    24 de abril de 2022 às 15:31

    Agradecida por divulgarem tão importante trabalho, pessoa, mulher de resistência, como eu, minha mãe, minha avó.

    Responder

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