Um quase livro infantojuvenil. Há a intenção de mirar os leitores adolescentes, “as crianças dos domingos”, como sugere o escritor Luís Araujo Pereira na dedicatória de sua nova coletânea de poesias. Mas Garatujas vai além ? tateando um público que ele acha difícil de conquistar, acaba alcançando todos, indistintamente.
Muito disso decorre do estilo já consolidado do poeta, também cronista, contista e colunista de ERMIRA. Em 36 poemas, Garatujas (Cânone Editorial), que tem tarde de autógrafos neste sábado (1º) na livraria Nobel do shopping Bougainville, em Goiânia, serve de iniciação à leitura poética dos mais jovens, mas também vai exigir deles uma busca, um caminho de leituras e referências já percorrido pelos adultos.
“O termo ‘garatujas’ remete a uma forma de escrita ou desenho que é própria de quem está se iniciando no universo gráfico. Com isso, o título procura expressar a minha dificuldade e o meu cuidado de escrever para o público denominado infantojuvenil”, diz Luís Araujo sobre suas preocupações na feitura dos poemas, escritos entre 2008 e 2014, todos apenas numerados, sem títulos. As ilustrações do irmão, Laerte Araújo Pereira, dialogam livremente com os textos.
Com a mesma leveza observada em seus livros poéticos anteriores, o autor brinca mais agora com as palavras e com as coisas da vida, algumas até comezinhas (“Hoje, meu bem, nada de poesia / Aujourd´hui, é você quem lava as vasilhas” – Poema 32). É onde o jovem leitor encontrará melhor eco. Fluidos, os textos, no entanto, estão ali para mais do que contemplar, eles vão guiando o leitor para referências mil, sempre salpicadas de humor, ironia e picardia.
“O termo ‘garatujas’ remete a uma forma de escrita ou desenho que é própria de quem está se iniciando no universo gráfico”
Dos gêneros literários que exercita, Luís Araújo se diz mais à vontade na poesia, por onde começou (com Ofício Fixo, lançado em 1968). Contos e crônicas vieram depois, num misto de experimentação e necessidade. No primeiro para exercitar a criação de histórias curtas e no segundo pela imposição do ofício em jornal (de 2002 a 2014, ele foi cronista do caderno Magazine, do jornal O Popular).
Catarse
Qual desses gêneros seria mais ou menos catártico ao autor? “A catarse é natural em qualquer atividade artística, sobretudo quando nos deparamos com a conclusão bem-sucedida de uma obra que, no início, representou um desafio à habilidade do realizador, seja pelo seu grau de dificuldade, seja pela ‘novidade’ obtida”, responde.
Garatujas chega num momento de certo espanto no mercado literário nacional, com livros de poesia fazendo relativo sucesso nos últimos anos, a bordo de reedições de Paulo Leminski, Carlos Drummond de Andrade, manutenção de boas edições de Chacal, Glauco Mattoso e até resgate de autores desconhecidos do grande público, como Ana Cristina César, homenageada da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) neste ano.
“Eu não tenho teoria para explicar a posição da poesia hoje na sociedade brasileira, mas sei que ela é importante, se não, não estaria escrevendo sobre ela. E para ser valorizada e mais apreciada só é preciso uma ação: programas educacionais que valorizem a leitura”, comenta Luís Araujo, ilustrando o interesse frequente que a poesia desperta. “Aqui mesmo, em Goiânia, a Martelo Casa Editorial tem uma coleção exclusiva para poesia, chamada de cabeça de poeta”, cita.
Assim, entre as frestas de mercado e a volatilidade e a dispersão intolerante do “Tribunal do Facebook” de que fala o músico Tom Zé, Luís Araujo devota à escola, professor que é, a mudança desse quadro, com ampliação da poesia no bojo do fomento da literatura de forma ampla e irrestrita não só para os jovens. “Acho que a escola tem essa resposta. Hoje, todos somos prisioneiros da mediocridade dos meios de comunicação social e da banalidade das redes sociais”, conclui.
Confira alguns poemas de Garatujas e ouça a interpretação do ator Newton Murce de versos do autor em http://ermiracultura.com.br/2016/09/29/cinco-poemas-de-luis-araujo-pereira/
Lançamento do livro: Garatujas, de Luís Araujo Pereira
Data: sábado (1º de outubro), das 16 às 18 horas
Local: Livraria Nobel (shopping Bougainville, Rua 9, nº 1855, Setor Marista, Goiânia)