[Curadoria de Luís Araujo Pereira]
dispositivos & disposições dos senses do sul
OU
de onde vem o corpo novo
[1]
retrogosto
do lado de cá papila suspeita:
onde é wild o ripe abocanha,
autóctone
nas florestas e periféricos
é sumo o afrobeat
é mulher a seiva dos guts;
nos lugares quentes
línguas frescas provam fósseis
o carbono up to date dos palimpsestos
nas partes baixas o texto-carne
range sob bites
• • •
[2]
algures, alhures
sob monções a audição
trepida entre súbitos
átimos
intermitentes;
o hemisfério emite atonal seus polifônicos
o tino pulsa em coro,
reverbera:
nos estrondos os silenciamentos, as afasias;
nos murmúrios os traumas mais díssones
claves destemperadas abrem labirintos
e ao som do sal ossos zunem
• • •
[3]
melanina
na derme trópica a tática:
folículos cinegéticos rastreiam
o relevo do gráfico
a espessura das pronúncias
a mornidão da ergonomia
da trama sulcovoz
nos rincões nossas texturas
vascularizam linhagens;
nos litorais
– à flor da pele –
latejamos diásporas
nos climas tenros
germina na nervura
denso verbo-raiz
[sonham em nuvens os dedilhados nômades]
• • •
[4]
globo de oraculares agenciamentos,
tecnótica de calculada intuição
down under é obsceno:
con una candela desnudamos
o útero das genealogias
as vergonhas das regras
em pelo os artifícios transfulguram,
a íris colorida em modo search
(de esgueio a mirada da microfísica;
enviesado o bem-visto do desmedido)
de ponta-cabeça,
é glimpse o contingente em jogos de escala
• • •
[5]
catuaba com pequi
ruas tórridas fermentam
castas carbonárias
– são olorosas as glândulas subversivas,
fragrante o insuflado do faro
miscigenadas pólis exalam aire de trânsito:
faunas caçando flow entre
eflúvios do mato, tribos voláteis, insurrectos varietais
nesses habitats amor é cheiro
(exuberância é tiro no retronasal)
Perfil
Kamilly Barros nasceu em Brasília em 1978 e vive em Goiânia desde 1992. Cursou licenciatura e bacharelado em História na Universidade Federal de Goiás (UFG). Na mesma instituição, concluiu mestrado com estudo sobre Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, e, em seguida, doutorado com pesquisa sobre o Teatro completo (1967-1979), de Hilda Hilst. De 1995 a 1996, estudou na Nova Zelândia. Atua no magistério como professora de história e inglês. Publicou em 2021 o livro emissões, de poesia, pela editora paulista Absurtos. Publicou poemas nas seguintes coletâneas: Poesia libertadora (organizada por Rose Almeida, Absurtos, 2019); Ruínas (Patuá, 2020); A pausa é quando não dói e Peripatê (edições artesanais com base em oficinas de Tatiana Nascimento e Cássia Fernandes, na feira e-cêntrica, de 2020, promovida pela Nega Lilu Editora); tec tec tec tec tic tic (Nega Lilu, 2022, Selo Naduk); Sala de espelhos: Poetas e poemas (organizada por Chris Resplande, 2022). Tem ainda poemas publicados na Revista Brasileira de Estudos da Homocultura (Rebeh), periódico vinculado à Universidade Federal do Mato Grosso, e no jornal Justina, do coletivo Goiânia Clandestina. Começou a dedicar-se à prosa em 2022, com um conto-crônica sobre o escritor Miguel Jorge publicado no site da União Brasileira de Escritores, da qual é associada. Integra ainda a antologia de contos Ka Lima (Nega Lilu, 1922).